Minúsculo planeta recém-descoberto pode revelar o destino final da Terra

A descoberta de um corpo rochoso que orbita uma estrela anã branca dá pistas de como poderá ser o nosso sistema solar em cerca de cinco bilhões de anos.

Por Catherine Zuckerman
Publicado 19 de abr. de 2019, 11:17 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um fragmento planetário orbita uma estrela anã branca em uma ilustração do sistema recém-descoberto.
Um fragmento planetário orbita uma estrela anã branca em uma ilustração do sistema recém-descoberto.
Foto de Illustration by University of Warwick/ Mark Garlick

Em 1995, uma resposta cósmica foi obtida quando um telescópio terrestre capturou um sinal fraco e instável vindo de centenas de anos-luz de distância. O telescópio havia detectado o primeiro exoplaneta na órbita de uma estrela parecida com o Sol, uma descoberta inovadora que realmente confirma a existência de planetas fora do nosso sistema solar e indica a possível existência de muitos mais.

Desde então, astrofísicos confirmaram quase 4 mil exoplanetas orbitando estrelas na nossa galáxia, a Via Láctea. Como o nosso Sol, essas estrelas geralmente estão na fase de sequência principal, um período de suas vidas que dura bilhões de anos e durante o qual as estrelas queimam de forma saudável, emitindo calor e brilho.

Mas agora, um grupo de pesquisadores passou a estudar um corpo planetário que orbita uma anã branca, uma estrela que já se esgotou e está prestes a morrer. As descobertas descritas na revista científica Science são inéditas e oferecem uma pista do possível destino da Terra quando o nosso Sol começar a morrer.

Liderada por Christopher Manser, astrofísico da Universidade de Warwick, a equipe descobriu o objeto rochoso utilizando um método chamado espectroscopia, que envolve coletar e analisar os diferentes comprimentos de onda da luz proveniente do disco gasoso que circunda a anã branca. Essa é a primeira vez que cientistas empregam esse método para identificar um corpo planetário que orbita uma anã branca.

Utilizando o Gran Telescopio Canarias em La Palma, Espanha, a equipe observou a "cor da luz emitida pelo cálcio presente no disco gasoso e um espectro a cada dois ou três minutos foi coletado", contou Manser por e-mail. Essa técnica permitiu que a equipe detectasse alterações sutis na cor do disco, conforme ele se aproximava ou se distanciava da Terra. Esse tipo de alteração na cor é chamado de oscilação Doppler, semelhante ao efeito Doppler audível, que dá a impressão de que o som da sirene do carro de polícia se altera conforme o carro passa correndo.

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"Para a nossa detecção, essa alteração na cor foi utilizada para identificar a presença de um planetesimal em órbita no disco, em um período de duas horas", afirma Manser. A equipe classificou o objeto como um planetesimal devido ao seu tamanho, que é relativamente pequeno.

Reconstrução planetária

Em grande parte, os cientistas estudam exoplanetas para aprender mais sobre a evolução do nosso próprio sistema solar. Se esse planetesimal algum dia foi parecido com a Terra, conforme acredita Manser, o desfecho é bastante sombrio.

Conforme a estrela na qual o planetesimal orbita começa a ficar sem combustível e se expande, como ocorre com a maioria das estrelas parecidas com o Sol ao atingir o fim da vida, a intensa gravidade destrói todos os planetas em órbita próxima, reduzindo-os a seus núcleos rochosos e criando discos de detritos. Manser suspeita que a Terra terá um destino parecido.

"Quando o Sol começar a ficar sem combustível e se expandir em cerca de cinco bilhões de anos, ele irá devorar Mercúrio, Vênus e, provavelmente, a Terra", afirma ele. "Mas Marte e os outros corpos, como Júpiter, Saturno, o cinturão de asteroides e alguns outros, devem sobreviver a todo o processo, embora assumam uma órbita discretamente maior, pois alguns perderão massa e, no fim, o Sol se tornará uma anã branca".

Entretanto a história pode ter um lado bom, afirma a professora de astrofísica Lisa Kaltnegger, que também é diretora do Instituto Carl Sagan da Universidade de Cornell e não participou da pesquisa de Manser. Se planetesimais orbitando anãs brancas colidissem, conta ela, eles poderiam se fundir, formando novos e estáveis planetas. Os estudos que ela realizou sobre essa possibilidade sugerem que esses mundos reconstruídos poderiam até mesmo ser habitáveis.

"Depois de a anã branca resfriar ainda mais, demonstramos que um planeta desses poderia preservar condições amenas por bilhões de anos", escreve ela por e-mail. Por exemplo, ao passo que as dramáticas condições envolvidas no nascimento desse novo planeta provavelmente eliminassem sua superfície aquática em um primeiro momento, o líquido da vida poderia voltar a existir por meio do impacto com cometas que carregam água, criando assim "um planeta que permita o renascimento da vida mais uma vez, em vez de um planeta quente, seco e sem vida", afirma ela.

"Esse artigo coloca a primeira peça do quebra-cabeça no lugar para determinar como planetas podem se formar ao redor de jovens anãs brancas a partir de planetesimais".

Por enquanto, Manser espera aplicar o método de espectroscopia em outros sistemas estelares que possuem discos gasosos. Eles podem conter mais planetesimais que ajudarão a ampliar o nosso conhecimento sobre o ciclo de vida de um planeta, explica ele, "e nós queremos ir atrás deles".

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