Raríssimos, coiotes mutantes de olhos azuis se espalham pela Califórnia

Cinco coiotes com olhos azuis, uma cor de olho nunca antes vista, foram fotografados no estado norte-americano — sugerindo que essa rara característica esteja se propagando.

Por Callie Broaddus
Publicado 5 de fev. de 2019, 16:11 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um raro coiote de olhos azuis em Point Reyes National Seashore, pertencente ao um grupo de ...
Um raro coiote de olhos azuis em Point Reyes National Seashore, pertencente ao um grupo de pelo menos cinco na região. Os cientistas acreditam que a mutação responsável por essa coloração esteja se espalhando.
Foto de Brad Hyland

Fotógrafo e guia do Point Reyes National Seashore, no norte da Califórnia, Daniel Dietrich encontrou um animal incomum: uma fêmea de coiote com olhos azuis. Azul é uma cor de olho incrivelmente rara em coiotes, e provavelmente tenha sido resultado de uma mutação aleatória.

Agora, parece que a característica está se espalhando. Nos últimos meses, pelo menos quatro outros coiotes com olhos azuis foram vistos e fotografados em um raio de cerca de 160 quilômetros da costa.

Dietrich, que encontrou o primeiro coiote em uma linda manhã de abril, inicialmente não achou que o animal tinha algo de especial. Alta, de pernas finas, pelagem marrom prateada para camuflagem e orelhas grandes e triangulares para ajudá-la a achar esquilos escondidos na grama.

Contudo, ao passo que quase todos os coiotes possuem íris na cor marrom dourada, a dela era de um azul vívido. A National Geographic investigou a descoberta de Dietrich em junho de 2018, considerando o coiote possivelmente "um em um milhão".

Dois coiotes de olhos azuis, possivelmente irmãos, procuram por alimentos em um campo logo antes do anoitecer em Santa Cruz, Califórnia. O terceiro coiote que eles acompanhavam, que não foi fotografado, tinha olhos castanho-escuro.
Foto de Carter Kremer

Desde então, coiotes de olhos azuis foram vistos e fotografados a leste, próximo de Sacramento, e ao sul, nos arredores de Santa Cruz. Sabe-se que dois vivem em Point Reyes—uma lesão ocular em um dos olhos levou o fotógrafo David Kramer a definitivamente identificar o segundo.

Na cor azul

Devido à natureza isolada do fenômeno, e a completa falta dele em outra região do país, os cientistas agora trabalham com a hipótese de uma mutação nos genes que definem a cor dos olhos ocorrida pela primeira vez há diversas gerações, e esses animais recentemente documentados são descendentes próximos de um mutante original que representa "um em um milhão".

Os coiotes tendem a se distanciar de sua região natal após um ano ou dois em busca de novo território, normalmente viajando de 15 a 30 quilômetros ou mais por áreas urbanas e atravessando rodovias perigosas—incluindo a Golden Gate em São Francisco. Sendo assim, uma distância de 160 quilômetros poderia ser facilmente percorrida em algumas gerações.

Ao passo que a ocorrência de tal mutação seja rara, a hipótese alternativa—a introdução de um gene por meio de hibridização com cães domésticos—é ainda mais improvável nesse caso.

O cruzamento entre coiotes e cães é possível, formando "coicães". Esses animais normalmente apresentam alterações significativas na cor da pelagem e traços e proporções faciais diferentes, afirma Stan Gehrt, ecologista silvestre da Universidade do Estado de Ohio e explorador da National Geographic. Mas Gehrt nunca observou mudanças na cor dos olhos.

Olhos castanhos-dourados foram selecionados ao longo de milhões de anos na evolução dos coiotes. "Eles possuem a cor que mais se adequa ao ambiente em que vivem e ao estilo de vida que levam", explica Juan Negro, cientista especializado na cor dos olhos de animais.

Desta forma, a íris azul provavelmente não é vantajosa para esses animais e pode até mesmo trazer desvantagens, como interferir na camuflagem ou causar maior sensibilidade à luz, complementa Negro.

Em outros animais, como os cães, olhos azuis foram selecionados por cruzamentos artificiais. Os lobos, por exemplo, não possuem íris azul.

De todo o jeito, os coiotes estão melhores agora do que no passado. O homem matou ou afastou muitos de seus predadores, como os lobos e as onças-pardas (e, mais antigamente, carnívoros ferozes, como lobos pré-históricos e felinos dentes-de-sabre). Assim, a pressão seletiva sobre esses animais é diferente—e menos intensa.

Sem a presença desses grandes predadores, é provável que os olhos azuis tenham menos chances de serem eliminados do fundo genético, afirma Negro. De acordo com os fotógrafos, todos os cinco coiotes de olhos azuis que foram observados parecem estar saudáveis e caçando com sucesso, o que significa que o gene possa ter vindo para ficar.

Pouco estudados

Para esses grandes representantes de uma espécie cujo papel ecológico no controle de roedores e doenças é amplamente subestimado, as maiores ameaças à sobrevivência parecem ser as mesmas que para qualquer outro coiote: carros, caçadores e o governo dos Estados Unidos.

Cerca de 500 mil coiotes são mortos por ano na América do Norte, sendo que aproximadamente 80 mil deles são vítimas de métodos de controle letais—incluindo abatimento por arma de fogo—realizado por oficiais federais com o dinheiro da população. Apesar desses esforços de controle populacional, os coiotes perseveram.

E eles continuam sendo pouco estudados, na maioria dos casos, afirma Camilla Fox, fundadora e diretora executiva da ONG local Project Coyote.

Ao compreender melhor os coiotes, diz ela, que são os únicos caninos encontrados apenas na América do Norte, "acredito que poderíamos aprender muito sobre adaptabilidade e resiliência... em vista de problemas ecológicos e sociais".

Até os pesquisadores conseguirem estudar esses magníficos mutantes por meios científicos—como instalar colares para rastreá-los e analisar seu DNA—os fotógrafos locais continuarão juntando as peças da história, de foto em foto.

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