Peixe-cego de cavernas pode ser o segredo para tratar diabetes

Estes peixes sem olhos têm apetite insaciável e alta taxa de açúcar no sangue. Cientistas tentam descobrir como eles se mantêm saudáveis.

Por Sarah Gibbens
Publicado 26 de mar. de 2018, 10:54 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Peixe-cego, Astyanax mexicanus, no zoológico de Tulsa.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

Para compreender o diabetes humano, uma doença que afeta cerca de 12 milhões de pessoas apenas no Brasil, dificilmente alguém buscaria um peixe-cego que vive nas cavernas escuras do México.

Mas pesquisadores de Harvard estão estudando o pequeno peixe para aprender como ele pode combater essa doença em humanos.

As descobertas publicadas recentemente na revista Nature mostram que o peixe é altamente adaptado para regular o açúcar em seu sangue.

“Não sabemos se estudar o peixe vai nos ajudar diretamente, mas a evolução experimentou muitas variações genéticas ao longo de milhões de anos e eu acho que isso é mais inteligente do que qualquer coisa que possamos criar, mesmo com o aprendizado das máquinas. Acho que seria besteira não investigar”, disse um dos autores do estudo, Nicolas Rohner, em uma coletiva de imprensa.

Usando uma ferramenta de sequenciamento de genes chamada Crispr, o grupo de geneticistas descobriu que o peixe é resistente à insulina.

A insulina é uma chave essencial para transformar a glicose do sangue (também chamada de açúcar do sangue), advinda da nossa alimentação, em energia. É como uma senha que permite que a glicose entre em nossas células.

Em pessoas com diabetes tipo 2, a insulina não funciona corretamente ou não está sendo produzida em quantidade suficiente, o que normalmente resulta em altos níveis de açúcar no sangue. Similarmente, os peixes de cavernas também têm altos níveis de açúcar no sangue, mas, surpreendentemente, isso causa poucos impactos na saúde.

Estudos anteriores dos peixes descobriram que eles têm um gene que os leva a ter um apetite insaciável. Em seres humanos, essa condição é perigosa, mas ajuda os peixes a armazenar gordura para os períodos de escassez de comida. Isso os ajuda a sobreviver em cavernas que têm uma abundância inconstante de algas, fonte primária de comida.

Os pesquisadores compararam os peixes com uma espécie semelhante mais magras – um peixe de rio com visão que não tem resistência à insulina como os peixes-cegos. Ambas as espécies vivem vidas igualmente longas.

Híbridos do peixe de rio e de caverna foram criados em laboratório e o resultado foram filhotes previsivelmente gordos e que mostravam altos níveis de açúcar no sangue. Peixes-zebra foram injetados com a mutação da resistência à insulina. Eles também ganharam peso e se tornaram resistentes à insulina.

Quando seres humanos tem altos níveis de açúcar no sangue, as proteínas em nossas células ficam cobertas de açúcar, o que as leva ao mal funcionamento.

“Os peixes de cavernas têm altos níveis de açúcar no sangue, mas suas proteínas não ficam cobertas de açúcar. Como eles fazem isso?”, pergunta Misty Riddle, uma das autoras do artigo.

Ao entender melhor como os peixes vivem vidas saudáveis com altos níveis de açúcar no sangue, pesquisadores acreditam que poderão desenvolver estratégias que poderão ajudar os humanos a viver com diabetes.

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