Depois do incêndio, pesquisadores e funcionários do Museu Nacional lutam para mantê-lo vivo

Na primeira de uma série de quatro entrevistas, a pedagoga Sheila Nicolas Villas Boas conta como luta para continuar levando ciência à população.

Por Paulo Verri
Publicado 24 de set. de 2018, 17:59 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Passados 20 dias da tragédia que destruiu parte importante da história brasileira guardada nos salões do Museu Nacional do Rio de Janeiro, pesquisadores e funcionários continuam trabalhando para reconstruir e manter viva a instituição. Em uma série de quatro entrevistas, conversamos com essas pessoas para compreender como se sentiram depois do incêndio e como enxergam o futuro do museu.

Nos relatos, ainda se ouve muitas manifestações de tristeza, mas também surgem histórias reveladoras. Todos os entrevistados, uma entomóloga, um museólogo, um paleontólogo e uma pedagoga, mostram-se motivados, determinados, para retomar trabalhos interrompidos e, surpreendentemente, para também iniciar novos projetos. Já na semana seguinte a tragédia, por exemplo, salas foram adaptadas para os alunos não ficarem sem aulas, doações de acervos negociadas para as pesquisas da pós-graduação não parassem. Até mapas tridimensionais começaram a ser produzidos para auxiliar as buscas e alguns poucos itens que não pegaram fogo, por estarem em outros prédios, foram escolhidos para novas exposições.

Hoje, conversamos com a pedagoga Sheila Nicolas Villas Boas, Chefe da Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ). Villas Boas foi uma das responsáveis por organizar um evento que marcou o reinício simbólico da instituição. Contando com espécimes armazenadas fora do edifício queimado, ela e outros funcionários do SAE organizaram, de forma voluntária, uma exposição de zoologia na Quinta da Boa Vista, em frente ao Museu Nacional.

Sheila Nicolas Villas Boas é Chefe da Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ) e trabalha para levar a ciência produzida no museu à população.
Foto de Paulo Verri

Qual é o seu trabalho no Museu Nacional?

Eu chefio o SAE que é o mais antigo setor educativo de museus no Brasil, que foi criado pelo médico, antropólogo e educador, Edgard Roquette-Pinto, em 1927. Aprendemos com ele a divulgar ciência, tirar o saber da academia e levar para o povo, como ele mesmo dizia. Uma das nossas atividades é convidar os visitantes para participarem de pesquisas. As informações que coletamos ajudam nas avaliações do museu. Nós também somos os responsáveis pelo Curso de Formação de Mediadores do Museu Nacional.

Você lida com o público todos os dias?

Sim, todos os dias, de todas idades, níveis intelectuais, inclusive analfabetos. Porque nós entendemos a importância de projetos que atendam um público mais diversificado. Trabalhamos com o público de visitação espontânea, que não agenda, e o público de visitação programada. Quando uma escola solicita uma visita com mediação, por exemplo, nós acionamos os nossos mediadores do museu.

Há quanto tempo você trabalha nisso?

Há seis anos

Qual foi a sua reação quando viu o Museu Nacional após o incêndio?

Eu entrei em choque.

Depois do incêndio o que você tem feito, quais são as suas atividades?

Eu tenho ajudado a reunir ex-mediadores que trabalharam aqui com os que estão em atividades. Eles têm voltado como voluntários para nos ajudar a continuar os trabalhos. Já marcamos novas mediações.

Então vocês continuam trabalhando mesmo após as perdas de acervos?

Sim, pois nós temos ainda a coleção didática para empréstimo que enviamos para escolas, praças e feiras. Ela faz parte do museu extramuros. Nós pretendemos apresentar essa coleção de animais, pois temos a zoológica recuperada.

Como vocês recuperaram essa coleção?

Nós conseguimos salvá-la, apesar do incêndio, porque ela não estava nas paredes do museu, mas fora das prateleiras. Assim, nós a retiramos e depois levamos a um outro prédio. Principalmente devido a ação dos pesquisadores Fernando Coreixas Moraes e o Paulo Márcio Costa. Nós vamos continuar a usá-la, mas ainda estamos recatalogando tudo, identificando o que existe lá, porque ela foi tirada de uma maneira abrupta.

Como é a coleção?

É uma coleção composta de material coletado e identificado pelos especialistas que nós apresentamos em vidros conservados em álcool 70º, de animais taxidermizados (técnica que preserva animais mortos), de insetos em caixas entomológicas e corais. Nós conseguimos recuperar essa zoológica, mas perdemos as coleções dos fósseis do acervo de paleontologia e também rochas da geologia. Era uma coleção muito extensa e esperamos ainda encontrar alguns itens.

O que vocês estão precisando neste momento?

Nós precisamos de novos espaços, por exemplo, de um container para colocar o acervo que recuperamos do incêndio e assim retirá-lo das áreas da Entomologia, Herpetologia, Mastozoologia, que nos emprestam espaços.

Nós vamos continuar a trabalhar falando com as escolas que já são nossas conhecidas e vamos nos oferecer para levar a coleção didática do Museu Nacional. Colocaremos o material dentro de um carro, como fazíamos antes, e iremos para fazer as mediações para professores e alunos.

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