Bioma em chamas – fotos registram as queimadas no Pantanal
Reportagem acompanha a maior tragédia a atingir o Pantanal em décadas. Mais de 12% do bioma já foi consumido pelo fogo.

Trecho de mata ao lado de uma estrada é engolido por chamas, na zona rural de Poconé (MT). Estima-se que uma área de 1.654.000 hectares do Pantanal – equivalente a quase 12 cidades de São Paulo – tenha queimado em 2012. Veja reportagem completa.
Uma neblina espessa de fumaça encobre vastas áreas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tendo chegado no Paraná esta semana. Pesquisadores apontam o avanço do desmatamento no próprio bioma e na Amazônia e a consequente mudança no regime de chuvas como razões da pior seca dos últimos 47 anos.
Bois e cavalos dividem um pasto ralo de fazenda em Poconé (MT). Além do prejuízo à saúde e ao meio ambiente, fazendeiros relatam enormes gastos para não deixar o gado morrer de fome.
Cavalos pantaneiros sofrem para encontrar comida em meio à seca e às queimadas. A raça, que se desenvolveu naturalmente no Pantanal ao longo dos últimos 200 anos, possui casco fechado e pequeno que reduz a adesão da lama – o ideal para terrenos alagados.
Com as quatro patas queimadas, esta anta não conseguia andar e se refugiou em um charco dentro de uma propriedade próxima à rodovia Transpantaneira. Depois de resgatada e sedada por voluntários, foi levada para ser tratada em Campo Grande (MS).
Eduarda Fernandes, guia e agente de turismo, e Roberto Macedo, seu sócio, tratam queimaduras na pata da anta.
Para mitigar os efeitos da seca e das queimadas sobre os animais selvagens, voluntários percorrem a Transpantaneira deixando alimentos em pontos estratégicos.
Uma anta adulta e seu filhote encontrados mortos ao lado de uma floresta queimada no Pantanal de Poconé (MT).
Ipês contrastam com a fumaça dos incêndios em Poconé (MT). A secretaria de saúde de Mato Grosso do Sul alerta para um aumento de atendimentos relacionados à má qualidade do ar devido às queimadas, o que pode pressionar ainda mais um sistema já sobrecarregado pela pandemia de coronavírus.
A fim de evitar que queimem com os incêndios, equipe de voluntários trabalha na manutenção de pontes de madeira ao longo da rodovia Transpantaneira, que liga Poconé a Porto Jofre, em Mato Grosso. Até 29 de agosto, quatro pontes haviam queimado na região.
Depois de colocar os móveis na beira do rio e encharcar o telhado de folhas de acuri com água, seu Benedito da Silva, o Dito Verde, 79 anos, deixou às pressas a casa onde vive desde os 15 dentro da RPPN Sesc Pantanal.
Andre Tuhronyi conversa no rádio com bombeiros que ficaram sem combustível no meio de um incêndio. Tuhronyi diz ter gasto R$ 18 mil para manter o fog longe de suas terras, às margens da Transpantaneira.
Salvador de Campos Silva, 57 anos, mostra as cinzas resultantes da passagem do fogo. Morador das margens do rio Cuiabá, em uma pequena propriedade, Salvador ajudou a combater queimadas em propriedades vizinhas.
Seu Manuel Ambrósio, 84 anos, é um dos dois últimos moradores da RPPN Sesc Pantanal, em Mato Grosso. Morador do local desde 1972, ele vive sem luz elétrica e água encanada. Fechado para turistas desde março, a reserva tem funcionado como base para voluntários, pesquisadores e jornalistas, inclusive este repórter.
Brigadistas tentam conter chamas em uma propriedade em Poconé (MT). Cerca de 160 profissionais – entre bombeiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, militares, brigadistas do Prevfogo, do Ibama, do ICMBio e até do Sesc – fazem parte do esforço de combate aos incêndios.
Um pequeno avião do ICMBio tenta conter o incêndio na propriedade do fazendeiro Celso Figueiredo, na zona rural de Poconé (MT).
Pior temporada de queimadas das últimas décadas deixa cenário de devastação no Pantanal de Poconé (MT).
Bombeiro combate incêndios no Pantanal Matogrossense. As equipes evitam trabalhar durante as horas mais quentes do dia, quando a efetividade no combate a chama é bem menor.
Brigadista trabalha contra queimadas na região da Transpantaneira. As equipes evitam trabalhar durante as horas mais quentes do dia, quando a efetividade no combate às chamas é bem menor.
Voluntários observam um incêndio nas margens da rodovia Transpantaneira, próximo ao Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.
Trecho de mata queimado pelos incêndios na RPPN Sesc Pantanal.
Trecho de mata queimado pelos incêndios na RPPN Sesc Pantanal. Nem mesmo o rio conseguiu conter o caminho do fogo.
Trecho da RPPN Sesc Pantanal completamente consumido pelo fogo. Fechado desde março por causa da pandemia, o hotel do Sesc virou uma base para pesquisadores, voluntários, brigadistas e jornalistas – incluindo o autor desta reportagem –, que chegam para combater e documentar as queimadas.
A fumaça das queimadas encobre uma extensa área de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em 2 de setembro, ela chegou no noroeste do Paraná.
Brigadistas trabalham contra incêndios em uma propriedade em Poconé (MT). As equipes evitam trabalhar durante as horas mais quentes do dia, quando a efetividade no combate às chamas é bem menor.
Brigadistas cavam aceiro em Poconé (MT) para criar uma barreira contra o fogo. Cerca de 160 profissionais – entre bombeiros, militares, brigadistas do Prevfogo, do Ibama e do ICMBio e contratados pelo Sesc – fazem parte do esforço de combate aos incêndios.
Brigadistas do corpo de Bombeiros criam um aceiro negro, técnica que consiste em queimar ou carpir faixas de 5 a 10 metros da vegetação para criar uma barreira contra o fogo.
Bombeiro combate incêndio na fazenda Rosário, nas margens da Transpantaneira. Um dos desafios dos comandantes é manter o moral da tropa, muitas vezes abatido por trabalhar “enxugando gelo”.
Pantaneiro responsável pela fazenda Passo de Ema, às margens da Transpantaneira, Leo Duarte auxilia no combate às chamas na propriedade vizinha.Gustavo Basso
Uma longa estiagem transforma a vegetação em combustível para as queimadas. O rio Paraguai, o mais importante do bioma, chegou ao nível de 2,10 metros em junho, o menor para o período em 47 anos, segundo a Embrapa. A média é 5,6 metros.
A casa do aposentado Vicente Garcia, 94 anos, quase foi engolida pelo fogo enquanto ele visitava familiares na área urbana de Poconé. O vizinho conseguiu ajuda com operadores de retroescavadeiras, que salvaram a propriedade cavando um pequeno aceiro em volta da casa.