O que é a biodiversidade e como preservá-la?

O planeta abriga milhões de espécies e ambientes diferentes. Conservar a integração entre eles é essencial para a saúde humana e manutenção da vida na Terra.

Elefantes e gazelas pastam em um campo na Reserva Nacional Masai Mara, no Quênia.

Foto de Charlie Hamilton James
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 19 de jul. de 2022, 18:41 BRT, Atualizado 20 de jul. de 2022, 12:34 BRT

O que uma árvore na Floresta Amazônica, uma barreira de corais nos arredores da Austrália e uma revoada de águias na Cordilheira dos Andes têm em comum? Juntos, eles formam, justamente, a resposta para o que é biodiversidade. Animais, plantas e ambientes estão intrinsecamente conectados, e o ser humano não escapa dessa teia que garante a vida na Terra. Para esse equilíbrio ecológico delicado se manter em ordem, diversos fatores precisam estar em harmonia – entre eles o clima e a forma com a qual os seres vivos se relacionam entre si e com o ambiente.

É por isso que, quando se fala em biodiversidade, a proteção ambiental deve ser prioridade. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem diretrizes bem definidas sobre o tema. De acordo com a sua Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CBD, na sigla em inglês), preservar a diversidade biológica é fundamental, inclusive para a vida humana. “Desde o ar que a gente respira, a água e os alimentos que consumimos, até a energia que usamos, tudo depende de vários serviços que a natureza fornece e que são sustentados pela biodiversidade”, diz Mario Ribeira de Moura, biólogo, doutor em ecologia e pesquisador dos efeitos das mudanças globais na biodiversidade em entrevista à reportagem. 

Em outras palavras, não há como dissociar a existência da biodiversidade de sua proteção e manutenção. E, para isso, é preciso compreender toda a sua complexidade.

O que é biodiversidade e quais são seus níveis? 

A biodiversidade seria a “soma de todos os indivíduos de todas as formas de vida no planeta”, diz Moura. Mas isso não é tudo que o conceito abrange – ele também engloba a maneira pela qual as formas de vida interagem entre si e com o ambiente, as inter-relações, ou ecossistemas, nos quais a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras. 

As diretrizes da convenção da ONU também definem diferentes níveis de biodiversidade, já que o conceito é amplo. Ela pode ser dividida, então, em diversidade de espécies, genética e de ecossistemas. 

O que é diversidade de espécies  

A diversidade biológica no nível de espécies, segundo explica Moura, é entendida como sendo a grande variedade de plantas, animais e microorganismos. Em 2011, um estudo estimou que o total de espécies na Terra é de 8,7 milhões, com uma margem de erro de mais ou menos 1,3 milhões. Dessas, cerca de 6,5 milhões são terrestres e 2,2 milhões vivem nos mares e oceanos. Entretanto, somente cerca de 1,8 milhão foram identificadas, descritas ou catalogadas, o que significa que a humanidade conhece apenas 20% dos seres vivos da Terra.

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      Peça de uma exposição sobre biodiversidade do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

      Foto de Marcos Santos USP Imagens

      O estudo, financiado pelo programa Censo da Vida Marinha, seria, segundo os especialistas do projeto, o cálculo mais preciso já oferecido sobre o tema. O Censo é uma iniciativa global que agrega mais de 2,7 mil cientistas de 80 nações. Desde 2010, o programa colaborou com milhares de publicações científicas na área de biologia e na descobertas de mais de seis mil espécies. 

      Mas o número de animais e plantas na Terra pode ser ainda maior. “Outras estimativas assumem que pode haver até 100 milhões de espécies existentes no planeta. E, se for assim, isso significa que só conhecemos 1% dos seres vivos”, diz Moura, que, em 2021, publicou um artigo científico na revista Nature Ecology and Evolution mapeando locais mais propensos a abrigar biodiversidade não-descoberta. Com as mudanças climáticas, há grandes chances de não se descobrir sequer que animais foram extintos. 

      Por conta da crise do clima e de outros impactos ambientais causados pela ação humana, as dinâmicas fundamentais entre as diversidades estão sob ameaça. De acordo com essa mesma convenção da ONU, plantas, animais e demais organismos responsáveis pelo equilíbrio ambiental estão desaparecendo em uma taxa alarmante. Dados da organização apontam que espécies estão sendo extintas em até mil vezes acima da taxa natural. Atualmente, as tendências sugerem que cerca de 34 mil espécies de plantas e 5,2 mil de animais enfrentam a extinção. 

      Isso não se aplica só à biodiversidade silvestre. O documento da ONU também aponta que 30% das raças das principais espécies de animais de fazenda estão em alto risco de extinção e o desaparecimento delas resultaria em um enorme impacto na alimentação de milhares de pessoas. Não à toa, dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU – o 14 (vida marinha) e o 15 (vida terrestre) – colocam a preservação da diversidade biológica como prioridade. “Um dos maiores desafios hoje é fazer com que a humanidade entenda a importância da biodiversidade e lute por sua preservação", diz Moura. 

      O que é diversidade genética

      De acordo com Moura, o conceito de biodiversidade também inclui as diferenças genéticas entre os organismos. Por exemplo, só no Brasil são encontradas 15 raças de milho, sendo que entre elas há mais de 350 variedades diferentes, segundo um projeto realizado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos da Agrobiodiversidade (InterABio), associado à Universidade de São Paulo e em colaboração com a Universidade da República do Uruguai. O grupo, surgido em 2016, funciona como uma rede de pesquisa colaborativa que reúne pesquisadores, professores, técnicos, agricultores e estudantes com objetivo de promover a conservação, manejo e uso da agrobiodiversidade. O projeto que identificou as raças de milho contou com o trabalho de mais de 40 pesquisadores do Brasil e do Uruguai. 

      A diversidade genética, ou seja, as diferenças nos cromossomos, genes e DNA dos indivíduos (sejam eles plantas ou animais), determinam singularidades suficientes para distinguir uma espécie da outra. “Quanto mais diversificação genética, mais variados são os organismos, mesmo que eles sejam muito parecidos", diz Moura. "É por isso que existem tantas espécies diferentes de moscas, por exemplo, mesmo que todas sejam reconhecidas como moscas.”

      Ainda segundo o pesquisador, a variedade genética pode acontecer por mutações que organismos sofrem ao longo de sua existência ou quando indivíduos de uma mesma espécie são isolados dos demais. “São o que chamamos de formas de especiação", explica Moura. "Ou um grupo se isola tempo suficiente para virar outra espécie, ou mutações genéticas ao longo das gerações fazem isso. Os dois são processos que precisam de milhares de anos para acontecer."

      Confira estas imagens sobre a biodiversidade do Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre:

      O que é diversidade de ecossistemas

      Outro aspecto da biodiversidade é a quantidade de diferentes ecossistemas, como aqueles que podem ser encontrados em desertos, florestas, pântanos, montanhas, lagos, rios, paisagens agrícolas, oceanos e costeiros. A CBD define que, em cada ecossistema, os seres vivos (incluindo os humanos) formam uma comunidade, interagindo uns com os outros e com o ar, a água e o solo que os cercam.

      No planeta, existem mais de 430 ecossistemas, contando apenas os terrestres, segundo o mapa World Ecosystems (Ecossistemas do Mundo em tradução livre), desenvolvido pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos e pela The Nature Conservancy, uma organização internacional, sem fins lucrativos, que atua na conservação da biodiversidade e do meio ambiente.

      O mapa classifica o mundo em áreas de clima, relevo e cobertura do solo semelhantes, que formam os componentes básicos de qualquer estrutura de ecossistema terrestre. Tecnologia semelhante foi usada para produzir os primeiros mapas detalhados dos ambientes marinhos, agrupando o oceano global em 37 ecossistemas distintos.

      Por que a biodiversidade está ameaçada

      Essa enorme quantidade de espécies e ambientes diferentes que compõem a biodiversidade do planeta estão ameaçados devido a diversos fatores que compõem a atual crise ambiental, segundo informa a CBD da ONU. Alguns deles pressionam tanto os ecossistemas que podem levá-los para além dos pontos de inflexão (ou seja um ponto de não-retorno), em escalas regionais, e já até 2050. Entre eles, cinco são considerados os mais nocivos, como define o documento da ONU:

      • Poluição
      • Destruição de habitats
      • Introdução de espécies invasoras
      • Crescimento populacional desenfreado
      • Superexploração de recursos biológicos

      “As crises climática e ambiental estão intimamente ligadas à perda de biodiversidade. E a culpa é da incessante necessidade do ser humano de alterar a paisagem, seja para a construção de um prédio, de uma lavoura ou de um pasto”, diz Moura. “A degradação de habitat é de longe o impacto mais preocupante.”

      A CBD elenca dois exemplos de como esses fatores impactam o ambiente. O primeiro é a degradação dos recifes de coral devido a combinações de poluição, pesca destrutiva, espécies exóticas invasoras, acidificação dos oceanos e mudanças climáticas. A segunda é a perda do gelo marinho de verão no Ártico, também por conta do aquecimento global.

      Como preservar a biodiversidade

      Um relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) – órgão intergovernamental independente estabelecido em 2012 por 94 países com a missão de fortalecer a interface ciência-política para o uso sustentável da biodiversidade – coloca que a conservação da diversidade biológica do planeta só pode ser alcançada através de mudanças transformadoras. Entre as metas estão “cenários que explorem o crescimento baixo a moderado da população; mudanças na produção e consumo de energia; uso sustentável de alimentos, rações, fibras e água; metas internacionais de apoio, sustentando ações de povos originários e comunidades a nível local, investimento e políticas estratégicas que possam ajudar a sustentabilidade local, nacional e global”, detalha o relatório.

      Além de uma mudança de paradigma, ações individuais também podem fazer a diferença, de acordo com a CBD. O cidadão é o tomador de decisão final para a conservação da biodiversidade. “As pequenas escolhas que as pessoas fazem somam um grande impacto porque o consumo pessoal impulsiona o desenvolvimento que, por sua vez, usa e polui a natureza”, informa a página oficial da Convenção das Nações Unidas.  

      “O consumo de proteína animal, principalmente carne bovina, incentiva demais a degradação ambiental pelo modelo de produção que a agropecuária segue”, diz Moura. “Muitos países, como o Brasil e os Estados Unidos, têm mais cabeças de gado que cidadãos. Isso se traduz em áreas desmatadas cada vez maiores para a criação desses animais. Isso sem contar o tanto de gás metano que eles emitem.”

      Ao escolher cuidadosamente os produtos que compram e as políticas governamentais que apoiam, as pessoas são capazes de orientar o mundo para o desenvolvimento sustentável, reitera as diretrizes da CBD. O documento também coloca o dever e a responsabilidade de liderar, bem como de informar governos e empresas, tanto do setor privado como público. Os dois caminhos, portanto, se complementam, pois as escolhas individuais, feitas bilhões de vezes por dia, têm um grande impacto no planeta para proteger a biodiversidade que ainda estamos conhecendo.

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