Peso dos materiais produzidos por humanos já equivale ao peso de toda a vida na Terra

A quantidade de concreto, asfalto, metal e plástico na Terra está crescendo rapidamente. Este ano pode ser o marco do momento em que as coisas artificiais superam os seres vivos.

Por Maddie Stone
Publicado 8 de jan. de 2021, 08:00 BRT, Atualizado 11 de jan. de 2021, 10:34 BRT
Novo estudo afirma que o peso total de tudo o que o homem já produziu — ...

Novo estudo afirma que o peso total de tudo o que o homem já produziu — de pontes de concreto e edifícios de vidro a computadores e roupas — está prestes a ultrapassar o peso de todos os seres vivos do planeta.

Foto de McNair Evans, Redux

AMBIENTALISTAS FREQUENTEMENTE AFIRMAM que a humanidade precisa diminuir sua pegada planetária. Agora, um novo estudo literalmente demonstrou a magnitude dessa pegada.

Embora a massa das formas de vida na Terra seja de cerca de 1,1 trilhão de toneladas métricas e não tenha modificado muito nos últimos anos, a chamada “massa antropogênica” de materiais artificiais está crescendo exponencialmente. A massa de tudo que as pessoas construíram e produziram, desde pavimentos de concreto e arranha-céus de vidro e metal até garrafas plásticas, roupas e computadores, equivale agora a aproximadamente a massa de seres vivos na Terra, podendo superar esse número ainda este ano, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Nature.

A constatação pode reforçar o argumento de que a Terra entrou no Antropoceno, uma era geológica proposta em que os humanos são a força dominante que molda o planeta. De acordo com o autor sênior do estudo, Ron Milo do Instituto Weizmann de Ciências em Rehovot, Israel, o mundo está passando por uma transição material que “não apenas acontece uma vez na vida, mas uma vez em toda uma era”.

Embora essa percepção seja mais simbólica do que cientificamente significativa, a escala material do empreendimento humano ajuda a explicar como conseguimos transformar os ciclos globais de nutrientes, alterar o clima e levar uma miríade de espécies à beira da extinção.

Essa não é a primeira tentativa de avaliar o impacto da humanidade no planeta. Em 2016, uma equipe de cientistas estimou o peso da “tecnosfera”, incluindo não apenas edifícios e produtos totalmente artificiais, como também o peso aproximado do solo e do fundo do mar que escavamos, modificamos ou deslocamos para construção de cidades, cultivo de plantações, pecuária e atividades de pesca. O resultado obtido foi um valor de 30 trilhões de toneladas. Outros estudos recentes monitoraram mudanças apenas no mundo biológico, como a quantidade de carbono armazenado em plantas ou o número de galinhas no planeta.

Entretanto, de acordo com o conhecimento dos autores, não houve uma análise abrangente voltada para as mudanças no peso dos mundos artificial e biológico simultaneamente, mas sim de forma separada. Isso dificultou para que os cientistas realizassem uma comparação entre coisas semelhantes, como maçãs e maçãs ou coisas incomparáveis, como maçãs e iPhones.

Uma explosão de coisas

Para preencher essa lacuna de conhecimento, Milo e seus colegas reuniram diversos conjuntos de dados publicados anteriormente sobre a massa de materiais artificiais e formas de vida e traçaram uma linha do tempo de como os dois mudaram de 1900 até os dias atuais. A equipe obteve estimativas de massa antropogênica nos últimos 120 anos de trabalhos recentes no campo da ecologia industrial; dados de satélite e modelos de vegetação global forneceram informações históricas sobre as mudanças da biomassa global. As constatações foram dramáticas.

No início do século 20, a massa de coisas produzidas pelo homem pesava 35 bilhões de toneladas, ou cerca de 3% da biomassa global. Desde então, a massa antropogênica cresceu de modo exponencial para aproximadamente 1,1 trilhão de toneladas na atualidade. Agora está se acumulando a uma taxa de 30 bilhões de toneladas por ano, o que corresponde a cada pessoa na Terra gerando mais do que seu próprio peso em produtos manufaturados todas as semanas.

A maior parte desse material é concreto — o material de construção preferido da humanidade — seguido por cascalho, tijolos, asfalto e metais. Se as tendências atuais continuarem, esses materiais manufaturados pesarão mais do que o dobro de toda a vida na Terra em 2040, ou cerca de 2,2 trilhões de toneladas.

Aproximadamente 90% do mundo vivo em peso, entretanto, é composto por plantas, principalmente árvores e arbustos. Mas enquanto os humanos fabricam um número cada vez maior de materiais todos os anos, o peso das plantas da Terra tem se mantido relativamente estável, devido ao que os autores descrevem como uma “interação complexa” de desmatamento, reflorestamento e crescimento da vegetação estimulado pelo aumento dos níveis atmosféricos de dióxido de carbono.

Os resultados do estudo apresentam uma ilustração impressionante do impacto da humanidade de forma jamais vista antes, afirma Jan Zalasiewicz, professor emérito de paleobiologia da Universidade de Leicester que não participou do estudo.

De acordo com Zalasiewicz, “isso introduz uma outra perspectiva sobre a velocidade e a escala de transformação” da superfície da Terra pela humanidade. “É uma espécie de visão panorâmica da mudança.”

Impacto geológico

Essa visão abrangente pode alimentar o debate sobre a possibilidade de a atividade humana ter pressionado a Terra para entrar no Antropoceno, uma questão que está sendo investigada pelo Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno na Comissão Internacional de Estratigrafia, um comitê de especialistas que supervisiona a escala de tempo geológico da Terra.

Zalasiewicz, que presidiu o grupo de trabalho durante muitos anos, afirma que o novo artigo apoia o conceito de que o Antropoceno é “real no sentido físico”. A evidência física do Antropoceno agora é “bastante extensa”, segundo ele, e é provável que deixe uma marca clara no registro fóssil.

Embora a comparação da massa biológica com a massa produzida pelos humanos seja um indicador claro de nosso impacto, é importante observar que a biomassa da Terra também foi profundamente alterada pela humanidade. Como observa o estudo, pode ter havido duas vezes mais biomassa vegetal na Terra no início da revolução agrícola, há cerca de 12 mil anos, ou seja, antes que as pessoas começassem a devastar grandes áreas florestais para o cultivo da terra. Enquanto isso, os humanos e seu rebanho superam em peso todos os mamíferos e pássaros selvagens da Terra em um fator de quase 20.

E com quatro bilhões de toneladas, a massa de todos os animais da Terra juntos agora é apenas metade da massa da quantidade de plástico que já foi produzida (mais de oito bilhões de toneladas).

Milo afirma que essas mudanças na massa e composição da biosfera da Terra são “outro aspecto dos impactos da humanidade” que demonstra nosso “efeito drástico”.

Erle Ellis, cientista ambiental da Universidade de Maryland, no condado de Baltimore, afirma que o novo artigo fornece um “ótimo conjunto de ilustrações” do impacto da humanidade. Porém, segundo ele, não podemos datar com precisão quando a massa viva e a massa produzida pelos humanos na Terra chegará a um ponto de intersecção, como o estudo procura fazer.

“Não se trata de uma questão de precisão científica, pois existem diversas maneiras de calcular números como esse e diversas incertezas em muitos desses números”, redigiu Ellis por e-mail.

Os autores também reconhecem as incertezas dos dados que dificultam afirmar quando, exatamente, a Terra será mais artificial do que biológica em massa. A autora principal Emily Elhacham afirma que a maior incerteza está na estimativa atual da biomassa vegetal. O estudo também pressupõe que a fração menor de biomassa animal e microbiana permaneceu constante ao longo do tempo, mas essa suposição talvez não seja confirmada por investigações futuras.

No entanto é improvável que o quadro geral mude, mesmo que os números finais mudem ligeiramente, afirma Zalasiewicz.

“Tenho certeza de que os números podem ser alterados por estatísticas diferentes”, continua ele. “Mas, em vista da escala da diferença entre o início do século 20, meados e final do século 20 e atualmente, início do século 21, é difícil saber como o padrão pode ser alterado.”

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