Por que se comemora o Dia da Terra?

A data estabelecida pelas Organização das Nações Unidas alerta para a necessidade de se viver em harmonia com a natureza.

Por Redação National Geographic
Publicado 20 de abr. de 2022, 16:52 BRT, Atualizado 9 de abr. de 2024, 19:00 BRT
Uma girafa macho se alimenta de uma acácia no Quênia. Segundo relatório de 2021 do Painel ...

Uma girafa macho se alimenta de uma acácia no Quênia. Segundo relatório de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as mudanças ambientais irão aumentar e acelerar nas próximas décadas devido à expansão das atividades humanas e aos desalinhamentos temporais dos sistemas da Terra.

Foto de Charlie Hamilton James

Em 21 de dezembro de 2009, a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) determinou que o Dia Internacional da Mãe Terra, mais conhecido como Dia da Terra, seria celebrado todo 22 de abril.

Nessa declaração, os países signatários expressaram preocupação com a degradação ambiental e os impactos negativos na natureza resultantes da atividade humana e convidaram "a fazer uso, conforme apropriado, do Dia Internacional da Terra para promover atividades e trocar opiniões e visões sobre condições, experiências e princípios para viver em harmonia com a natureza".

No programa da ONU "Harmonia com a Natureza", a Assembléia Geral reconhece que "o esgotamento dos recursos naturais do mundo e a rápida degradação ambiental são resultado de padrões insustentáveis de consumo e produção, que tiveram consequências adversas tanto para a Terra quanto para a saúde e o bem-estar geral da humanidade".

Desde então, uma série de resoluções têm sido adotadas para considerar diferentes perspectivas para a construção de um novo paradigma não-antropocêntrico, "no qual a base fundamental para a ação certa e errada em relação ao meio ambiente não se restrinja apenas às preocupações humanas".

Como surgiu a ideia do Dia da Terra?

O ex-senador norte-americano Gaylord A. Nelson, conhecido por sua defesa ambiental e ativismo em nome do planeta durante os anos 1960, foi o principal promotor da resolução 64/196 da ONU. 

No livro "Beyond Earth Day "(Além do Dia da Terra em tradução livre), os autores Susan Campbell e Paul Wozniak descrevem Nelson como o fundador do movimento ambiental moderno e criador de uma das mais bem sucedidas e influentes campanhas de conscientização pública empreendidas em nome da administração global: o Dia da Terra

No prefácio, o ativista ambiental Robert Francis Kennedy (sobrinho do ex-presidente americano assassinado John Kennedy) afirma que a liderança de Nelson levou 20 milhões de norte-americanos (ou 10% de população do país) para as ruas, na maior manifestação da história dos Estados Unidos, em 22 de abril de 1970.

Kennedy lembra que os manifestantes "exigiram que líderes políticos devolvessem ao povo seus antigos direitos ambientais". Foi, sem dúvida, um evento sem precedentes na história norte-americana.

"Naquela extraordinária demonstração de poder popular, republicanos e democratas trabalharam juntos e aprovaram 28 grandes leis durante os dez anos seguintes, a fim de proteger o ar, a água, as espécies ameaçadas, os pântanos e o abastecimento de alimentos", acrescentou Kennedy.

Essas leis, o prefácio continua, tornaram-se modelo para mais de 150 outras nações, as quais tiveram suas próprias versões do Dia da Terra e começaram a investir também em infraestrutura ambiental.

O legado de Gaylord A. Nelson hoje

"O Dia da Terra é uma prova de uma nova e ampla preocupação nacional, que atravessa gerações e idealismos. Pode ser o símbolo de uma nova comunicação entre pessoas mais jovens e mais velhas no que se refere a nossos valores e prioridades", anunciou Nelson em carta de 1971 a Frank Stanton, então presidente da CBS Media, respondendo sobre como surgiu a ideia do Dia da Terra.

Durante a cúpula virtual sobre a mudança climática de 2021, realizada em 22 e 23 de abril e organizada pelos Estados Unidos, o presidente americano Joe Biden lembrou o Dia da Terra e prestou homenagem a Nelson em seu discurso, que mais tarde foi reforçado por um comunicado à imprensa emitido pela Casa Branca.

"O Dia da Terra foi originalmente concebido e trazido à vida por um funcionário público dedicado: o falecido senador Gaylord Nelson, de Wisconsin", disse Biden. "O senador Nelson também mudou o mundo ao criar um legado de proteção ambiental através do Dia da Terra e de todos os avanços que essa data gerou. E ele o fez não porque estava na moda, mas porque era a coisa certa a se fazer por nossos filhos e netos."

A imagem conhecida como Blue Marble (bolinha de gude azul) foi tirada durante a missão Apolo 17, em 1972, apenas dois anos do que hoje é considerado o 'primeiro' Dia da Terra. A imagem do nosso planeta, aparentemente pequeno e vulnerável no meio da escuridão do espaço inspirou uma geração de ambientalistas. 

Foto de Dan Winters/Nasa

Fazer as pazes com a natureza

Tanto a campanha ativista de Nelson quanto a resolução subsequente da ONU reconhecem a importância deste dia como uma instância para refletir sobre a relação entre o ser humano e a natureza.

"A humanidade declarou uma guerra à natureza, que é tão insensata quanto suicida", alertou o secretário-geral da ONU Antonio Guterres, no relatório Fazer as Pazes com a Natureza. "Ao reconhecer a natureza como um aliado indispensável, podemos liberar o engenho humano para a sustentabilidade e garantir tanto a nossa própria saúde, quanto o bem-estar do planeta."

No mesmo relatório, o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) Inger Andersen diz que as evidências científicas mostram as pressões extremas que estamos colocando sobre o planeta. Embora a pandemia tenha levado a uma diminuição temporária das emissões, ela diz que o curso ainda está definido para um aumento de temperatura de pelo menos 3°C em relação aos níveis pré-industriais neste século.

"Nossos colegas da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês) deram o alarme sobre o rápido declínio da natureza e o que ela significa para a Agenda 2030, e para as Metas de Desenvolvimento Sustentável", adverte Andersen.

O que é a tripla crise planetária tripla?

A ciência separa a crise planetária em três frentes: mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição geral. 

1. Mudanças climáticas

Segundo um relatório divulgado em 2021 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), o aprofundamento das mudanças climáticas já é um fato inegável.

A sociedade está longe de atingir a meta estabelecida no Acordo de Paris, assinado em 2015, e limitar o aquecimento global a menos de 1,5°C, preferencialmente, ou mesmo menos de 2°C, no máximo, em comparação aos níveis pré-industriais.

Segundo os especialistas que elaboraram o documento, o aquecimento global antropogênico (ou seja, aquele induzido pelo homem) e na quantidade de mais de 1°C, já levou à mudanças nas zonas climáticas, mudanças nos padrões de precipitação, derretimento das camadas de gelo e das geleiras, aumento acelerado do nível do mar e eventos extremos mais frequentes e intensos, ameaçando as pessoas e a natureza.

2. Perda de espécies

Cerca de um milhão de espécies de animais e plantas estão em perigo de extinção. "Eles estaria nessa situação sem a influência do homem?", se pergunta Jacqueline Alvarez, diretora do PNUMA para a América Latina e o Caribe em entrevista à reportagem. "A resposta mais segura é não, porque haveria uma evolução permanente e constante destas espécies animais e vegetais."

Em seu relatório de 2019, o IPBES foi contundente sobre o dramático declínio da biodiversidade. O documento, construído por 145 especialistas de 50 países, adverte que a biodiversidade está diminuindo globalmente a um ritmo sem precedentes na história humana e que o ritmo de extinção das espécies está se acelerando, causando graves impactos sobre as pessoas em todo o mundo.

3. Poluição 

Sobre a poluição planetária, Alvarez mencionou a descoberta, em 2017, de detritos químicos produzidos pela atividade humana no fundo do noroeste do Oceano Pacífico e sudeste das Ilhas Marianas.

A pesquisa, liderada pelo cientista Alan Jamieson, da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e publicada na revista Nature, encontrou elementos químicos como bifenilos policlorados e éteres difenílicos polibromados, usados como retardadores de chama em plásticos e espumas, nos cantos mais remotos do Oceano Pacífico.

"Esses contaminantes foram encontrados a cerca de 8 mil e 10 mil metros abaixo do nível do mar", adverte Alvarez. "Além dos microplásticos, vestígios de isótopos radioativos também apareceram nesses locais remotos."

O relatório Fazer as Pazes com a Natureza, do Pnuma, revela que 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, iodo tóxico e outros resíduos industriais entram nas águas do mundo a cada ano, colocando a saúde planetária em sério risco.

A saúde da Terra determina a saúde humana

A tripla crise planetária, adverte Alvarez, representa um risco para a espécie humana. Segundo ela, 75% das doenças infecciosas emergentes que afetam os seres humanos são de origem animal.

A este respeito, o relatório do Pnuma afirma que doenças originadas em animais selvagens e domésticos (as chamadas zoonoses) representam um perigo para a saúde humana e a economia, como explicitado pela pandemia de covid-19.

Mudanças climáticas, mudança e fragmentação do uso da terra, intensificação agrícola, desmatamento e comércio legal e ilegal de animais silvestres são combustíveis que aumentam o risco de se gerar novas zoonoses.

Por isso, o relatório enfatiza que a chave é pensar e agir com uma abordagem de "Uma só saúde", que trata o bem-estar humano como algo interconectado com a saúde dos animais, das plantas e do meio ambiente que compartilhamos.

O que podemos fazer para viver em harmonia com a natureza?

Embora o cenário planetário seja sombrio, a ciência insiste que podemos – e devemos – fazer mudanças profundas para reverter a crise

"Temos que viver em paz com a natureza e reconhecer nossa Terra como o meio ambiente não apenas no qual vivemos, mas que temos que cuidar e proteger", disse Álvarez. Para ela, o Dia da Terra é um ponto de virada para reconhecer que os ecossistemas são nossa casa e serve para relembrar que, se não conseguirmos harmonia com eles, a sobrevivência da espécie humana estará ameaçada.

Longe de qualquer perspectiva derrotista, Alvarez aconselha tomar medidas firmes e constantes para fazer a diferença.

Assim, o Dia Internacional da Terra é, como diz Álvarez, um sinal da necessidade de uma mudança para uma economia, uma produção e um consumo mais sustentáveis e que nos permitam viver em harmonia com a natureza. 

Para isso, as cadeias de produção do modelo econômico atual, o consumo e a responsabilidade individual têm poder fundamental. Segundo Alvarez, nosso consumo determina as decisões dos governos e empresas para transformar os sistemas econômicos e financeiros do presente e do futuro.

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