Veja como a Rainha Vitória reconstruiu a monarquia britânica

Ela assumiu o trono em meio a pedidos para substituir a realeza por uma república. Mas a Rainha Vitória manteve o poder por meio de reformas ambiciosas e políticas imperialistas, e seu legado perdura até hoje.

Por Erin Blakemore
Publicado 10 de abr. de 2021, 08:00 BRT

No século 19, a Rainha Vitória supervisionou a expansão do Império Britânico — que viria a cobrir um quinto da superfície da Terra até o final desse século — e fez reformas essenciais à monarquia. Seu legado foi tão histórico que o período em que ela reinou é hoje conhecido como a Era Vitoriana.

Foto de Hi-Story, Alamy

A Rainha da Fome. A Viúva de Windsor. Avó da Europa. Rainha Vic. No século 19, a Rainha Vitória ganhou todos esses apelidos e mais — tributos da influência duradoura de seu reinado de 64 anos (1837-1901) sobre o Reino Unido.

Durante o período hoje conhecido como a Era Vitoriana, ela supervisionou a expansão industrial, social e territorial de sua nação e se tornou conhecida como uma criadora de tendências, que renovou as posturas europeias em relação à monarquia. Estima-se que uma em cada quatro pessoas na Terra eram súditas do Império Britânico ao fim de seu governo. Quando Vitória assumiu o trono, entretanto, a monarquia britânica era amplamente impopular.

Ascensão ao trono

Vitória foi o produto de uma crise na sucessão da família real da Inglaterra, que ocorreu quando a princesa Charlotte, que presumia ser a sucessora do rei George, morreu no parto, juntamente com seu filho. Os irmãos de Charlotte — todos eles solteiros e que deram má fama à monarquia com seus gastos esbanjadores e vidas pessoais bagunçadas — correram para produzir um herdeiro. Um desses irmãos, Eduardo, casou-se às pressas com uma princesa alemã viúva e foi o primeiro a ter um herdeiro. Alexandrina Victoria, nascida em 1819, era a sucessora direta da coroa.

As intrigas do palácio lhe deram uma infância miserável. O pai de Vitória morreu quando ela era criança, e sua ambiciosa mãe aliou-se ao traiçoeiro Sir John Conroy, um membro da casa real que aproveitou a chance de ganhar poder e influência por meio da futura rainha. Ele criou o que ficou conhecido como “o sistema Kensington”, um elaborado conjunto de regras que isolava a jovem princesa no Palácio de Kensington e o colocava no controle de sua educação e criação. Projetado para manter Vitória dependente e leal à sua mãe e a Conroy, o sistema resultou em uma infância infeliz — e em um crescente ressentimento.

Vitória se libertou em 1837, quando completou 18 anos e subiu ao trono. Assim que se tornou rainha, ela baniu Conroy da corte e marginalizou a mãe. Em 1840, casou-se com seu primo Albert, um príncipe alemão. Foi um casamento por amor genuíno — ela escreveu que sua noite de núpcias foi uma “felicidade inacreditável” — e eles tiveram nove filhos.

A rainha Vitória e seu marido, o príncipe Albert, eram patrocinadores das artes — incluindo o campo florescente da fotografia. Eles encomendaram imagens para documentar a vida no palácio e, em 1854, chegaram a recriar seu casamento para uma fotografia.

Foto de Roger Fenton, Getty

O início do reinado

No início de seu reinado, Vitória foi fortemente influenciada por Lorde Melbourne, o primeiro-ministro, e Albert, que era seu conselheiro político mais próximo e que alguns historiadores acreditam ter sido “rei de tudo, exceto pelo título”. Juntos, eles buscaram seguir uma agenda de modernização e estabilidade em uma era de turbulência política. A reputação da monarquia tinha sido seriamente manchada pelos predecessores de Vitória, e a população britânica clamava para substituir a monarquia por uma república. Na Irlanda, a fome da batata, entre 1845 e 1852, fez o povo se rebelar abertamente.

Junto com seu marido, Vitória enfrentou esses desafios de forma corajosa, trabalhando para fortalecer a posição da monarquia na Inglaterra e em toda a Europa, onde também havia uma aversão crescente pela realeza, que esperava que o povo pagasse a conta de seu estilo de vida luxuoso. Por outro lado, Vitória expandiu o papel público dos monarcas, apoiando instituições de caridade, as artes e a reforma cívica para provar que a realeza britânica valia o que custava. O resultado disso foi que a rainha e sua crescente família se tornaram celebridades amadas e influenciaram a cultura popular, apresentando um pouco de tudo à Inglaterra, desde vestidos de noiva brancos até árvores de Natal.

Em 1861, a tragédia acometeu a rainha, quando Albert morreu aos 42 anos. Vitória ficou arrasada e entrou em luto profundo. Ela usou roupas pretas pelo resto de sua vida e passou anos afastada dos olhos do público. O movimento republicano cresceu durante seu isolamento, e ela foi criticada devido à sua ausência da vida pública.

Fotos antigas da realeza de países ao redor do mundo

Os anos finais

Vitória retomou suas atividades públicas no fim da década de 1860. Os últimos anos de seu reinado foram amplamente dedicados a promover a paz na Europa, além de expandir e consolidar seu enorme império político. Ela se tornou Imperatriz da Índia em 1877 e influenciou as relações exteriores com os países mais próximos da Inglaterra por meio de seus filhos e netos, muitos dos quais se casaram com a realeza europeia.

No início de sua monarquia, a Grã-Bretanha era vista em grande parte como uma potência comercial. Mas sob o reinado de Vitória, tornou-se um forte império e a nação mais poderosa do mundo, crescendo em quase 26 milhões de quilômetros quadrados e 400 milhões de pessoas durante o século 19. Essas conquistas tiveram um alto preço: a Inglaterra esteve em guerra quase constantemente durante o reinado de Vitória, e o colonialismo praticado em seu nome envolvia dominação brutal.

Embora Vitória fosse popular, seus súditos ainda pressionavam por reformas na monarquia. Finalmente, isso levou a uma erosão do poder político direto dos monarcas, à medida que o povo britânico comum conquistou o direito ao voto, o voto secreto e outras reformas políticas na segunda metade do século 19.

Legado

Na época de sua morte, em 1901, Vitória tinha se tornado uma instituição, conhecida por sua força de vontade e pelo vasto império que governava. O Império Britânico cobria um quinto da superfície da Terra e havia se tornado a maior superpotência da época.

As tentativas de Vitória de apoiar as monarquias europeias por meio do casamento de seus familiares trouxeram paz a curto prazo, mas plantaram as sementes de alguns dos conflitos mais destrutivos do século 20. No início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, seus netos se voltariam uns contra os outros.

Embora o colonialismo implacável de seu império e a guerra devastadora que ela ajudou a semear, sem aviso, agora lancem uma sombra sobre o reinado de Vitória, ela acreditava que o poder e a prosperidade britânicos eram essenciais. Como relatado pela então rainha em 1899: “Não estamos interessados nas possibilidades de derrota; elas não existem.” Para uma mulher nascida para governar, não havia espaço para dúvidas quanto ao seu destino histórico — ou quanto ao poder do império construído em seu nome.

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