Bravas e destemidas: conheça as 9 mães mais batalhadoras da história
Ser mãe é sempre difícil, não importa a época. Mas essas mulheres inesquecíveis deixaram sua marca com a ajuda de seus filhos.

A aventureira: Sacagawea
A famosa guia nativa americana shoshone deu à luz seu primeiro filho, Jean-Baptiste Charbonneau, menos de dois meses antes de partir com Meriwether Lewis e William Clark em sua expedição pela América do Norte em 1805. Por quase um ano e meio, Sacagawea levou seu filho bebê de Dakota do Norte à costa do Pacífico e vice-versa. Lewis e Clark tiveram a sorte de tê-los.
O marido de Sacagawea, um comerciante de peles franco-canadense, convenceu Lewis e Clark a contratar o casal como intérpretes para ajudar a expedição a negociar com aldeias nativas. Quando a equipe encontrou um grupo shoshone seis meses depois, Sacagawea percebeu que seu líder, o Chefe Cameahwait, era seu irmão que ela não via há cinco anos. A equipe conseguiu comprar os bens de que precisava. Durante o restante da expedição, outras comunidades eram bastante amigáveis com o grupo quando viam Sacagawea, muitas vezes imaginando não se tratar de um grupo de guerra devido à presença de uma mãe com seu filho.
Aquela que quebrava regras: Hatshepsut
Depois de assumir o trono egípcio por volta de 1474 a.C., Hatshepsut gostava de ser descrita com qualidades masculinas. Esta estátua dela como uma esfinge tem uma juba de leão e barba de faraó.
Por costume, os governantes do Egito antigo eram homens, mas uma mulher mudou isso. Após a morte do faraó Tutemés II em 1479 a.C., o enteado de dois anos de idade da rainha Hatshepsut foi nomeado herdeiro, e ela se tornou regente. Pelo menos esse era o plano. Há um extenso debate sobre a data exata, mas os pesquisadores concordam que Hatshepsut gradualmente começou a governar como rainha, coroando-se faraó nos primeiros cinco anos de sua regência.
Hatshepsut ficou 21 anos no poder. Ela fez oferendas aos deuses, fechou acordos comerciais e construiu enormes monumentos. Para consolidar sua posição, ela começou a se mostrar como homem nas obras de arte. Estátuas e relevos de Hatshepsut a retratam utilizando cocar de faraó, roupas e barbas falsas. Como cautelosa administradora de relações públicas, ela proclamou repetidamente que havia assumido o trono atendendo ao desejo do deus Amon.
Hatshepsut morreu por volta de 1458 a.C., e seu enteado, Tutemés III, tendo se tornado adulto, poderia finalmente reivindicar o trono. Ele tentou apagar os registros de sua madrasta real, mas suas tentativas para omitir da história o próspero e popular domínio de Hatshepsut fracassaram.
A escritora: Christine de Pizan
Viúva em 1379, com três filhos e uma mãe para cuidar, Christine de Pizan, 25 anos, decidiu que não precisava de um homem para sobreviver. Em vez disso, ela fez questão de receber uma educação formal, uma raridade para as mulheres da época, para conseguir um emprego. Nascida na Itália, mas criada na França, Christine estudou grego, latim, literatura, medicina e filosofia antes de se casar por volta dos 15 anos. Ela se valeu de seu considerável conhecimento para encontrar um emprego no qual gerenciava calígrafos, encadernadores e miniaturistas em um scriptorium. Para ganhar um dinheiro extra, ela começou a enviar seus poemas para figuras influentes em toda a Europa e, por fim, ganhou alguns clientes.
Logo, ela estava ganhando dinheiro suficiente para deixar o cargo de supervisora e passar a ganhar a vida com sua própria escrita — para a qual ela utilizava uma caneta ousada. Christine não teve vergonha de expressar suas opiniões. Ela argumentou pela educação das mulheres, explicando: “Se fosse costume enviar meninas para a escola assim como os meninos... elas aprenderiam muito bem as sutilezas de todas as artes e ciências.” Vivendo na sombra da Guerra dos Cem Anos, ela também escreveu conselhos pontuais para políticos. O último poema de Christine antes de sua morte em 1430 foi em louvor a Joana d’Arc; ela foi a única escritora a criar uma obra popular sobre a futura mártir antes de Joana ser queimada na fogueira.
A rebelde: Boudica
Essa implacável rainha desafiou o Império Romano em uma ousada tentativa de vingar a si mesma e suas filhas. Tudo começou quando o marido de Boudica, líder da tribo iceni na Britânia, atual Inglaterra, não deixou sua riqueza às autoridades romanas quando morreu por volta de 60 d.C., como esperavam os então governantes da região. Em vez disso, ele entregou metade de seus bens à esposa e duas filhas e a outra metade diretamente ao imperador romano Nero. Como punição, as autoridades romanas espancaram Boudica publicamente e estupraram suas filhas.
A tribo de Boudica, incluindo tanto os homens quanto as mulheres, ficou indignada, e ela canalizou essa fúria em uma rebelião que quase expulsou Roma da Grã-Bretanha. Um grande contingente de rebeldes e tribos vizinhas — cerca de 120 mil — seguiu Boudica, destruindo vários assentamentos romanos. Segundo o historiador romano Tácito, Boudica e suas filhas circulavam pelo campo de batalha em uma biga para inspirar os cerca de 80 mil insurgentes tribais durante a batalha final — apenas para ver o grupo todo exterminado por 10 mil romanos treinados para o combate.
A planejadora mestre: Idia, primeira Rainha-mãe do Benin
Depois que Idia ajudou seu filho a vencer uma guerra civil em 1504, o novo rei do Benin, parte da atual Nigéria, deu a ela o título de “Rainha-mãe”, com poderes equivalentes aos de um chefe principal, posição normalmente ocupada por homens.
A tradição oral passada do reino pré-colonial do Benin sustenta que Idia é a “única mulher que foi à guerra” — título que ela recebeu quando seu filho, Esigie, e seu meio-irmão por parte de pai travaram uma guerra civil. Lutando para determinar quem seria o próximo governante do Benin, um reino localizado onde hoje é o sul da Nigéria, Esigie venceu em 1504 e atribuiu sua vitória aos conselhos e “poderes místicos” de sua mãe.
Para agradecê-la, Esigie nomeou Idia a primeira “Rainha-mãe” (o equivalente aproximado de um chefe principal, função tradicionalmente reservada aos homens). Como Rainha-mãe, Idia supervisionava um palácio, aldeias, chefes e servos. Ao contrário das mulheres do Benin que a antecederam, ela se sentava em um trono, carregava uma espada e usava certas roupas e contas ornamentais vermelhas. O desempenho bem-sucedido de Idia como Rainha-mãe serviria de exemplo para gerações de mulheres que assumiram a função depois dela. Até o penteado de Idia, um cone curvo coberto de contas de coral, seria associado a mães de futuros reis do Benin.
A defensora: Lakshmi Bai
Em 1853, o marajá, que não tinha filhos, de Jhansi, um estado principesco no norte da Índia colonial, estava morrendo, e ele e sua rainha, Lakshmi Bai, adotaram um filho pouco antes de sua morte. A realeza de Jhansi e a Companhia Britânica das Índias Orientais mantiveram um relacionamento cordial, mas a companhia rejeitou seu filho adotivo como herdeiro legítimo e tomou o território. Lakshmi lutou pelo direito do filho à terra deles: ela contratou um advogado britânico que a aconselhou a enviar representantes a Londres para discutir o caso no Tribunal de Diretores da Companhia das Índias Orientais. A empresa não ficou do lado da rainha e ela foi forçada a deixar o forte real e residir em seu palácio em 1854. Três anos depois, ocorreram diversas rebeliões indianas contra o domínio britânico na área. À medida que a violência nas proximidades aumentava, 60 homens, mulheres e crianças britânicos procuraram abrigo na fortaleza. Em posição de não resistir a um cerco, os estrangeiros se renderam e prometeram uma partida segura, mas foram mortos quando deixaram o forte.
Embora não houvesse evidências de seu envolvimento — apenas boatos e testemunhos não confiáveis — as forças britânicas foram rápidas em culpar Lakshmi pelo massacre. No início de 1858, os britânicos entraram em Jhansi em busca de vingança. Lakshmi Bai conseguiu formar um exército de 14 mil pessoas, mas ele foi derrotado. Ela escapou com o filho e uniu forças com outro líder rebelde, mas foi morta em batalha em junho de 1858. Músicas e poesia mantiveram sua memória viva e, em 2019, sua coragem durante a primeira guerra pela independência da Índia foi tema do popular filme Manikarnika.
A que lutou pela liberdade: Sojourner Truth
Nascida Isabella Baumfree, no norte do estado de Nova York por volta de 1797, Sojourner Truth tinha dois anos quando o estado mudou suas leis sobre escravidão: pessoas escravizadas nascidas antes de 1799, como Sojourner, seriam libertadas em 1827 e crianças nascidas de escravos após 1799 seriam libertadas ao chegarem na casa dos 20 anos (25 anos para meninas e 28 para meninos).
Em 1826, Sojourner conseguiu a liberdade com sua filha Sophia, ainda bebê, mas foi forçada a deixar para trás seus três filhos mais velhos: Diana, Peter e Elizabeth. Ela encontrou abrigo com abolicionistas que pagaram US$ 20 por sua liberdade, mas soube que logo após sua fuga, seu filho de cinco anos, Peter, havia sido ilegalmente vendido a proprietários de escravos no Alabama. Determinada a defender os direitos de seu filho — em Nova York era ilegal vender pessoas escravizadas além das fronteiras estaduais — ela processou os responsáveis e ganhou. Seu filho foi libertado e Sojourner se tornou uma das primeiras mulheres negras a ganhar um processo judicial contra um homem branco. Foi o primeiro passo na jornada de Sojourner que se tornou uma oradora de destaque e passou a defender a abolição e os direitos das mulheres.
A homenageada: Ann Reeves Jarvis
Ann Reeves Jarvis era uma mãe tão boa que sua filha passou o resto de sua vida dedicada a criar um dia para homenageá-la — e todas as outras mães. Jarvis era uma defensora da paz e trabalhou para aliviar as tensões entre os veteranos da Confederação e da União após a Guerra Civil. Quando ela morreu, em 1905, sua filha Anna Jarvis ficou arrasada. As memórias de sua mãe a inspiraram a iniciar uma campanha para criar um feriado para as mães. Anna imaginou o feriado como um dia em que os filhos homenageariam e agradeceriam as mulheres que haviam feito mais por eles do que qualquer outra pessoa. Em 1908, ela organizou com sucesso os primeiros eventos do Dia das Mães na Virgínia Ocidental e na Filadélfia.
Embora as celebrações tenham inicialmente enfrentado certa oposição, o Dia das Mães rapidamente ganhou popularidade e se tornou um feriado nacional dos Estados Unidos em 1914. Em 1920, Anna mudou de ideia sobre o Dia das Mães e sentiu que o comercialismo estava corrompendo as intenções originais do feriado. Segundo ela, as indústrias que lucram com o Dia das Mães são: “charlatãs, bandidas, piratas, ilegais, sequestradoras e pragas que vão acabar minando com sua ganância um dos melhores, mais nobres e mais verdadeiros movimentos e celebrações”.
A música: Maria von Trapp
Maria Augusta Kutschera nunca teve a intenção de ser mãe. Em 1926, a jovem austríaca estava estudando para ser freira na Abadia Beneditina de Nonnberg, em Salzburgo, na Áustria, quando o capitão da Marinha e viúvo Georg von Trapp chegou procurando por uma tutora. As freiras designaram Maria para uma temporada de 10 meses com a família já que ela tinha um diploma em educação. Sua função era ensinar uma das crianças, mas Maria logo se apaixonou rapidamente pelas sete. E, enquanto isso, o capitão se apaixonava por ela. Quando ele pediu sua mão, perguntou se ela se tornaria uma segunda mãe para seus filhos. Mais tarde, Maria disse: “Deus deve ter feito com que ele falasse dessa maneira porque se ele tivesse me pedido em casamento, talvez eu não tivesse aceitado”.
Os dois se casaram em 1927, tiveram mais dois filhos e, após a Depressão, a família começou a cantar profissionalmente em toda a Europa. Quando a Áustria ficou sob o controle nazista em 1938, a família fugiu para a Itália de trem e, posteriormente, para os Estados Unidos. Maria teve mais um filho com von Trapp e, em 1949, escreveu um livro de memórias, The Story of the Trapp Family Singers (A história dos cantores da família Trapp, em tradução livre), que inspirou o musical de 1959, A Noviça Rebelde.
