A megaoperação que deslocou 520 elefantes entre reservas no Malauí

Uma operação ambiciosa para reunir elefantes e colocá-los em um lugar seguro foi finalmente concluída.

Por Sarah Gibbens
Publicado 26 de out. de 2017, 21:36 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Como realocar 520 elefantes entre reservas

Quatro minutos – esse é o tempo médio que os guardas florestais têm entre o momento em que um dardo tranquilizante perfura a pele espessa de um elefante até a anestesia surtir efeito.

Essa curta janela é o período mais crítico ao transportar um elefante de seis toneladas por mais de 240 km.

No final de julho, os gerentes de um parque do Malauí concluíram um projeto de dois anos que envolvia o transporte de 520 elefantes do Parque Nacional Liwonde e da Reserva de Vida Selvagem Majete para um novo lar na Reserva de Vida Selvagem Nkhotakota. A esperança é que os paquidermes realocados ajudem a resolver problemas de conservação tanto nos locais de origem, quanto nos novos destinos.

Em Liwonde e Majete, as crescentes populações de elefantes levaram a um aumento no conflito entre o homem e os animais. Os elefantes invadem assentamentos humanos e podem trazer prejuízos às plantações locais e ao gado, devastando os meios de subsistência de uma pequena fazenda. Muitos dos animais que foram retirados destes parques tinham pequenos orifícios em forma de bala em suas orelhas.

Do outro lado do país, no entanto, a população de Nkhotakota foi dizimada pela caça furtiva. No grande parque, uma população de mais de 1.500 elefantes foi reduzida para menos de 100 nos últimos 20 anos.

Transportar tantos elefantes entre os parques, no entanto, não foi algo simples. Os rebanhos não poderiam ir caminhando até o novo lar. A região é densamente povoada e seria arriscado atravessar cultivadas pelo agronegócio.

Veterinários e conservacionistas da African Parks, uma organização sem fins lucrativos que administra parques e áreas protegidas, coordenaram os esforços. As equipes transportaram os animais em grupos familiares para aumentar a probabilidade de adaptação dos elefantes ao novo ambiente.

UMA AÇÃO ELEFANTESCA

No dia de uma ação, as equipes partiam de helicóptero logo cedo em busca do rebanho. Assim que uma unidade familiar era encontrada, eles pediam que as equipes em solo mantivessem distância para poderem atirar os tranquilizantes nos elefantes de cima do helicóptero com segurança.

Cada elefante recebeu uma dose de opióide sintético dez mil vezes mais potente que a morfina. Apenas uma gota da substância é capaz de matar um ser humano em poucos minutos. No entanto, até mesmo essa droga potente demora um tempo para derrubar um elefante. E nesse pequeno intervalo o paquiderme ainda consegue percorrer uma grande distância.

As equipes no solo ficavam próximas para garantir que os elefantes sedados não caíssem na água, batessem suas cabeças contra as árvores, caíssem sobre suas presas ou sobre o tórax, o que poderia esmagar os pulmões dos pesados animais.

"É possível perceber quando as drogas começam a surtir efeito", disse Andrea Heydlauff, diretora de marketing da African Parks. Ela estava presente em muitas dessas transferências e ajudou nos esforços.

Logo após o elefante perder completamente a consciência e ser colocado na posição correta, funcionários colocavam galhos na abertura perto das presas para garantir que as vias respiratórias se manteriam abertas e posicionavam as orelhas do animal para frente, a fim de proteger os olhos do escaldante sol do Malauí.

Guindastes fabricados especialmente para este tipo de ação içaram os elefantes atordoados. Eles era puxados por cordas amarradas nas patas e colocados em um contêiner. Depois, recebiam um antídoto para cortar o efeito da anestesia. Os elefantes ficavam acordados pelo restante da viagem de 12 horas, mas Heydlauff afirma que eles estavam sob efeito do tranquilizante. "É como se você tivesse tomado um Frontal", diz ela.

E AGORA?

Agora que o transporte foi concluído, os funcionários da African Parks esperam que Nkhotakota se torne uma das principais reservas de elefantes do Malauí e ajude a gerar oportunidades de emprego e turismo na região.

Quanto à caça furtiva que acontecia no Malauí, a maioria era feita por pequenos grupos locais, com armas rudimentares, que levavam apenas um pequeno número de elefantes de um rebanho. Mas, como parte do projeto, guardas foram recrutados, treinados e equipados com as ferramentas necessárias para afastar possíveis caçadores.

Em toda a África, no entanto, salvar elefantes continua a ser uma tarefa hercúlea.

O marfim tem um alto valor no mercado negro – em algumas regiões, um quilo pode ser vendido por mil dólares. Uma pesquisa realizada em 2016 descobriu que 140 mil elefantes foram mortos por suas presas na última década.

E em regiões que sofrem com conflitos civis, a caça ao elefante tem se mostrado especialmente difícil de ser combatida. Por exemplo, o Parque Nacional Virunga, na República Democrática do Congo. O país, devastado pela guerra, viu a sua população de elefantes cair de mais de 22 mil para pouco mais de mil animais nos últimos 50 anos.

A African Parks controla um total de 11 reservas de vida selvagem estatais em todo o continente e, apesar das espantosas ameaças que os elefantes africanos ainda enfrentam, eles esperam que possam ajudar outras populações a se recuperarem.

"Sabemos o que está matando esses elefantes", diz Heydlauff. "Podemos cortar o mal pela raiz".

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