Rosto de antiga rainha é revelado pela primeira vez com tecnologia 3D

Descubra como foi realizado o processo de reconstrução feito séculos depois da aristocrata viver e morrer no Peru.

Por Michael Greshko
Publicado 14 de dez. de 2017, 17:00 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Por volta de 1,2 mil anos atrás, uma rica aristocrata, de pelo menos 60 anos, foi deitada para descansar no Peru – ricamente adornada com joias, frascos e artigos de tecidos feitos de ouro.

Agora, mais de cinco anos após seu túmulo ser encontrado intacto no extremo da cidade costeira de Huarmey, cientistas reconstruíram a sua possível aparência.

“Quando olhei a reconstituição pela primeira vez, eu vi nesse rosto alguns de meus amigos indígenas de Huarmey”, diz Miłosz Giersz, explorador apoiado pela National Geographic e um dos arqueólogos que descobriu a tumba da aristocrata. “Os genes dela continuam naquele lugar".

Em 2012, Giersz e o arqueólogo peruano Roberto Pimentel Nita descobriram a tumba El Castillo de Huarmey. O local de encosta foi certa vez um grande complexo de templos da civilização Wari, que controlou a região séculos antes do mais famoso povo Inca. O túmulo – pelo qual saqueadores milagrosamente passaram batido – contém os restos de 58 mulheres aristocratas, entre elas quatro rainhas ou princesas.

Rosto de rainha peruana é reconstruído com tecnologia 3D
Cientistas reconstruíram o rosto de uma rainha peruana cerca de 1,2 mil anos após sua morte. Usando uma cópia em 3D de seu crânio como base, as características faciais foram feitas a mão. Encontrada em 2012, ela foi enterrada em um túmulo com mais 57 mulheres nobres.

“Essa é uma das descobertas mais importantes nos últimos anos”, diz Cecilia Pardo Grau, a curadora de arte pré-colombiana no Museu de Arte de Lima.

Uma dessas mulheres, apelidada de Rainha Huarmey, foi enterrada em um esplendor particular. Seu corpo fora encontrado em uma câmara privada, e estava rodeado por joias e outros artigos de luxo, inclusive alargadores de orelha de ouro, um machado cerimonial de cobre e um cálice de prata.

Quem era essa mulher? A equipe de Giersz examinou cuidadosamente o esqueleto e descobriu que, como muitas nobres daquele lugar, a Rainha Huarmey passou a maior parte do tempo sentada, embora tenha usado amplamente a parte superior do seu corpo – as peças do esqueleto indicam uma vida de tecelagem.

Sua expertise provavelmente explica seu status de elite. Entre os Wari e outras civilizações andinas da época, tecidos eram considerados mais valiosos que ouro ou prata, um reflexo do enorme tempo que levavam para serem feitos. Giersz diz que panos antigos encontrados em outros lugares do Peru talvez tenham precisado de duas ou três gerações até serem tecidos.


Sua expertise provavelmente explica seu status de elite. Entre os Wari e outras civilizações andinas da época, tecidos eram considerados mais valiosos que ouro ou prata, um reflexo do enorme tempo que levavam para serem feitos. Giersz diz que panos antigos encontrados em outros lugares do Peru talvez tenham precisado de duas ou três gerações até serem tecidos.

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    A equipe de Giersz também encontrou um canal que leva da sepultura da Rainha Huarmey às câmaras externas que possuíam resíduos de chicha. O canal poderia permitir cerimônias em que as pessoas compartilhavam líquidos com a aristocrata, inclusive após a tumba ter sido fechada. “Mesmo após sua morte, a população local continuava a beber com ela”, diz Giersz.

    Mas qual seria a aparência dessa poderosa aristocrata? Na primavera de 2017, Giersz conversou com o arqueólogo Oscar Nilsson, conhecido por suas reconstituições faciais, para trazer a Rainha Huarmey de volta à vida.

    Nilsson não é o primeiro a tentar reconstituir as caras da elite pré-colombiana da América do Sul. Recentemente, arqueólogos ressuscitaram a Señora de Cao, uma jovem aristocrata que viveu 1,6 mil anos atrás na antiga civilização Moche, no Peru.

    Diferentemente da reconstituição – que é feita praticamente toda em computadores –, Nilsson teve uma abordagem mais manual com a Rainha Huarmey. Utilizando como base um modelo do crânio da aristocrata, Nilsson reconstruiu à mão os traços faciais dela.

    Para guiá-lo, Nilsson contou com a construção do crânio, assim como um conjunto de dados que o permitiram estimar a espessura do músculo e da gordura sobre o osso. Como referência, ele também usou fotografias de andinos indígenas que viviam nos arredores de El Castillo de Huarmey. (Dados químicos confirmam que a Rainha Huarmey cresceu bebendo a água local, justificando a comparação.)

    Ao todo, Nilsson levou 220 horas para reconstruir o semblante pensativo da aristocrata. Nenhum detalhe era pequeno demais a ponto de ser ignorado. Para reconstituir seu cabelo – o qual o clima árido preservou –, Nilsson usou o cabelo de verdade de idosas andinas, que Gilesz comprara em um mercado de perucas peruano.

    “Se considerar que o primeiro passo foi mais científico, eu gradualmente entrei em um processo mais artístico, no qual precisei adicionar alguma expressão humana ou uma centelha de vida”, diz Nilsson. “Caso contrário, pareceria muito mais um manequim.”

    Algumas pessoas terão a chance de ver pessoalmente a obra de arte de Nilsson. A reconstituição finalizada será exibida ao público a partir de 14 de dezembro, na abertura de uma nova exposição de artefatos peruanos no Museu Etnográfico Nacional de Warsaw, Polônia.

    “Eu trabalhei com isso por 20 anos, e houve muitos projetos fascinantes – mas este em particular tinha algo a mais”, comenta Nilsson. “Eu simplesmente não podia dizer não a esse projeto.”

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