Jovens em greve contra as mudanças climáticas: “Estamos lutando pelas nossas vidas”

De Vanuatu a Califórnia, jovens entraram em "greve pelo clima" para chamar atenção à ameaça que as mudanças climáticas trazem para seus futuros.

Por Alejandra Borunda
Publicado 18 de mar. de 2019, 18:29 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Estudantes portugueses entoam gritos de protesto e exibem cartazes em frente ao Parlamento de Portugal.
Estudantes portugueses entoam gritos de protesto e exibem cartazes em frente ao Parlamento de Portugal.
Foto de Horacio Villalobos, Corbis/Getty Images

Milhares de jovens em todo o mundo deixaram de ir à escola na sexta-feira para participarem de "greves" coordenadas internacionalmente para chamar atenção àquilo que consideram uma ameaça existencial: as mudanças climáticas. De Vanuatu a Bruxelas, estudantes se reuniram exibindo cartazes, cantando, entoando gritos de protesto e se mobilizando em uma tentativa coordenada de expressar suas preocupações àqueles que têm poder para abordar a questão.

Esses jovens nunca tiveram a chance de ver um mundo intocado pelas mudanças climáticas. Ainda assim, serão eles que sofrerão os impactos, afirma Nadia Nazar, uma das organizadoras da greve em Washington, D.C.

"Somos a primeira geração a ser significantemente impactada pelas mudanças climáticas e a última capaz de fazer algo a respeito", disse ela.

Mais de 1.700 greves foram coordenadas para que ocorressem ao longo do dia, começando nos países ao leste, como Austrália e Vanuatu, e prosseguindo para todos os continentes, incluindo a Antártida. A previsão era que mais de 40 mil alunos se manifestassem na Austrália e as ruas das principais cidades europeias ficaram repletas de jovens.

No Brasil, eventos aconteceram em pelo menos 20 cidades. A reportagem acompanhou a manifestação em São Paulo, onde cerca de 50 estudantes se concentraram no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Apesar do baixo quórum – organizadores culparam o pouco tempo de divulgação –, a animação dos jovens empolgou até manifestantes mais experientes.

Amanda da Cruz Costa, estudante de Relações Internacionais de 22 anos e voluntária da ONG Engajamundo, diz que já vê “o Brasil inteiro parando de ir à escola e levantando bandeiras: ‘vamos investir contra as mudanças climáticas’”. Apesar do movimento ainda não ter uma liderança clara no Brasil, da Cruz Costa agia como uma, dando entrevistas a diferentes veículos e puxando os gritos de ordem dos manifestantes. “O que queremos? Justiça climática! Quando queremos? Agora!”, era uma das frases que entoavam. A estudante teve que interromper a entrevista porque disse estar a caminho de outra manifestação.

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    No Brasil, manifestações aconteceram em mais de 20 cidades. O vão livre do Masp foi o ponto de concentração dos estudantes de São Paulo – cerca de 50 jovens se reuniram no lugar.
    Foto de Ramon Modenesi, National Geographic

    Mas o evento também atraiu estudantes que nunca tinham protestado pelo clima, mas compartilham do sentimento de urgência levantando por outros manifestantes. Eles disseram que pretendem continuar a protestar nas sextas-feiras e levar mais colegas da escola nas próximas ações.

    Um movimento que não para de crescer

    As greves fazem parte de um movimento maior que teve início no outono de 2018, quando Greta Thunberg, uma adolescente sueca, passou a ocupar uma área externa em frente a um prédio do parlamento em Estocolmo, com cartazes e um propósito: forçar os líderes de seu país a reconhecerem as mudanças climáticas (e, com esperança, fazerem algo significativo a respeito). Ela batizou suas ações de "Greve Escolar pelo Clima".

    No início, as greves chamaram pouca atenção, mas foram crescendo cada vez mais. Jovens ao redor do mundo começaram a organizar suas próprias greves solitárias às sextas-feiras em suas cidades. Nos EUA, uma jovem de 13 anos, Alexandria Villasenor, se agasalhou e começou a fazer greve em um banco em frente à sede das Nações Unidas em Nova York, suportando o frio; Haven Coleman, 12 anos, ocupou à área em frente à Casa do Governo em Denver, no Colorado.

    Porém, realizar a greve semanal não foi fácil para muitos jovens, especialmente quando não tinham o apoio da escola, dos amigos ou dos familiares. Como disse Isra Hirsi, 16 anos, uma das líderes da U.S. Youth Climate Strike na sexta-feira, nem todos podem deixar de ir à escola ou conseguem chegar a lugares onde receberiam atenção. Mas isso não significa que não se importam com as mudanças climáticas ou que não queiram fazer nada a respeito.

    Hirsi e outros jovens ativistas queriam organizar um dia para reunir os jovens do país de forma mais coesiva e visível.

    "É ótimo quando você consegue fazer uma greve toda semana", disse ela, "mas também é um privilégio conseguir fazer isso. E há tantas pessoas que se importam com a questão e não podem deixar a escola toda a semana ou até mesmo sair para participar dessa grande greve na sexta-feira, e queremos que a voz de todos seja ouvida".

    "Estamos lutando pelas nossas vidas"

    Na sexta-feira em todos os EUA, jovens se reuniram em mais de 100 greves. Na véspera, os celulares das líderes ainda recebiam inúmeras solicitações para a inclusão de mais locais ou perguntas de onde os jovens deveriam ir, o que levar e como se envolver no movimento.

    Em Washington, as organizadoras da greve nacional se reuniram, enviaram mensagens e fizeram planos até tarde da noite. Elas terminaram uma sessão de planejamento de mãos dadas, respirando fundo, conforme Nazar falava calmamente sobre o que estavam lutando.

    "Estamos lutando pelas nossas vidas, pelas pessoas em todo o mundo que estão sendo afetadas, pelos ecossistemas e pelo meio ambiente que estão aqui há milhões e milhões de anos e que estão sendo devastados pelas nossas ações em apenas algumas décadas", disse ela.

    "Um crime contra o nosso futuro"

    Em outubro de 2018, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) emitiu um relatório que advertia que, sem uma ação internacional séria e coordenada para frear as emissões de gases de efeito estufa, é praticamente certo que o nosso planeta vai esquentar mais de 1,5 grau Celsius e que os impactos desse aquecimento possivelmente serão muito mais nocivos e devastadores do que se pensava anteriormente. O prazo? Reduzir as emissões até 2030.

    Muitos jovens ao redor do mundo tomaram conhecimento do prazo, fizeram as contas e perceberam que nessa época estariam vivendo a fase que deveria ser a melhor de suas vidas.

    "Tenho muitas metas e sonhos a serem realizados até eu completar 25 anos", diz Karla Stephan, uma adolescente de 14 anos que organizou a greve de Washington D.C. a partir de Bethesda, Maryland. "Mas em apenas 11 anos, os danos das mudanças climáticas não poderão ser desfeitos. Isso é simplesmente algo que eu escolhi não aceitar."

    E quando os jovens se deram conta, viram que pouca ou nenhuma providência estava sendo tomada para resolver o problema. Então, Stephens e muitos outros perceberam que eles eram os responsáveis por mudar o cenário.

    "A ignorância não é uma benção", diz Stephan. "É a morte. É um crime contra o nosso futuro".

     

    Um movimento que não para de crescer

    As greves fazem parte de um movimento maior que teve início no outono de 2018, quando Greta Thunberg, uma adolescente sueca, passou a ocupar uma área externa em frente a um prédio do parlamento em Estocolmo, com cartazes e um propósito: forçar os líderes de seu país a reconhecerem as mudanças climáticas (e, com esperança, fazerem algo significativo a respeito). Ela batizou suas ações de "Greve Escolar pelo Clima".

    No início, as greves chamaram pouca atenção, mas foram crescendo cada vez mais. Jovens ao redor do mundo começaram a organizar suas próprias greves solitárias às sextas-feiras em suas cidades. Nos EUA, uma jovem de 13 anos, Alexandria Villasenor, se agasalhou e começou a fazer greve em um banco em frente à sede das Nações Unidas em Nova York, suportando o frio; Haven Coleman, 12 anos, ocupou à área em frente à Casa do Governo em Denver, no Colorado.

    Porém, realizar a greve semanal não foi fácil para muitos jovens, especialmente quando não tinham o apoio da escola, dos amigos ou dos familiares. Como disse Isra Hirsi, 16 anos, uma das líderes da U.S. Youth Climate Strike na sexta-feira, nem todos podem deixar de ir à escola ou conseguem chegar a lugares onde receberiam atenção. Mas isso não significa que não se importam com as mudanças climáticas ou que não queiram fazer nada a respeito.

    Hirsi e outros jovens ativistas queriam organizar um dia para reunir os jovens do país de forma mais coesiva e visível.

    "É ótimo quando você consegue fazer uma greve toda semana", disse ela, "mas também é um privilégio conseguir fazer isso. E há tantas pessoas que se importam com a questão e não podem deixar a escola toda a semana ou até mesmo sair para participar dessa grande greve na sexta-feira, e queremos que a voz de todos seja ouvida".

    "Estamos lutando pelas nossas vidas"

    Na sexta-feira em todos os EUA, jovens se reuniram em mais de 100 greves. Na véspera, os celulares das líderes ainda recebiam inúmeras solicitações para a inclusão de mais locais ou perguntas de onde os jovens deveriam ir, o que levar e como se envolver no movimento.

    Em Washington, as organizadoras da greve nacional se reuniram, enviaram mensagens e fizeram planos até tarde da noite. Elas terminaram uma sessão de planejamento de mãos dadas, respirando fundo, conforme Nazar falava calmamente sobre o que estavam lutando.

    "Estamos lutando pelas nossas vidas, pelas pessoas em todo o mundo que estão sendo afetadas, pelos ecossistemas e pelo meio ambiente que estão aqui há milhões e milhões de anos e que estão sendo devastados pelas nossas ações em apenas algumas décadas", disse ela.

    "Um crime contra o nosso futuro"

    Em outubro de 2018, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) emitiu um relatório que advertia que, sem uma ação internacional séria e coordenada para frear as emissões de gases de efeito estufa, é praticamente certo que o nosso planeta vai esquentar mais de 1,5 grau Celsius e que os impactos desse aquecimento possivelmente serão muito mais nocivos e devastadores do que se pensava anteriormente. O prazo? Reduzir as emissões até 2030.

    Muitos jovens ao redor do mundo tomaram conhecimento do prazo, fizeram as contas e perceberam que nessa época estariam vivendo a fase que deveria ser a melhor de suas vidas.

    "Tenho muitas metas e sonhos a serem realizados até eu completar 25 anos", diz Karla Stephan, uma adolescente de 14 anos que organizou a greve de Washington D.C. a partir de Bethesda, Maryland. "Mas em apenas 11 anos, os danos das mudanças climáticas não poderão ser desfeitos. Isso é simplesmente algo que eu escolhi não aceitar."

    E quando os jovens se deram conta, viram que pouca ou nenhuma providência estava sendo tomada para resolver o problema. Então, Stephens e muitos outros perceberam que eles eram os responsáveis por mudar o cenário.

    "A ignorância não é uma benção", diz Stephan. "É a morte. É um crime contra o nosso futuro".

    *Colaborou Miguel Vilela no Brasil. 

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