Por que os caranguejos são os ‘fashionistas’ do fundo do mar?

Cobrindo-se com tudo, de algas a ouriços, estes crustáceos sabem utilizar acessórios para sua própria segurança.

Por Liz Langley
Publicado 13 de set. de 2018, 11:12 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Não tem nada aqui... um caranguejo-decorador no Mar Vermelho usa um pedaço de coral mole como ...
Não tem nada aqui... um caranguejo-decorador no Mar Vermelho usa um pedaço de coral mole como camuflagem para não chamar atenção.
Foto de Chris Newbert, Minden Pictures, National Geographic Creative

A MAIORIA das pessoas costuma ver os caranguejos como um simples amontoado de pernas, mas eles enfrentam várias encrencas para ficarem espetaculares.

As 7 mil espécies de caranguejos existentes têm aparência que varia de assustadora a fofa e até surreal. Algumas são fashionistas e outras fazem escolhas de moda bem estranhas – como perucas tóxicas.

Encantados e surpresos com o seu visual, não podemos deixar de nos perguntar: “Por que às vezes os caranguejos se enfeitam?”.

O que você está vestindo?

O caranguejo que atende pelo conveniente nome de caranguejo-esponja, da África Ocidental e do Mediterrâneo, utiliza esponjas na cabeça e no corpo, mas não para chamar atenção, e sim para desviá-la.

A esponja camufla os caranguejos contra os predadores e algumas espécies de esponjas também emitem substâncias tóxicas ou nocivas, deixando o caranguejo pouco atrativo aos predadores.

Os caranguejos-esponja usam o par de patas traseiro “para segurar uma esponja intacta em cima do corpo,” afirma Jay Stachowicz, um ecologista marinho da Universidade de Califórnia, em Davis. "É comum eles modelarem a esponja de forma que ela cubra uma grande parte das carapaças”, ou do exoesqueleto duro.

Milhares de pequenos crustáceos vermelhos flagrados em praia
Mais ou menos do tamanho do seu dedão, caranguejos vermelhos pelágicos não são caranguejos de verdade.

Por outro lado, os caranguejos-decoradores “possuem cerdas em formato de gancho sobre toda a carapaça que funcionam como velcro para prender todo tipo de decoração”, diz Stachowicz.

Cada espécie de caranguejo usa um tipo de coisa.

“Alguns são bem exigentes,” diz ele. Eles “se protegem contra predadores usando algas tóxicas ou anêmonas-do-mar urticantes”, que, como as esponjas, podem disfarçar o caranguejo e deter os predadores.

Outros “utilizam materiais de acordo com o que encontram no ambiente”, simplesmente se fundindo com ele.

Eremitas com colegas de quarto?

Os caranguejos-decoradores do sul dos Estados Unidos são os “decoradores mais extremos”, diz Stachowicz, cobrindo-se de anêmonas e briozoários, pequenos animais-musgo que podem ter aparência de planta ou aspecto peludo ou gelatinoso.

Os caranguejos-carregadores (família Homolidae) do Indo-Pacífico e da África Oriental possuem patas traseiras especializadas que os permitem suportar o peso de um ouriço-do-mar como escudo quando vão dar uma volta. Alguns ouriços possuem espinhos venenosos, mas quem vai querer descobrir se esse é um deles?

E também há o caranguejo-ervilha do tamanho de uma ervilha, que não se preocupa nem um pouco em se fantasiar. Ele apenas se esconde dentro de outro animal.

Os caranguejos-ervilha vivem dentro de bivalves, como mexilhões e ostras, afirma Judith Weis, bióloga marinha na Universidade de Rutgers e autora do livro Walking Sideways: The Remarkable World of Crabs (em tradução livre: Andando de lado: o extraordinário mundo dos caranguejos).

Dependendo da espécie, eles podem ser comensais, sendo um inofensivo passageiro, ou parasitas, pegando alimentos que o mexilhão poderia aproveitar e deixando o hospedeiro um pouco mais magro.

Por fim, os caranguejos-eremita possuem um exoesqueleto resistente na metade dianteira e protegem a metade traseira mais vulnerável se abrigando em conchas de caracol descartadas. Seus corpos moles se enrolam para se ajustarem nas conchas em espiral, embora, infelizmente, alguns encontrem casas menos adequadas – feitas de lixo descartado por humanos.

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    Um caranguejo-esponja com cerdas na Austrália do Sul utiliza uma esponja como disfarce. Os caranguejos-esponja moldam as esponjas para um melhor ajuste.
    Foto de Fred Bavendam, Minden Pictures, National Geographic Creative

    Conforme crescem, diz Weis, precisam procurar conchas maiores, “da mesma forma que as crianças em fase de crescimento precisam de sapatos maiores”.

    Alguns eremitas até reforçam a defesa, anexando uma anêmona à concha de caracol. Caso mudem para uma nova concha, removem as anêmonas das antigas conchas e as grudam às novas, diz Weis.

    As anêmonas se beneficiam da mobilidade do caranguejo, que proporciona novos pontos de alimentação aos quais essas criaturas imóveis não teriam acesso em outras circunstâncias.

    As anêmonas também podem ficar com alguns restos, se o caranguejo hospedeiro for “descuidado ao comer”, afirma Weis.

    Decoração alegre

    Os caranguejos pom-pom, também chamados de caranguejos-boxeadores, possuem pequenas garras nas quais carregam pequenas anêmonas, “o que permite que o caranguejo se defenda melhor e tire vantagem do alimento que a anêmona captura”.

    E, por último, mas não menos importante, os caranguejos-eremita (família Diogenidae) do Indo-Pacífico são um tipo de eremita que nem se preocupa com a concha – eles se cobrem apenas com a anêmona e podem puxá-la mais para cima ou para baixo sobre o corpo, como se fosse um lençol.

    Parece uma relação extremamente confortável para um eremita.

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