Por que a reciclagem é importante? 5 fatos que você precisa saber

O Dia Mundial da Reciclagem convida todos a pensar sobre esta alternativa de gerenciamento responsável de resíduos. Descubra por que a reciclagem é a chave para o desenvolvimento sustentável.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 24 de mai. de 2022, 11:14 BRT
O Centro de Reciclagem de Recursos Minato-ku em Tóquio, Japão, lida com diferentes tipos de categorias ...

O Centro de Reciclagem de Recursos Minato-ku em Tóquio, Japão, lida com diferentes tipos de categorias de reciclagem.

Foto de David Guttenfelder

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A reciclagem é, a rigor, um processo de transformação que utiliza várias técnicas – físicas, químicas e mecânicas – para obter novos materiais ou novas matérias-primas a partir de materiais que já foram utilizados e descartados, segundo Jordi Pon, coordenador Regional de Químicos, Resíduos e Qualidade do Ar do Escritório da América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Há, no entanto, uma confusão recorrente: reciclagem não é o mesmo que recuperação. Quando os resíduos são separados na fonte, em diferentes escalas, e recuperados, isso não significa necessariamente que esses materiais são reciclados. A reciclagem requer um processo de transformação que recoloca esses produtos no ciclo produtivo.

"O desperdício é uma falha de projeto que precisa ser resolvida", disse Verónica de la Cerda, gerente-geral da empresa chilena de tratamento e reciclagem de resíduos TriCiclos, em entrevista à National Geographic. A chave, segundo ela, é projetar e implementar soluções para reduzir o problema dos resíduos antes que eles sejam gerados, ou assegurar que eles tenham o destino mais circular possível, por meio de reutilização, devolução e reciclagem.

“A reciclagem talvez não seja a primeira, mas é uma das opções que temos para cuidar adequadamente do uso dos recursos naturais", diz de la Cerda. As pessoas podem e devem ser protagonistas ativas diante da crise climática. "Embora a solução não venha apenas por causa do que fazemos, ela não virá sem nós". A maioria dos produtos essenciais e cotidianos "fecha o ciclo mais efetivamente por meio da reciclagem, mas outros requerem reutilização ou outras ferramentas", completa.

Para de la Cerda, é essencial adotar hábitos sustentáveis e um primeiro passo é fazer o exercício introspectivo de analisar a forma como consumimos e usamos os produtos; pensando, acima de tudo, em como gerenciamos nosso impacto individual sobre o meio ambiente.

A reciclagem não é a solução completa, mas é um de seus componentes indispensáveis.

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    Estação de reciclagem no município de Talagante, Chile.

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    Foto de TriCiclos

    5 fatos que explicam por que é importante reciclar

    Aqui estão cinco fatos que ilustram a importância da reciclagem, com base em relatórios e documentos produzidos pelo Painel Internacional de Recursos (IRP), Banco Mundial, Organização das Nações Unidas (ONU), Fundação Ellen MacArthur, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e também os especialistas consultados Verónica de la Cerda, da TriCiclos, e Jaime Pon, do Pnuma.

    1. A reciclagem reduz o consumo de recursos naturais

    Nas últimas cinco décadas, a população mundial dobrou, o produto interno bruto quadruplicou e a extração anual de matérias-primas aumentou de 27 bilhões de toneladas para 92 bilhões de toneladas, de acordo com o relatório Global Resource Prospects, publicado em 2019 pelo IRP. 

    Ou seja, a extração de recursos triplicou desde 1970. Especificamente, o uso de minerais não-metálicos quintuplicou, e o uso de combustíveis fósseis aumentou em 45%.

    Diante da crescente exploração dos recursos naturais, Pon argumenta que a reciclagem de materiais é uma oportunidade para aliviar a pressão sobre a natureza. "Transformando materiais que são descartáveis e dando-lhes uma segunda chance em seu ciclo de vida, reduzimos a extração dos recursos naturais e, portanto, contribuímos para o primeiro R, ou seja, para reduzir", diz Pon, referindo-se aos três Rs da economia circular: reduzir, reutilizar e reciclar.

    "Não temos espaço infinito, nem a capacidade de absorver emissões no mundo para poder sustentar o modelo de descarte de produtos", diz de la Cerda, da TriCiclos. "Portanto, o que precisamos é que os recursos que extraímos durem e circulem nas cadeias de produção o máximo de tempo possível antes de decidirmos que não podem mais ser utilizados."

    2. A reciclagem pode reduzir as emissões de CO2 e diminuir o aquecimento global

    Cientistas de todo o mundo alertam há décadas sobre o perigo do aquecimento global e das mudanças climáticas provocadas pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE).

    O relatório do IRP adverte que a extração e o processamento de materiais, combustíveis e alimentos contribuem com metade das emissões de GEE.

    Das emissões globais de CO2, a indústria é responsável por aproximadamente 21%, e a produção de apenas quatro materiais (cimento, aço, plástico e alumínio) responde a 60% dessas emissões, segundo o relatório Completando a figura: como a economia circular ajuda a enfrentar a mudança climática, publicado em 2019 pela Fundação Ellen MacArthur.

    No documento, especialistas argumentam que a implementação de um modelo de economia circular em todo o planeta poderia reduzir as emissões globais de CO2 na área de materiais de construção em 38%, de acordo com as projeções para o ano 2050. Isso equivale a uma redução de 2 bilhões de toneladas de CO2, devido a uma diminuição na demanda de aço, alumínio, cimento e plástico. 

    Assim, a reciclagem contribui para reduzir as emissões de GEE, evitando a produção de novo material e o tratamento em fim de vida útil, como a incineração e o aterro sanitário.

    O relatório observa ainda que as atividades de reciclagem requerem menos energia do que a produção de materiais virgens. Por exemplo, a reciclagem do aço utiliza 10-15% da energia necessária na produção de aço primário.

    Além disso, a reciclagem de uma única tonelada de plástico poderia reduzir as emissões entre 1,1 e 3 toneladas de CO2, em comparação com a produção da mesma quantidade de plástico a partir de matéria-prima fóssil.

     "A reciclagem não só reduz as emissões do uso de energia, mas também os processos de produção, que são as emissões mais difíceis de serem enfrentadas", conclui o relatório.

    3. O fim do desperdício de alimentos poderia reduzir as emissões de CO2 em 49%

    O equivalente a seis caminhões carregados de resíduos alimentares comestíveis são jogados fora a cada segundo no mundo, e a maior parte acaba em aterros sanitários, onde é liberado metano à medida em que o lixo se decompõe, como explica o documento da Fundação Ellen MacArthur.

    "Quando falamos de reciclagem, muitas vezes pensamos em papel, vidro ou metal, mas na América Latina e no Caribe, os resíduos orgânicos representam 50% do total de descarte gerado", diz Jaime Pon, do Pnuma. "Se conseguirmos garantir que uma parte desses resíduos não vá parar no circuito de coleta, beneficiaremos o planeta.”

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    Adotando um modelo de economia circular, que inclui a compostagem (uma forma de reciclagem), "as emissões poderiam ser reduzidas em 5,6 bilhões de toneladas de CO2, o que corresponde a uma diminuição de 49% das emissões totais projetadas do sistema alimentar em 2050", segundo o documento da Fundação Ellen MacArthur.

    4. As lixeiras abertas poluem o solo e a água, além de causar doenças

    Pon estima também que 50% dos resíduos acabam em lugares errados e, desses, cerca de 25% vão parar em lixões abertos ou aterros sanitários. "[Ao reciclar], impedimos que o material vindo da natureza volte a ela de uma forma que não pertence a ela", diz Verónica de la Cerda, da TriCiclos.

    Esse problema global não é estranho à região. "Identificamos mais de 10 mil aterros sanitários na América Latina e no Caribe, os quais contaminam o solo, a água e as populações vizinhas", enfatizou Pon.

    Esses aterros podem conter milhões de toneladas de resíduos e ocupar mais de 100 hectares, de acordo com um artigo das Nações Unidas. A reciclagem ajuda a neutralizar essa situação e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida das pessoas e do planeta.

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      Os trabalhadores carregam materiais plásticos em uma esteira transportadora para serem lavados e triturados em uma instalação de reciclagem.

      Foto de Nyimas Laula

      5. A reciclagem gera empregos e melhora as condições de trabalho

      Um relatório conjunto da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal e do Escritório da OIT para o Cone Sul da América Latina abordou a relação entre reciclagem e emprego, dentro de uma estrutura mais ampla. "A evolução para uma economia circular – na qual a eficiência e a vida útil dos materiais é melhorada, promovendo a durabilidade e a capacidade de reparo, remanufatura, reutilização e reciclagem – geraria 4,8 milhões de empregos líquidos até 2030", diz o documento.

      Isso é possível porque a criação de empregos nos setores de reprocessamento de aço, alumínio, madeira e outros metais mais do que compensará as perdas de empregos associadas com a extração de minerais e outros materiais, esclarece o relatório.

      Entretanto, esse número aumenta se considerarmos o que a OIT chamou de empregos verdes, que inclui setores como eficiência energética, energia renovável, transporte e mobilidade sustentável.

      Se essas áreas de trabalho forem somadas, a OIT estima que 15 milhões de novos empregos poderiam ser gerados na região. Deve-se ter em mente que esses números cobrem apenas o chamado Cone Sul latino-americano (Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai). Portanto, os números seriam ainda mais altos quando levado em conta toda a América Latina e o Caribe.

      Entretanto, não se trata apenas de gerar emprego, mas também de proteger os trabalhadores. A OIT adverte em outro relatório que a degradação ambiental ameaça empregos e piora as condições de trabalho, especialmente entre as pessoas mais vulneráveis do mundo. "A sustentabilidade ambiental é uma questão de justiça social", afirma o documento.

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      Dia Mundial da Reciclagem

      Comemorado em 17 de maio, o Dia Mundial da Reciclagem foi estabelecido em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o gerenciamento adequado dos resíduos.

      A origem da ideia não é clara, embora as fontes consultadas concordem que tudo começou em 1994, com um evento de conscientização sobre a importância da reciclagem, realizado no Texas, Estados Unidos. A iniciativa acabou sendo replicada em outros estados do país.

      Pon acrescentou que o dia estabelecido pela Unesco "propõe uma reflexão para não contribuir para certos impactos – como as mudanças climáticas – que são produzidos por modelos inadequados de gestão de resíduos". 

      Gestão de resíduos 

      De acordo com as Perspectivas de Gerenciamento de Resíduos da América Latina e do Caribe (2018), elaboradas pelo Pnuma, cada latino-americano gera uma média de um quilo de resíduos por dia, enquanto a região excede as 541 mil toneladas por dia, o que representa cerca de 10% dos resíduos do mundo.

      Embora as grandes cidades atualmente recolham mais de 90% dos resíduos (o que não era o caso há algumas décadas), o que têm um impacto positivo na saúde, Pon aponta que cerca de 40 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe ainda não têm acesso a serviços básicos de coleta de resíduos.

      Para Pon, embora as políticas públicas tenham avançado com relação à gestão de resíduos, o problema central é que o modelo atual prevalecente ainda é o de usar e jogar fora. "Apesar das flutuações econômicas, a região vem experimentando um maior poder de compra, o que equivale a um maior consumo, pois ainda nos baseamos neste modelo", diz ele. Isso se traduz em maior produção de resíduos, o que significa que "estamos nos aproximando das taxas de geração da Europa ou da América do Norte". 

      O relatório do Pnuma projeta que a geração de resíduos continuará a crescer, e que em 2050 atingirá 671 mil toneladas, somente nos países incluídos no chamado Cone Sul.

      Economia circular: uma visão sistêmica que inclui a reciclagem

      Embora o Dia Mundial da Reciclagem seja comemorado desde 2005, muito mudou desde então. Hoje, a reciclagem é entendida como uma alternativa, uma ferramenta dentro de um modelo econômico emergente conhecido como economia circular.

      Para Verónica de la Cerda, a reciclagem deve ser imersa nessa nova visão que se opõe à de que os recursos naturais são infinitos. Para que os recursos retornem à natureza em estado regenerativo, é essencial projetar produtos biodegradáveis. 

      Todos esses princípios são a base da chamada economia circular, que, segundo de la Cerda, "é a resposta para poder continuar crescendo em um mundo limitado".

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        O aço é produzido a partir de sucata reciclada na siderúrgica da SSAB Americas localizada em Iowa, Estados Unidos. 

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        "O desperdício é um erro de projeto", diz ela, porque em um modelo de economia circular, o problema deve ser atacado pela raiz.

        "No momento em que projetamos algo, temos que pensar em fechar o ciclo, não podemos resolvê-lo depois. Assim, percebemos que muitos dos produtos que são colocados no mercado, especialmente no mundo das embalagens, foram projetados para acabar em aterros ou, no mínimo, não foram projetados para evitá-lo", explica de la Cerda. 

        "A economia circular vem para se concentrar na origem, projetando, por exemplo, produtos que contenham menos material, consumam menos energia e durem mais tempo", diz Jaime Pon.

        Nessa mudança de paradigma, a reciclagem é mais uma alternativa para que o consumidor desempenhe um papel de liderança no cuidado com o meio ambiente, mas também uma porta que se abre para outras mudanças de hábitos.

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