O curioso caso da mariposa que finge ser beija-flor
Em visita à América do Sul, no século 19, o naturalista inglês Henry Bates chamou esta característica comum no reino animal de mimetismo – "a prova mais maravilhosa da teoria da seleção natural".
Quando o naturalista inglês Henry Walter Bates desembarcou na América do Sul, em meados do século 19, ficou encantado com uma característica peculiar de certos animais. Ele reparou que algumas espécies imitavam comportamentos ou mesmo a aparência de outras, por vezes de origens muito distintas. Bates chamou isso de mimetismo, “a prova mais maravilhosa da teoria de seleção natural”.
Basicamente, o mecanismo serve para enganar predadores, levando-os a crer que se trata de outro bicho, um que tenha veneno ou que seja pouco palatável, por exemplo. Entre as várias espécies que coletou no Brasil, estava um suposto beija-flor. Bates escreveu sobre uma criatura pequena e de voo rápido, que se deliciava nas flores durante a estação quente e chuvosa. Mas, ao analisá-la melhor, descobriu, para sua surpresa, que o animal não era uma ave, mas uma mariposa beija-flor – a Aellopos titan.
Mas por que se fingir de beija-flor?
Em primeiro lugar, os beija-flores têm menos potenciais predadores que as mariposas. Além disso, beija-flores são territorialistas e acabam inibindo insetos e outros animais que se aproximam das flores. Por último, certas características que os beija-flores desenvolveram para evitar predadores, como a agilidade e o voo rápido, acabam desencorajando ataques.
Nos Campos Rupestres de Minas Gerais, é comum ver mariposas e beija-flores disputando as flores da Stachytarpheta glabra. Essa flor guarda porções preciosas de néctar em uma região onde nutrientes são escassos – um alento para animais com gasto energético tão elevado.
A Aellopos titan ainda é pouco conhecida. Sabe-se que seus casulos ficam enterrados embaixo da terra, mas não há registro de seus ovos, lagartas e nem pupas. Há outras espécies de mariposas beija-flor – todas fazem parte da família Sphingidae e ocorrem da América Central até a Argentina.
Elas são fundamentais para a polinização de plantas, mas sofrem com o uso de agrotóxicos e a destruição de seu habitat, principalmente pela expansão das cidades, da mineração e do agronegócio.