Tartaruga ‘extinta’ redescoberta após um século

A tartaruga-gigante-de-Fernandina desapareceu há mais de 100 anos. Agora resta uma esperança para recuperar sua população.

Por Jill Langlois
Publicado 9 de jun. de 2019, 07:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A tartaruga-gigante-de-Fernandina havia sido confirmada viva pela última vez em 1906.
A tartaruga-gigante-de-Fernandina havia sido confirmada viva pela última vez em 1906.
Foto de Galápagos National Park Directorate

Quando Washington Tapia encontrou uma tartaruga-gigante-de-Fernandina na ilha homônima em Galápagos, foi como ganhar na loteria.

"Essa foi a realização mais importante da minha vida porque trabalho com conservação de tartarugas há 30 anos", afirma o diretor da Iniciativa de Recuperação de Tartaruga Gigante (GTRI) da Galápagos Conservancy, organização sem fins lucrativos, e líder da expedição. "Foi basicamente como ganhar um Oscar".

Tapia e a equipe de quatro guardas-florestais do Parque Nacional de Galápagos: Jeffreys Malaga, Eduardo Vilema, Roberto Ballesteros e Simon Villamar, além de Forrest Galante, apresentador e biólogo do Animal Planet, que financiou a expedição, ficaram emocionados quando encontraram a fêmea de Chelonoidis phantasticus em Fernandina, um vulcão ativo do tipo escudo e o mais jovem das Ilhas Galápagos.

O último avistamento confirmado da espécie foi registrado em 1906. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) tinha colocado a tartaruga-gigante-de-Fernandina em sua Lista Vermelha como possivelmente extinta até 2017, dois anos após Malaga se deparar com fezes do réptil no parque e três anos após a inauguração da GTRI. Sua designação foi então alterada para criticamente ameaçada.

"Foi uma clara indicação de que ainda existiam tartarugas ali", afirma Tapia.

Estima-se que essa fêmea tenha 100 anos de idade. Considerando que tartarugas gigantes vivem até 200 anos, há esperança de que ela possa ajudar no ressurgimento da espécie.
Foto de Galápagos National Park Directorate

No domingo de 17 de fevereiro, a equipe partiu às 6h da manhã em busca de fragmentos de vegetação entre os incontáveis fluxos de lava da ilha. Só perto do meio-dia foram encontrados possíveis excrementos de tartaruga em um trecho que media pouco menos de um quilômetro quadrado. Quando Tapia viu uma cama de tartaruga (com o solo empurrado para o lado e nítidas marcas na terra de sua carapaça e patas), ele sabia que estavam perto. Malaga foi o primeiro a avistar a tartaruga (inicialmente, a uma distância aproximada de 4 quilômetros e confundindo-se com um trecho de vegetação) mas foi um triunfo para a equipe toda.

"Trouxe um novo ânimo para saberem que a conservação é possível e que é necessário mudar as atividades do homem para ela prosseguir", disse Tapia.

A tartaruga fêmea, com idade aproximada estimada em 100 anos, foi levada pela equipe ao centro de procriação na Ilha de Santa Cruz, uma decisão tomada por Tapia porque a área onde ela vivia possuía poucas fontes de alimento por perto e, se deixada em Fernandina, seria difícil encontrá-la novamente. Tartarugas tendem a se deslocar bastante e a ilha, com aproximadamente 600 quilômetros quadrados, é uma área grande demais para procurar. Seu terreno acidentado, em razão dos abundantes fluxos de lava, torna um desafio a localização de animais.

Mas Tapia e sua equipe esperam encontrar mais. Durante essa busca em Fernandina, eles localizaram mais trilhas de tartaruga no solo a aproximadamente 1,6 quilômetros de onde descobriram a fêmea. A equipe planeja outra expedição à ilha mais tarde neste ano.

Enquanto isso, eles coletarão amostras de DNA da tartaruga fêmea para enviá-las à Universidade de Yale, que conta com especialistas em tartarugas gigantes, a fim de confirmar se ela é mesmo da espécie Chelonoidis phantasticus. O processo pode levar meses, mas Tapia não tem dúvida de que ela seja da espécie.

Quando forem encontradas outras, ele espera poder recuperar o tamanho de sua população e devolvê-las a seu habitat natural. Tartarugas podem viver até 200 anos, então, apesar de sua idade avançada, a tartaruga fêmea ainda tem bastante tempo para ajudar no ressurgimento da espécie.

Não é a primeira vez que foram feitas iniciativas de conservação e procriação para restaurar uma população criticamente ameaçada de tartarugas de Galápagos nas ilhas. A Galápagos Conservancy procriou mais de 7 mil tartarugas em cativeiro, que foram então soltas na natureza, resgatando-as da beira da extinção. Uma espécie da Ilha Espanhola, dizimada a meras 14 tartarugas no início das tentativas de procriação, possui agora uma população superior a mil indivíduos.

No total 15 espécies de tartarugas de Galápagos foram identificadas ao todo em Galápagos, das quais duas foram extintas e 12 estão ameaçadas de extinção (a décima quinta também está extinta, mas nem sempre é inclusa em listas oficiais porque nunca foi descrita formalmente)

Contudo, para Tapia, a descoberta da tartaruga-gigante-de-Fernandina é mais do que apenas o retorno de uma espécie.

"As tartarugas das Ilhas Galápagos são como engenheiros do ecossistema", disse ele. "Elas contribuem com a dispersão de sementes e moldam o ecossistema. Esse papel ecológico é vital".

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