O que aprendi investigando o turismo de vida selvagem

Muitas vezes, turistas nem imaginam que os animais com os quais interagem são maltratados por seus donos. A repórter Natasha Daly dá algumas dicas de como perceber se um estabelecimento está agindo de maneira ética.

Por Natasha Daly
Publicado 30 de mai. de 2019, 14:03 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
No Vale dos Elefantes em Chiang Rai, na Tailândia, os turistas são instruídos a observar os ...
No Vale dos Elefantes em Chiang Rai, na Tailândia, os turistas são instruídos a observar os animais a uma distância segura.
Foto de Kirsten Luce, National Geographic

De imediato, o vale dos elefantes na Tailândia pareceu diferente. A propriedade, abrigada na floresta nos arredores de Chiang Rai, uma pequena cidade no norte da Tailândia, foi a quinta atração com elefantes que visitei em uma semana. Assisti a apresentações em que os elefantes chutavam bolas de futebol e giravam bambolês. Vi gente passear nas costas deles e balançar nas trombas. Espiei nos estábulos a que os elefantes voltavam depois do trabalho, onde eram acorrentados a postes pelas canelas.

Mas o Vale dos Elefantes era calmo. Foi a primeira vez na semana toda em que vi elefantes à distância. Um tomava banho em uma lagoa, sozinho. Outros dois se alimentavam no meio de um campo. Cercas de madeira contornavam a maior parte dos campos – para nos manter afastados e não para mantê-los confinados, contou John Lee, gerente do Vale dos Elefantes. Foi o que mais me impressionou: ninguém podia tocar os animais. Esses elefantes estavam sendo elefantes (Conheça os motivos pelos quais estamos dando ênfase ao turismo de animais silvestres).

O Vale dos Elefantes na Tailândia ”foi o santuário de elefantes mais responsável que visitamos”, afirma a repórter Natasha Daly.
Foto de Kirsten Luce, National Geographic

O Vale dos Elefantes da Tailândia, lar de cinco elefantes que trabalharam anteriormente em acampamentos de trilhas e na indústria madeireira, é diferente da maioria das demais atrações com elefantes da Tailândia. Muitos dos 3,8 mil elefantes mantidos em cativeiro no país vivem em acampamentos que oferecem experiências interativas de perto que permitem que visitantes passeiem nas costas de elefantes, deem banhos nos animais ou assistam a seus espetáculos. As atividades atraem viajantes do mundo todo, parte de uma lucrativa indústria global que une pessoas com animais exóticos promovendo encontros únicos.

Foi isso que me levou à Tailândia, onde fique por um mês como parte de uma viagem maior em companhia da fotógrafa Kirsten Luce aos quatros continentes ao longo de um ano e meio para produzir uma reportagem especial para a revista National Geographic. Nosso objetivo era simples: buscar animais que servem para entretenimento e as pessoas que os procuram. Essas pessoas somos todos nós: eu e você. Tenho uma fotografia minha com dois anos de idade, empoleirada nas costas de um elefante em um zoológico em Toronto, minha cidade natal, no Canadá. Oito anos atrás, na minha lua de mel, fui nadar com arraias-manta mantidas em cativeiro no México. Mas, sete anos depois, ao fazer uma reportagem, me peguei observando um grupo de turistas com um filhote de tigre. Eles tinham pagado alguns dólares para dar leite na mamadeira para ele e eu fiquei imaginando se mais ninguém estava questionando por que ele não estava com a mãe.

É uma questão complexa. As pessoas adoram animais e naturalmente querem um contato estreito com eles – além de querer conhecê-los melhor. É um desejo alimentado cada vez mais pelas mídias sociais, que possibilitam a troca de experiências dos viajantes em tempo real. A realidade que muitos turistas não enxergam é que, para manter o negócio, as interações com elefantes – e sessões de fotos com tigres e de nado com arraias-manta – dependem de um suprimento constante de animais silvestres de trabalho, todos eles capturados, reproduzidos ou treinados para serem submissos.

E é fácil demais não notar os sinais de sofrimento. Elefantes em cativeiro balançam as trombas para frente e para trás – quase como se estivessem dançando. Na realidade, é um sinal de estresse psicológico. Bichos-preguiças parecem adorar carinho, mas o abraço deles na verdade é apenas uma tentativa de se agarrar ao que lhes parece um tronco de árvore. Os golfinhos parecem estar sorrindo, mas é a formação natural das bocas deles.

Cada vez mais, viajantes estão percebendo que muitas atrações turísticas com animais podem não ser éticas. Um número cada vez maior de mochileiros está evitando passeios de elefante.

A indústria está ciente disso. Dezenas de propriedades na Tailândia agora se designam como “santuários”. Muitas parecem bastante com o Vale dos Elefantes e se vangloriam de uma avaliação de cinco estrelas em sites de viagem como o TripAdvisor. Mas eu e Kirsten descobrimos que, ao contrário do Vale dos Elefantes, quase todos oferecem banhos com elefantes a visitantes que desejam se molhar com um elefante em um rio ou poço de lama. Geralmente, o banho se repete o dia todo. E apenas elefantes treinados se submetem aos banhos.

Jack Highwood abriu o Vale dos Elefantes em 2016. A propriedade, com cerca de 16 hectares, é o segundo santuário de elefantes dele, depois de um muito maior que ele abriu no Camboja. Ele optou por ir devagar com o santuário da Tailândia, instalando um cercado de madeira simples e infraestrutura mínima para servir de exemplo de um modelo simples de ser copiado. Vários visitantes do Vale dos Elefantes me contaram que o local transmite uma sensação de paz – como se os elefantes nem percebessem que estavam lá.

Ao viajar pelo mundo, conversei com turistas de toda parte: em restaurantes e albergues, em aquários e apresentações de macacos. Eu geralmente perguntava se preferiam uma experiência de contato próximo com um animal em cativeiro ou observá-lo de longe na natureza. Na maioria dos casos, respondiam a última opção. Ainda assim, encontros em cativeiro continuam extremamente populares. Talvez pela certeza de que o animal será avistado. Talvez porque os animais parecem felizes e o preço do ingresso contribuirá com o contracheque de alguém. Talvez, possivelmente a maior motivação de todas, por oferecer a você uma fotografia sua com um animal exótico que poderá ir diretamente para suas mídias sociais, com garantia de curtidas e comentários.

No Pacífico, na região de North Shore de Oahu, no Havaí, EUA, há uma praia chamada Laniakea, mais comumente chamada de praia das Tartarugas porque as tartarugas-marinhas frequentam o litoral regularmente. Elas escolhem um lugar e dormem ao sol, às vezes, por horas a fio. Todos os dias voluntários comparecem para manter as pessoas afastadas dos animais. Quando uma tartaruga sai do mar, os voluntários isolam a área ao redor com cordas, oferecendo à tartaruga espaço de sobra para relaxar em paz.

Em um dia de semana de setembro, sentei com dezenas de turistas atrás das cordas e reparei enquanto eles observavam uma tartaruga. Na maior parte, as pessoas eram respeitosas. Algumas perguntaram por que não podiam tocá-las. Os voluntários explicavam que era proibido tocar tartarugas-marinhas no Havaí, além de ser importante respeitar o espaço delas. Essa praia também é delas, afinal de contas.

Pode ser difícil para a maioria das pessoas distinguir experiências com animais silvestres éticas das problemáticas. Há muitas variações intermediárias, mas é possível seguir algumas diretrizes simples:

Mantenha a distância. Procure experiências que ofereçam observação de animais apresentando comportamentos naturais em ambientes naturais.

Faça sua pesquisa. Um lugar com avaliação alta não necessariamente é humano. Leia as opiniões com avaliação de uma e duas estrelas. Em geral, é nas decepções que se encontram visitantes que registram preocupações com o bem-estar de animais.

Cuidado com frases de efeito. Em sua página da Internet ou em seus materiais publicitários, um estabelecimento pode usar frases como “contribui com a conservação”, “resgate” e “santuário”, mas se ele ainda oferece uma interação extensa, pode ser um alerta.

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