Esta cobra d’água rasga suas presas em pedaços em vez de engoli-las inteiras

Poucas espécies de serpentes têm tal hábito alimentar. Especialistas estão intrigados com este método de ataque

Por Douglas Main
Publicado 16 de abr. de 2018, 17:48 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Esta cobra come caranguejos de uma forma diferente

Quase todas as espécies de cobra conhecidas comem suas presas inteiras, em uma única – e às vezes monumental – engolida.

Mas os cientistas descobriram uma exceção para esta regra: trata-se da cobra d’água da espécie Gerarda prevostiana, uma pequena serpente nativa de manguezais do sudeste da Ásia.

Um novo estudo descobriu que essas cobras atacam e comem caranguejos até cinco vezes maiores do que sua mandíbula pode acomodar.

Comedoras exigentes, essas serpentes só vão atrás de caranguejos frescos, no período de 10 a 15 minutos depois que os animais perdem suas carapaças velhas, de acordo com estudo publicado recentemente no Biological Journal of the Linnean Society (em inglês).

"Elas são realmente pequenas comilãs", diz o líder do estudo, Bruce Jayne, professor de biologia da Universidade de Cincinnati.

Seu estilo de alimentação estranho começa com uma mordida e um aperto no corpo principal do caranguejo, a carapaça. Eles então fazem um laço com seu corpo, puxando a presa através dele repetidamente até que o caranguejo seja deformado ou se despedace, explica Jayne.

Em seguida, eles comem as peças individuais, ou se a carapaça ainda é muito grande, às vezes eles apenas puxam as pernas e as comem uma por uma, diz Jayne.

"Elas estão fazendo coisas que as cobras não deveriam fazer", diz Alan Savitzky, herpetólogo da Universidade Estadual de Utah que não participou do estudo.

Garantindo a janta

Demorou muitos anos para Jayne registrar esse comportamento até então incomum nas serpentes. Depois de capturar cobras d’água desta espécie (cat-eyed water snake, em inglês) na Malásia e mais tarde em Cingapura, Jayne e seus colegas levaram algumas para o laboratório e as colocaram em tanques de lama, onde as criaturas formaram túneis e por lá permaneceram.

"Eles são cobras muito tímidas", diz Jayne. Quando inicialmente colocaram caranguejos no topo da lama, elas não demonstraram interesse.

Por que as cobras não estavam se alimentando? Os colegas ficaram perplexos até que Jayne encontrou uma pista de um animal não relacionado, a cobra rainha (Regina septemvittata).

Esta criatura norte-americana prefere atacar lagostins com carapaça recém renovada, lançando-se aos animais quando eles estão mais macios e mais fáceis de engolir.

Se as cobras d’água Gerarda prevostiana fossem semelhantes, isso explicaria por que alguns caranguejos recuperados de dentro do estômago delas parecessem macios, talvez por serem recém-renovados em vez de serem parcialmente digeridos.

Com a ajuda de Peter Ng, especialista em caranguejos da Universidade de Cingapura, os pesquisadores adquiriram uma grande coleção de presas, de modo que eles teriam alguns espécimes com carapaças recém-renovadas.

Funcionou. Quando colocavam caranguejos recém-renovados nos tanques, as cobras "disparavam para fora da toca e, em vez de se moverem lentamente, suas cabeças se arrastavam para trás e para frente" e então atacavam, diz Jayne.

É um estilo de vida arriscado: "Se as cobras são pequenas demais e atacam um caranguejo de casca dura em vez de um caranguejo de casca menos dura, em vez de jantar, elas podem se tornar jantares", diz ele.

Dieta rígida

Os pesquisadores também examinaram os hábitos alimentares de duas espécies relacionadas, a Fordonia leucobalia e Cantoria violacea, que comem caranguejos e camarões

Eles descobriram que as primeiras também têm um método de ataque muito estranho, atingindo os caranguejos com a boca fechada, prendendo-os na lama. Elas então envolvem seu corpo em torno do caranguejo e o mordem, às vezes arrancando as pernas individuais, antes de derrubar a coisa toda.

Embora seja raro, algumas outras cobras foram encontradas comendo suas presas em partes.

Por exemplo, um recente estudo do Bulletin of the Chicago Herpetological Society observa que uma cobra tailandesa da espécie Opisthotropis spenceri pode dilacerar os caranguejos de água doce e devorar seus órgãos internos.

Esses comportamentos incomuns mostram como as cobras evoluíram de maneiras criativas para caçar crustáceos, um item de presa mais incomum com um corpo externo rígido e a capacidade de reagir.

"Isso nos lembra", diz Savitzky, “do quanto ainda não sabemos sobre os aspectos mais fundamentais da história da vida e da ecologia de animais bastante abundantes".

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