Figuras negras ilustres posam para retratos para homenagear a coragem dos Lanceiros Negros
Com a promessa de serem libertados da escravidão, os Lanceiros Negros toparam lutar na Revolução Farroupilha ao lado da elite gaúcha. Mas, no fim da guerra, foram vítimas de uma emboscada – mais de cem morreram.

Para além de cantora, Loma Pereira é apresentadora de eventos, locutora, compositora ativista e produtora de projetos na música. Sua trajetória nos gêneros musicais começa, ainda criança, com o coral, passando pela MPB, música afro-brasileira, nativista e latino-americana. Quando morou no Rio de Janeiro, gravou com Gilberto Gil e Elza Soares. No Rio Grande do Sul, foi percursora da música tradicionalista na época de Barbosa Lessa e Paixão Cortes. Ao longo de sua vida, teve muita coragem, habilidade e astúcia para tomar decisões difíceis. Vinda de uma família sem capital e filha de mãe solteira, conseguiu ingressar no mercado da música e fez parte do Movimento Tradicionalista Gaúcho, onde com destaque, mesmo em meio a um grupo majoritariamente masculino. Tanto é sua importância para a música gaúcha que, em 2019, venceu o Prêmio Açorianos de música pelo conjunto da sua obra. Confira reportagem completa.
Jornalista de formação, Clarissa Lima é assessora de diversidade da Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul desde 20 de novembro de 2020. No jornalismo, tratava principalmente da diversidade racial e de gênero. Como assessora, apoiou e ajudou a construir diversos projetos com tais temáticas. Atualmente, é uma referência em cultura e diversidade no estado.
Taís Domanski é bancária por paixão e tem a família como prioridade, desde pequena priorizou isso. A mãe e o pai são figuras importantes na sua formação. Com a mãe aprendeu que a vida não é fácil, mas que com sabedoria, tudo fica melhor. Com o pai, conta que um dos importantes aprendizados foi sobre ser preta. Até os dez anos de idade, Taís falava de si como 'morena'. O pai, pacientemente, ensinou que Taís era preta, filha de negro e descendentes de escravos, e que deveria sentir orgulho de si. Também a ensinou a nunca deixar a cor de pele determinar o sucesso em sua vida, o que vem fazendo até hoje.
Jorge Euzébio Assumpção é um dos grandes nomes da intelectualidade gaúcha. Foi professor e pesquisador na Unisinos e tem como seus maiores enfoques de pesquisa o negro no Rio Grande do Sul. É um dos maiores defensores da tese de que o negro é omitido na história do estado. Para ele, há um posicionamento ideológico de sonegação da participação afrodescendente na construção do Rio Grande do Sul.
Com mais de 30 anos de carreira na magistratura, a desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira é a primeira mulher e a primeira pessoa negra a assumir a Presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Antes disso, ocupou o cargo de Corregedora-Geral da Justiça. Iris tem uma agenda lotada, é intensa e apaixonada pelo seu trabalho, mas não transparece cansaço. Mesmo em um meio de trabalho predominantemente masculino e branco, Iris diz não ter sofrido discriminação pelo seu gênero ou cor. Diz que é uma questão de proceder, mas também relaciona isso a sua criação. Nunca lhe foi dito que deveria agir de determinada maneira por ser mulher ou negra. Pautou suas escolhas pela sua vontade e capacidade. Assim, chegou em um dos cargos de mais alta responsabilidade na Justiça do estado.
Em suas próprias palavras, Ângelo Ilha da Silva aprendeu desde cedo o valor do trabalho duro para alcançar seus objetivos. É Procurador Regional da República, professor do programa de pós-graduação e chefe do Departamento de Ciências Penais da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autor e coautor de mais de 30 livros. Em sua trajetória, recorda incidentes pontuais relacionados ao racismo, mas reforça que essas ocasiões não o impediram de construir uma trajetória de sucesso.
Jornalista, psicanalista, radialista, advogado e escritor, Antônio Carlos Côrtes é um nome importantíssimo na militância negra do país. Em Porto Alegre de 1971, plena ditadura militar, o Grupo Palmares, liderado pelo jovem Antônio Carlos e mais cinco amigos, conseguiu emplacar o Dia da Consciência Negra para o 20 de novembro – data da morte de Zumbi dos Palmares –, e não mais o 13 de maio – data da proclamação da Lei Áurea. De lá para cá, Antônio Carlos ajudou a manter viva a Sociedade Beneficente Floresta Aurora – clube negro mais antigo do país, localizado em Porto Alegre –, foi presidente do Conselho Estadual de Cultura, publicou livros, artigos e colunas. Continuou empenhado em sua militância ao longo de sua vida. Em 2021, recebeu a medalha Simões Lopes Neto, maior honraria concedida pelo governo do Rio Grande do Sul.
Carioca radicado em Porto Alegre há bons anos, Jeferson Tenório é escritor. Estreiou na literatura com o romance O beijo na parede (2013). Em 2020, venceu o Prêmio Jabuti, uma das maiores premiações da literatura nacional, pelo romance O avesso da pele, livro que trata das relações raciais e identidade. Em 2022, ao realizar uma palestra em uma escola da Bahia, foi ameaçado de morte por perfis anônimos na internet.
Beatriz Pereira é a figura pintada em um painel de 65 metros de altura e 15 de largura em uma empena do prédio da PGE-Daer em Porto Alegre. Ela opta por não ser chamada de líder da comunidade em que vive, se diz uma voluntária popular. Seja como for, Beatriz é uma figura de referência para aqueles que moram nas ilhas na volta de Porto Alegre. Na Ilha da Pintada, onde vive, é mãe-de-santo e educadora. Além de tudo isso, é ainda presidente de escola de samba. Relembrando o passado, diz ter largado os estudos em função do racismo. Na escola, sofreu por sua cor de pele, com vergonha, saiu da escola e foi fazer sua vida.
Jéssica Lima é enfermeira formada pelo Centro Universitário Metodista – IPA, onde recebeu bolsa integral por meio de ações afirmativas. Tem 11 anos de experiência em atenção primária em saúde no município de Porto Alegre e atua hoje como gerente de unidade de saúde do Hospital Divina Providência. Já recebeu prêmio de Mulher Negra que faz a diferença no SUS. Durante a pandemia, atuou na linha de frente no combate ao coronavírus.
Nascida em Porto Alegre, Daiane dos Santos foi por nove vezes medalhista de ouro em campeonatos mundiais em competições de ginástica artística. Dentre suas conquistas, carrega o feito de ter sido a primeira ginasta brasileira – dentre homens e mulheres – a ganhar uma medalha de ouro no Campeonato Mundial, em 2003. Além disso, foi a primeira ginasta do mundo a realizar o duplo twist carpado e o duplo twist esticado. Ambos os movimentos foram nomeados em sua homenagem, hoje chamados de Dos Santos I e Dos Santos II. Após sua carreira exemplar na ginástica artística, Daiane decidiu se dedicar a novos projetos em 2012. Hoje é empresária e promove projetos sociais para a disseminação do esporte entre camadas populares e encontrar atletas de alto desempenho.
Porto-alegrense, Roger Machado é atual técnico do Grêmio. Ingressou no Tricolor Gaúcho como jogador aos 17 anos. Depois de um bom período em campo pelo Grêmio, pelo qual foi campeão da Libertadores em 1995, jogou no Fluminense e no D.C United, nos Estados Unidos. Foi técnico pela primeira vez no Juventude, onde ficou por um curto período. Regressou então para o Grêmio, onde garantiu a vaga do Tricolor Gaúcho para a Libertadores. Depois passou por Atlético Mineiro, Palmeiras, Bahia, Fluminense antes de voltar ao Grêmio em 2022. Quando à frente do Bahia, recebeu a medalha Zumbi dos Palmares, alta condecoração concedida pelo município de Salvador pelo combate ao racismo. Roger é notável por sua luta contra o racismo – em coletivas de imprensa, não é raro vê-lo falando sobre o combate ao racismo e a desigualdade social. Roger encontra tempo em sua vida corrida para apoiar e incentivar projetos sociais e culturais pautando o antirracismo.
Rosane Terragno é uma empresária gaúcha dona da marca Divas Bllack, empresa focada no desenvolvimento de produtos para beleza negra. A partir do seu trabalho, Rosane abre portas para que pessoas negras possam ter sua autoestima renovada. É conhecida por receber, em sua loja no centro histórico de Porto Alegre, mulheres negras que ficam lá por horas e saem, deslumbrantes, desfilando pelas ruas da cidade.
Luciana Conceição Lemos da Silveira é professora da rede municipal de ensino de Porto Alegre, socióloga e mestre em desenvolvimento rural. Atua na área da educação popular e social, como professora tutora em ensino à disntância, laudos e pesquisas socioeconômicas em comunidades tradicionais. Além da carreira como professora, tem experiência na especificidade étnica negra e na identidade quilombola, e atua junto ao movimento social negro – Ubuntu Ukama. Diariamente, Luciana se empenha em educar crianças vindas dos mais variados cenários e com poucos recursos – um dia a dia intenso.
Daniel Vicente de Medeiros é motorista do Ministério Público Federal. Em sua trajetória, enfrentou dificuldades por ser negro e ter origem humilde. Mesmo assim, se dedicou com afinco para concluir seus estudos e conseguir dar uma boa condição de vida para sua família. Hoje em dia, depois de batalhar muito, tem uma boa qualidade de vida e vive próximo àqueles que ama.
Valéria Barcellos é multiartista transgênero baseada em Porto Alegre. Em sua carreira como cantora, atriz e performer trata de negritude, gênero, diversidade, inclusão e transgeneridade. Além de sua atuação na cultura, participa de projetos sociais voltados para a inclusão de pessoas trans na sociedade. Como mulher trans e negra, Valéria por diversas vezes denunciou situações de transfobia e racismo. Para além da sua relevância no Rio Grande do Sul, já viajou pelo Brasil e outros países fazendo peças e shows.
Professor de história, ativista e artista, Waldemar Moura Lima – Mestre Pernambuco – é intelectual e uma liderança no movimento quilombista. O quilombismo é um movimento que tem como base a mobilização da população negra latina a partir de suas próprias bases culturais e históricas. No âmbito da cultura, tem uma longa trajetória como agitador cultural, sendo criador de grupos carnavalescos, bandas e grupos musicais. Mestre Pernambuco é uma importante referência de ativismo e cultura no estado do Rio Grande do Sul.
O senador Paulo Paim tem atuação política desde a adolescência. Iniciou essa carreira como presidente do Grêmio Estudantil na época da Ditadura Militar, quando organizou mobilizações contra o regime e acabou sendo convidado a se retirar da escola. Desde então, já foi Deputado Federal e Senador por múltiplos mandatos. Tem autoria em projetos pela igualdade racial e em 1989 participou da comissão brasileira que visitou a África do Sul para a libertação de Nelson Mandela. Sua trajetória é marcada pela luta contra o racismo e pela garantia dos direitos dos trabalhadores e de minorias.
Matheus Gomes é vereador de Porto Alegre. Atua desde os 17 anos no movimento negro, estudantil e periférico, e atualmente tem inserção em diversos coletivos e entidades da comunidade negra. É graduado e mestre em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 2020, foi eleito vereador com a quinta maior votação na capital gaúcha. Desde que assumiu o cargo de vereador, Matheus recebeu sete ameaças de morte.