Esta magnífica coruja enxerga de olhos fechados

Dos gritos alucinantes ao contorcionismo das cabeças, estas aves são realmente incríveis. O que está por trás de seu carisma?

Por Liz Langley
Publicado 15 de fev. de 2019, 17:30 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A coruja-baía-oriental (vista aqui no Penang Bird Park) domina a arte da camuflagem.
A coruja-baía-oriental (vista aqui no Penang Bird Park) domina a arte da camuflagem.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

Os olhos da coruja são tão grandes que eles não conseguem se mover dentro da órbita — e é por isso que precisam daquele giro de cabeça estilo Exorcista, tudo isso graças a um complexo sistema.

As corujas são mesmo magníficas em tudo, desde os gritos fantasmagóricos até o contorcionismo das cabeças e os olhos cheios de vida.

O que mais contribui para o mistério que envolve a ave, e quais segredos estão por trás de seu carisma?

Para começar, o crânio se assenta sobre um único ponto pivô —permitindo mais movimentação que os nossos dois pontos-pivôs —, e o pescoço do animal tem 14 ossos, enquanto o nosso tem sete.

Os vasos sanguíneos do pescoço da coruja são maiores que os de outros animais e ficam ainda maiores à medida que se aproximam da cabeça, para "não distorcerem o fornecimento de sangue", diz James Duncan, autor do livro Owls of the World, de 2018.

Cara de radar

As faces redondas das corujas não são só bonitinhas — elas atuam como pratos de satélite.

A parte traseira do disco facial conta com camadas sobrepostas de penas rígidas e densas, "apertadas o suficiente para formarem uma superfície sólida e direcionar o som para o ouvido, assim como as nossas mãos quando as colocamos em forma de concha nas orelhas para ouvirmos melhor", diz Duncan. “Ao manipular o formato do disco facial, a coruja pode direcionar esses sons direto para o ouvido”.

Uma coruja-das-neves voa sobre Maine. A espécie, dos ambientes frios, acasala sobre a tundra do Ártico.
Foto de Robbie George, Nat Geo Imaga Collection

É com essa audição excepcional que as corujas-lapônicas, as aves com os maiores discos faciais dentre as corujas, conseguem detectar presas abaixo de até 45 cm de neve. As corujas com discos faciais menores, como a coruja-das-neves do Ártico, costumam caçar mais pela visão que pelo som.

Mestres da manipulação

As corujas-baías-orientais do sul da Ásia podem manipular os discos faciais para criar a aparência de chifres, observa Duncan.

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    Isso pode se dar para fins de camuflagem — para romper o aspecto de coruja do animal — ou para expressar alguma emoção. Os grandes olhos negros da coruja-baía-oriental também contam com pálpebras brancas com cortes que lhes permitem literalmente enxergar com os olhos fechados.

    As corujas-de-face-branca do norte da África, apelidadas de "coruja-transformer", têm especial dramaticidade na capacidade de se fazerem parecer maiores ou desaparecerem, dependendo da situação.

    A coruja-das-torres é uma das aves mais amplamente distribuídas da Terra, aparecendo na América do Norte, África e Europa.
    Foto de Niels Kooyman, Minden Pictures/ Nat Geo Image Collection

    Por exemplo, essas aves podem comprimir a plumagem para parecerem menores e apertar o corpo para misturar as penas com as árvores ao redor, diz Duncan.

    Ou, para intimidar os agressores, elas podem se transformar em "corujas gigantes", abrindo as asas e expandindo os olhos.

    A coruja-lapônica da América do Norte nem precisa fingir. É a maior espécie, com quase um metro. (A menor é o mocho-duende, do sudoeste dos EUA e México central, que mede cerca de 12 centímetros)

    A espécie norte-americana, que está em perigo de extinção na Califórnia, também é incrivelmente resistente. Um incêndio de grandes proporções que queimou cerca de um quarto do território da espécie, em 2013, não causou maiores danos a essas aves, de acordo com um novo estudo publicado na revista The Condor: Ornithological Applications. As corujas ainda fazem os ninhos nas mesmas florestas e a população continua estável.

    Decoradoras criativas

    Uma coruja-buraqueira sentada na entrada do seu buraco, na Flórida.
    Foto de Tom Vezo, Minden Pictures/Nat Geo Image Collection

    Em vez da própria aparência, as corujas-buraqueiras da Flórida transformam seus lares subterrâneos

    Allison Smith, estudante de pós-graduação do Departamento de Ecologia e Conservação Silvestre da Universidade da Flórida, afirma que as corujas rurais decoram a casa e arredores com cocô de vaca e coiote, ao passo que as corujas urbanas e mais refinadas optam por cocô de cachorro e lixo. Todas elas incorporam itens das presas e outros objetos naturais.

    Essa decoração com excrementos pode afastar os predadores, atrair deliciosos insetos ou servir de ritual de cortejo, afirma Smith. “Descobri um buraco no ano passado com mais de 50 pontas de cigarro, e outro com pernas de 72 sapos", conta Smith.

    Esse, sim, é um gesto romântico de verdade.

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