Mudanças climáticas estão tornando as aranhas maiores. E isso é uma coisa boa

Altas temperaturas fazem com que a aranha-lobo ignore seu alimento favorito, ajudando indiretamente o meio ambiente.

Por Theresa Machemer
Publicado 30 de jul. de 2018, 12:17 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A aranha-lobo é um dos principais predadores da tundra. Sua atividade tem efeitos sobre as cadeias ...
A aranha-lobo é um dos principais predadores da tundra. Sua atividade tem efeitos sobre as cadeias alimentares subterrâneas, as taxas de decomposição e os nutrientes do solo, mas esses efeitos são diferentes sob temperaturas mais quentes que o normal.
Foto de Kiki Contreras

A TUNDRA ÁRTICA está repleta de predadores, mas não daqueles que você espera: por biomassa, as aranhas-lobo superam os lobos-do-ártico por, pelo menos, 80 a 1.

Esse impressionante cálculo, publicado na PNAS pela exploradora da National Geographic Amanda Koltz, poderia influenciar em nosso entendimento de como o Ártico responderá à futura mudança climática.

Seu estudo revela que, em maiores temperaturas e densidades de população, a aranha-lobo muda seus hábitos alimentares, iniciando uma cascata em todo o ecossistema, que poderia mudar a velocidade de decomposição do permafrost que se derrete.

Aracnídeos do Ártico

A atividade humana, especialmente a liberação de gases que causam o efeito estufa, está prejudicando o planeta - e o Ártico está esquentando duas vezes mais rápido do que o restante da Terra.

O aquecimento do Ártico é particularmente preocupante porque, à medida em que a região esquenta, o permafrost - uma camada congelada de solo e coisas mortas - começa a derreter, permitindo que fungos e bactérias o decomponham. A decomposição libera gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, que aceleram mais a mudança climática.

As aranhas-lobo estão maiores com os anos de derretimento de gelo precoce, sugerindo que poderia haver mais aranhas-lobo a medida em que o clima esquenta. Aqui temos uma aranha-lobo fêmea com ela.
Foto de Amanda Koltz

Koltz, ecologista do Ártico da Washington University, em St. Louis, estuda não apenas como o clima quente afeta as relações predador-caça, mas também como as mudanças nessas relações afetam o ecossistema em geral. "Eu realmente senti que o elemento animal estava potencialmente ausente nessa história", ela diz.

Os cientistas souberam por quase uma década que a mudança climática afetaria as populações de aranhas. Um estudo de 2009 mostrou que um Ártico mais quente, com primaveras precoces e verões mais longos, poderiam tornar as aranhas-lobo maiores e - como aranhas maiores produzem mais descendentes - mais abundantes.

Aranhas-lobo comem majoritariamente insetos e aranhas menores do que elas, e também são adeptas do canibalismo; se a população ficar densa demais, elas comem umas às outras. Mas uma de suas comidas favoritas é um artrópode comedor de fungos chamado colêmbolo. Se a aranha-lobo comer mais ou menos colêmbolos, como variará a quantidade de fungos do Ártico e a taxa resultante da decomposição por fungos?

Com tudo isso em mente, Koltz estabeleceu ecossistemas experimentais de um metro e meio de largura no extremo norte do Alasca. Durante dois verões, ela e sua equipe monitoraram como a temperatura e o número de aranhas mudavam a mistura de organismos dentro desses canteiros isolados do permafrost.

Lotes experimentais foram usados para testar os efeitos das densidades alteradas da aranha-lobo e do aquecimento nos organismos subterrâneos, na decomposição e na disponibilidade de nutrientes no solo. Aqui temos um espaço em temperatura ambiente e dois que foram experimentalmente aquecidos. Ao fundo, estão as encostas do Brooks Range, no Alasca.
Foto de Amanda Koltz

Pequenos, mas poderosos

Em altas temperaturas, a decomposição acontece mais rapidamente e as aranhas-lobo são mais ativas, então Koltz esperava que, quando seus miniecossistemas esquentassem, suas aranhas-lobo reduziriam drasticamente a população de colêmbolos. Mas Koltz descobriu o contrário.

Nos espaços com mais aranhas, elas, na verdade, comeram menos colêmbolos. Essas populações maiores de colêmbolos comeram mais fungos, o que diminuiu a taxa de decomposição. Entre os espaços mais quentes, aquele com mais aranhas decompôs menos do que espaços quase sem aranhas. De uma forma, as aranhas estão ajudando a combater a mudança climática na tundra ártica.

Essa descoberta inesperada recebeu elogios dos especialistas. "A novidade do trabalho da Dra. Koltz é que mostra que ela (a mudança climática) não apenas tem impactos diretos nesses importantes animais que habitam no solo, como também nas complexas interações ecológicas entre as espécies da tundra", disse por e-mail o entomologista do Canadian Forest Service (Serviço Florestal Canadense), Joseph Bowden, que não participou do estudo de Koltz.

Mas ainda não está claro por que as aranhas em alta densidade perdem seu apetite por colêmbolos. Pode ser que, em altas populações, as aranhas, ao invés de comerem colêmbolos, compitam entre si e comam umas às outras. Ou pode ser que a alta temperatura tenha as levado a encontrar uma fonte diferente de alimento. Koltz diz que o próximo passo nessa linha de pesquisa seria identificar como exatamente a dieta das aranhas muda.

"Costumamos esquecer sobre os pequenos animais porque eles não são tão visíveis quanto os grandes mamíferos", diz Koltz. "Mas acho que é muito bom pensar em como esses pequenos animais também têm impactos importantes no ecossistema".

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