Templo greco-romano é desenterrado no Egito

Descoberta pode fornecer pistas sobre as ocupações históricas no país africano e revelar detalhes importantes sobre a sociedade da época.

Por Elaina Zachos
Publicado 6 de abr. de 2018, 18:06 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Templo greco-romano é desenterrado no Egito
Um recém descoberto templo greco-romano foi desenterrado no deserto ocidental do Egito.
Foto de Ministério de Antiguidades do Egito

O Ministério de Antiguidades do Egito anunciou nesta semana que arqueólogos descobriram os restos de um templo greco-romano no  deserto ocidental do Egito, encontrado no sítio de Al-Salam, que fica a cerca de 320 km ao sul do Mar Mediterrâneo. As ruínas incluem uma seção frontal do templo, partes de sua fundação e entrada principal. Os arqueólogos também encontraram uma parede externa de um metro de espessura que levava a um patio da frente, cercado em ambos os lados por entradas para outras câmaras.

Ayman Ashmawi, chefe do Departamento de Antiguidades do Egito  Antigo do Ministério, diz que os arqueólogos esperam encontrar mais restos do templo depois que outras escavações forem realizadas ainda este ano.

Uma vez que os escombros forem removidos do local, que fica a cerca de 50 quilômetros a leste de Oásis de Siwa, o chefe da missão arqueológica, Abdel Aziz El-Demery, diz que pedras e elementos arquitetônicos haviam feito as paredes do templo ressurgirem, mostrando seus motivos greco-romanos. Os dintéis superiores e pilares de canto do templo são decorados com desenhos conhecidos como padrão ovo-e-dardo, um projeto de moldagem incorporando ovais em baixo-relevo com esculturas pontiagudas e estreitas.

Os arqueólogos também descobriram fragmentos de cerâmica, moedas e uma escultura de inspiração grega da cabeça de um homem. Eles também encontraram duas estátuas de leão de pedra calcária, uma das quais é sem cabeça.

Achado surpreendente

"O que é surpreendente é que você não costuma ouvir todos os dias sobre novos templos encontrados no Egito", diz Sarah Parcak, arqueóloga espacial e exploradora da National Geographic. "Isso vai lançar mais luz sobre a história do Oásis de Siwa".

Localizado no deserto ocidental, o Oásis de Siwa é remoto. Historicamente, ele é famoso porque Alexandre, o Grande, supostamente visitou um oráculo que lhe disse que ele era o rei divino do Egito. Parcak diz que visitou quase todos os sítios arqueológicos do Egito, com exceção do Oásis de Siwa, mas espera ir até lá no futuro.

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    O Ministério de Antiguidades do Egito diz que mais escavações serão realizadas ainda este ano. Elas poderiam fornecer algumas pistas sobre a vida antiga nessa área.
    Foto de Ministério de Antiguidades do Egito

    Com base nas fotos que foram divulgadas até agora, é difícil distinguir o tamanho e a extensão geral do templo e exatamente quando foi construído, diz Parcak. Esta descoberta pode fornecer algumas pistas sobre a ocupação greco-romana e as atividades que ocorreram no Egito durante esse período. Não só os templos eram usados como lugares religiosos, mas também eram centros econômicos onde os padres viviam e os locais os visitavam.

    "Estou esperançosa de que a equipe de escavação irá descobrir os assentamentos ou as casas dos padres", diz Parcak. Tais achados poderiam fornecer também uma visão da vida cotidiana antiga e o tamanho da população.

    Templos egípcios

    O rei grego Alexandre, o Grande, conquistou o Egito em 332 a.C., trazendo fim ao domínio persa. Após sua morte, o controle do Egito caiu para um dos generais de Alexandre, Ptolomeu I Soter. Ptolomeu iniciou, então, uma linha de monarcas que governaria o país pelos próximos 275 anos, até que os romanos assumissem o controle a partir de 30 a.C. e 395 d.C.

    Durante o período greco-romano, uma antiga religião egípcia e sua arquitetura prevaleceram. Mesclando-se com as novas tradições dos conquistadores, cultos nacionais surgiram até que mais egípcios se converteram ao cristianismo. Ainda assim, as pessoas continuaram a construir templos egípcios tradicionais.

    Embora poucas ruínas do período greco-romano permaneçam, seu legado arquitetônico é duradouro. Monumentos erguidos por governantes macedônios, como o Templo de Edfu na margem oeste do Nilo, têm convenções arquitetônicas egípcias emparelhadas com floreios ptolomeucos. Por exemplo, os pilares deste templo são em forma do gigante sistra — um tipo de instrumento musical egípcio —  com bordas elaboradamente compostas, paredes monumentais e criptas subterrâneas.

    Esculturas em relevo tiveram mais influência grega, rendendo representações humanas—particularmente a forma feminina— em estilos mais generosos. Havia também uma nova ênfase na retratação, que poderia ser atribuída a influências do mundo clássico ou de tendências escultóricas egípcias anteriores. Esculturas votivas (de oferendas) para patronos privados eram populares durante o período ptolomeuco, mas a produção declinou e mudou após a conquista romana.

    Parcak diz que também é importante que os arqueólogos egípcios façam essas descobertas, o que indica o nível de avanços arqueológicos que vêm do país. "Faz parte dessa narrativa", diz ela. "Achamos que sabemos muito sobre o antigo Egito, mas ainda resta muito mais para encontrar."

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