O que os animais selvagens fazem em caso de incêndio?

Grandes incêndios florestais podem acabar com a vida de várias espécies. Algumas, contudo, geralmente conseguem escapar, enquanto outras até prosperam.

Por Sarah Zielinski, Elaina Zachos
Publicado 3 de ago. de 2018, 12:11 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Vaca caminha pelas chamas no incêndio Rim, perto do Parque Nacional de Yosemite em Groveland, Califórnia.
Vaca caminha pelas chamas no incêndio Rim, perto do Parque Nacional de Yosemite em Groveland, Califórnia.
Foto de Noah Berger, Epa

Neste momento, dezenas de incêndios florestais assolam o planeta. No início do mês, o fogo surgiu na Grécia e o calor e condições de seca constantes durante o verão prepararam o terreno para incêndios na Suécia, Noruega, Finlândia, Espanha e Inglaterra. Na América do Norte, estados como Califórnia, Oregon e Alasca vêm reportando chamas persistentes e letais que já incendiaram milhares de hectares de terra apenas este ano.

Hoje, incêndios florestais no norte da Califórnia traçam um caminho de destruição. O incêndio Carr, na cidade de Redding, situada a quase 260 quilômetros de Sacramento, causou diversas mortes e destruiu centenas de edifícios. Mas, para algumas espécies silvestres que evoluíram para conviverem com o fogo, o cenário não é tão drástico.

Nesta região, “a vida selvagem tem um longo relacionamento com os incêndios”, diz o ecologista de ecossistemas Mazeika Sullivan, da Universidade Estadual de Ohio, em uma entrevista. “Incêndios são uma parte natural deste cenário”.

Muitos animais tem a habilidade de fugir do calor. Pássaros podem escapar voando, os mamíferos podem correr, e os anfíbios e outras pequenas criaturas se enterram sob o solo, se escondem em troncos ou se protegem sob as pedras. E outros animais, incluindo espécies grandes como o alce, refugiam-se em riachos e lagos.

O surpreendente lado positivo

Gabriel d'Eustachio, bombeiro florestal na Austrália, disse em 2014 ter testemunhado um movimento em massa de pequenos invertebrados fugindo das chamas. “Você é ultrapassado por essa onda de criaturas fugindo do fogo”, contou. 

Incêndios podem beneficiar predadores que caçam os animais em fuga. Ursos, guaxinins e aves de rapina, por exemplo, já foram vistos caçando animais que tentavam escapar das labaredas. Algumas pesquisas sugerem que diversas espécies de aves podem até ajudar a propagar os incêndios na Austrália, uma vez que, ao fazerem isso, eles podem desentocar pequenos animais para comer.

“Em situações de curto prazo”, como quando os animais fogem do fogo, diz Sullivan, “há sempre os vencedores e os perdedores”.

Um incêndio moderado em áreas onde sua ocorrência é natural também pode aumentar a “irregularidade” das florestas, criando uma maior variedade de micro-habitats, de campinas abertas a florestas em recuperação, mostra uma pesquisa. Ter uma diversidade de biomas oferece suporte para diversas espécies de animais e para o ecossistema como um todo.

Os pesquisadores não têm uma boa estimativa da quantidade de animais que morrem em incêndios florestais todos os anos. Mas não há nenhum caso de incêndio registrado, até mesmo os mais graves, que tenha dizimado toda uma população ou espécie.

É claro que alguns animais morrem na fumaça e nas chamas, aqueles que não conseguem fugir rápido o suficiente ou encontrar abrigo. Animais jovens e pequenos estão especialmente em risco. E algumas de suas estratégias para escapar podem não funcionar. O instinto natural de um coala de subir em uma árvore, por exemplo, pode deixá-lo encurralado.

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    Um coiote atravessa a Rodovia U.S. 120, fechada devido ao incêndio Rim perto de Groveland, Califórnia.
    Foto de Noah Berger, Epa

    O calor também pode matar, até mesmo organismos enterrados profundamente no solo, como os fungos. Jane Smith, micologista do Serviço Florestal dos Estados Unidos em Corvallis, Oregon, já mediu temperaturas que chegavam a 700 graus Celsius debaixo de toras em chamas durante um incêndio, e 100 graus Celsius a cinco centímetros abaixo da superfície.

    Nuvens de fogo

    Os incêndios florestais da Califórnia afetam mais do que apenas a vida orgânica. Temperaturas especialmente altas estão formando novas nuvens, chamadas de pirocúmulo, ou nuvens de fogo. Criado normalmente pela erupção de vulcões, um pirocúmulo se forma rapidamente quando o calor queima a umidade na vegetação, que adere às partículas de fumaça e condensa ao subir. Tais gigantes cinzentos são repletos de fumaça e cinzas, e podem chegar a oito quilômetros de altura.

    Em alguns casos, as nuvens de fogo contêm umidade suficiente para provocarem uma forte chuva que extingue o fogo. Mas, na Califórnia, as nuvens estão dificultando o combate aos incêndios. As nuvens de fogo podem causar mudanças súbitas e drásticas de temperatura, o que pode criar fortes ventos imprevisíveis que espalham as chamas do incêndio.

    Agentes da mudança

    Regiões naturais como florestas e planícies crescem e mudam sua composição naturalmente com o tempo. Uma floresta de um ano terá um conjunto diferente de plantas e animais vivendo nela de uma floresta de 40 anos. Interferências como um incêndio florestal podem servir como um botão de reconfiguração, possibilitando que uma floresta antiga renasça, diz Patricia Kennedy, bióloga da vida selvagem na Universidade Estadual de Oregon, em Union. E “muitas espécies precisam desta reconfiguração”.

    O que ocorre exatamente após um incêndio depende do terreno, da gravidade do incêndio e das espécies envolvidas. Mas o evento sempre provoca uma sucessão de mudanças quando as plantas, micróbios, fungos e outros organismos recolonizam a área afetada. Com o envelhecimento das árvores e plantas, a luz e outras características mudam, e a composição de criaturas na área também muda como consequência.

    Riachos e outros corpos de água que correm por áreas queimadas também podem mudar.  O fluxo, turvação, composição química e estrutura da água podem ser alterados. Os peixes podem se mudar temporariamente e pode haver a extinção em curto prazo de invertebrados aquáticos, o que pode afetar os animais terrestres.

    “A água e a terra”, observa Sullivan, “estão extremamente conectados”.

    Deixar queimar?

    Muitas espécies realmente necessitam do fogo como parte de sua história de vida. O calor das chamas pode estimular alguns fungos, como o cogumelo Morchella, a produzirem esporos. Determinadas plantas se dispersam apenas após as queimadas. Sem o fogo, estes organismos não conseguem se reproduzir e tudo o que depende deles será afetado. (Relacionado: “Porque Estas Aves Carregam Chamas em seus Bicos”)

    Mesmo que incêndios possam ter resultados positivos inesperados para algumas espécies, chamas demais são ruins para a maioria. Desde o início da década de 1970, a temporada de incêndios florestais no oeste dos Estados Unidos aumentou de aproximadamente cinco para mais de sete meses. As mudanças climáticas elevam as temperaturas, fazendo com que a neve no topo das montanhas derreta, o que torna as florestas privadas de umidade mais suscetíveis ao fogo.

    Como Kennedy dizia, o fogo é algo ruim quando acontece no seu quintal. Mas, até certo ponto, pode ser um evento saudável para uma floresta, e para alguns dos animais que vivem nela.

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