Morcegos regurgitam néctar para seus filhotes, diz novo estudo

Diversas mães do reino animal desenvolveram formas diferentes de alimentar sua cria, muitas vezes até sacrificando suas próprias vidas.

Por Mary Bates
Publicado 23 de jul. de 2019, 07:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um morcego-de-língua-longa-de-pallas se alimenta de néctar. As fêmeas dessa espécie possuem um método nunca antes documentado ...
Um morcego-de-língua-longa-de-pallas se alimenta de néctar. As fêmeas dessa espécie possuem um método nunca antes documentado de alimentar seus filhotes.
Foto de Christian Ziegler, Nat Geo Image Collection

QUALQUER MÃE HUMANA pode confirmar que manter um bebê alimentado e feliz pode ser uma tarefa hercúlea. É por essa razão que algumas mães do reino animal desenvolveram estratégias realmente criativas — e muitas vezes surpreendentes.

Por exemplo, todos os mamíferos produzem leite para seus filhotes, mas muitas espécies tiram a comida do próprio prato, por assim dizer, para sua cria.

O morcego-de-língua-longa-de-pallas (Glossophaga soricina), um morcego da América Central e do Sul que se alimenta de néctar das flores, assim como o beija-flor. Conforme recentemente relatado pelos cientistas em um novo estudo, essas mães, além do leite, alimentam seus filhotes com néctar regurgitado. Os filhotes de morcego lambem as bocas de suas mães e elas os satisfazem vomitando uma refeição doce para eles. Essa é a primeira evidência de alimentação boca a boca em morcegos que consomem néctar.

O coautor do estudo, Andreas Rose, ecólogo da Universidade de Ulm, na Alemanha, explica que a descoberta levanta algumas questões intrigantes.

“O gasto energético das mães é menor ao alimentar seus filhotes diretamente em vez de produzir leite?”, Rose diz por e-mail.

Também é possível que o comportamento tenha benefícios não nutricionais para os filhotes de morcego, como a transferência de micróbios do intestino ou o auxílio no aprendizado dos processos sociais da alimentação.

Além dos morcegos, outros animais — como peixes, répteis e invertebrados — fazem os alimentos dos filhotes mamíferos parecerem banais, de forma positiva. Veja nesta matéria alguns exemplos de coisas inusitadas que os pais oferecem como alimento à sua cria.

Os filhotes de acará-disco-azul (Symphysodon aequifasciatus) se alimentam de muco dos corpos de seus pais no Japão.
Foto de Fumitoshi Mori, Minden Pictures

Peixes que alimentam os filhotes com muco

Para a maioria dos peixes, os deveres parentais para com seus filhotes acabam no momento em que eles nascem. Mas um grupo de ciclídeos nativos do Rio Amazonas, denominado acará-disco, atua mais como as mães mamíferas, cuidando de seus pequenos.

Tanto o pai quanto a mãe alimentam seus filhotes com muco secretado por todo o corpo. Esse comportamento pode durar até um mês, até que o jovem peixe tenha idade suficiente para buscar seu próprio alimento.

E tem mais, o conteúdo nutricional e imunológico do muco muda à medida que o filhote se desenvolve, parecido com o leite produzido pelos mamíferos.

Mães cobras que se alimentam de sapos tóxicos

A cobra-tigre-asiática (Rhabdophis tigrinus) se envenena ao ingerir sapos e ao armazenar compostos químicos, usados como defesa pelos sapos, em estruturas especializadas do seu pescoço. As mães transmitem essas toxinas para seus filhotes por meio do ovo e da gema, provendo armamento químico para os filhotes de cobra antes da eclosão.

Ao que tudo indica, durante a gravidez, as cobras fêmeas deliberadamente procuram por presas venenosas. Sapos venenosos são mais raros que as presas comuns, portanto é um gasto energético alto procurar por esses sapos. Mas essas mães se esforçam para que seus filhotes sejam venenosos o bastante desde o nascimento.

Aranhas que fornecem “leite” para seus filhotes

As mães das espécies de aranha-saltadora nativas do Japão (Toxeus magnus) alimentam sua cria com uma substância parecida com o leite durante algumas semanas após o nascimento.

Os filhotes de aranha bebem esse leite, que contém quase quatro vezes mais proteína do que o leite de vaca, a partir da superfície do ninho e diretamente do corpo da mãe.

As mães aranhas alimentam e cuidam de sua ninhada por mais de um mês, até que as pequeninas cheguem à maturidade completa.

Mães cecílias alimentam a cria com sua própria pele

Em algumas espécies de anfíbios, que se assemelham às minhocas, denominadas cecílias, os filhotes se alimentam da pele gordurosa das costas de sua mãe. Após botar seus ovos, uma camada externa rica em nutrientes e gordura se forma nas mães cecílias. Os filhotes, que nascem com uma série de dentes especializados, raspam essa camada e a ingerem.

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    Uma cecília fêmea se entrelaça com seu filhote. Esses filhotes rasgam e se alimentam da pele de sua mãe, que se regenera a cada três dias.
    Foto de Hilary Jeffkins, Nature Picture Library

    Os pesquisadores descobriram que uma semana após o nascimento da cria, as mães cecílias perdem um sétimo de seu peso corporal para seus filhotes famintos.

    O impressionante sacrifício materno

    Em algumas espécies de insetos e aracnídeos, as mães literalmente morrem por seus filhotes. O nome disso é matrifagia — que literalmente significa, ingerir a mãe. Permitir que os filhotes se alimentem de seu corpo nutritivo aumenta as chances de sobrevivência deles.

    A aranha Stegodyphus lineatus alimenta sua cria regurgitando alimento líquido por cerca de duas semanas. Em seguida, o filhote a mata e a come.

    Um estudo mostrou que, após botar os ovos, as fêmeas começaram a digerir seus próprios corpos. Um pouco antes de seu filhote a ingerir, parte do estômago da fêmea se torna líquido.

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