Artista autodidata tece plumagem de aves extintas em crochê
Laurel Roth Hope esculpe manequins de pombos comuns e depois, os veste com roupas de crochê que lembram belas aves levadas à extinção por humanos.
Esta reportagem é parte da edição de janeiro de 2018 da revista National Geographic Brasil. Publicada por ContentStuff.
Os carcarás da Ilha de Guadalupe, ao largo da Península Baja California, só passaram a ser valorizados quando estavam prestes a desaparecer. Abundantes na ilha mexicana em 1876, esses falconídeos, considerados uma praga, foram sistematicamente abatidos a tiros ou mortos por envenenamento. No final do século 19, as endêmicas aves de rapina haviam se tornado muito raras – e só despertavam o interesse de colecionadores. Passaram a ser capturadas vivas para serem vendidas pelo melhor preço. Mesmo assim, acabaram se extinguindo – o que as torna um tema apropriadamente irônico para Laurel Roth Hope.
Anos atrás, Hope, artista autodidata que já foi guarda-florestal, se surpreendeu observando pombos comuns. “Comecei a pensar sobre o que nos leva a conferir valor a coisas raras, e como isso afeta o modo como vemos os animais”, diz. “Aí, pensei em juntar as duas coisas.”
Hope concebeu uma obra replicável, que chamou de Trajes de Recuperação da Biodiversidade para Pombos Urbanos. “Quis fazer algo bem-humorado, pois a extinção das espécies pode facilmente ser um tema pesado”, comenta. A artista começa esculpindo os pombos em resina. Depois, escolhe a padronagem e as cores de pontos para fazer um “modelo em 3D de crochê” da plumagem de uma ave extinta. (Para Hope, o crochê, com a sua base matemática, tem uma adequação natural para reproduzir os padrões plumários.) Por fim, ela ajusta o traje no manequim, tal como o faria um alfaiate. “Os trajes funcionam como um véu”, explica ela, “colocando aquilo que não queremos ver – a deterioração ambiental e a extinção das espécies – embaixo de algo que se poderia dizer mais atraente.”