Como os feromônios ajudam as abelhas-rainhas a governar e os lêmures a ‘flertar’

Os sinais químicos transmitidos pelo odor exercem uma forte influência sobre o comportamento de vários animais silvestres.

Por Liz Langley
Publicado 8 de set. de 2020, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Os lêmures-de cauda-anelada machos soltam um odor que atrai as fêmeas (na imagem, uma mãe e ...

Os lêmures-de cauda-anelada machos soltam um odor que atrai as fêmeas (na imagem, uma mãe e seu filhote em Anja Park, Madagascar) em um fenômeno chamado “flerte fedorento”.

Foto de Cyril Ruoso, Minden Pictures

Em seu trono, no centro de uma colônia de abelhas, a rainha determina todos os aspectos de seu reino, da coleta de alimento pelas operárias à construção de novos favos de mel.

Ela realiza essa façanha impressionante por meio de compostos químicos invisíveis chamados feromônios. Ao cuidar da rainha, os súditos assimilam moléculas ricas em informações e as circulam por toda a colônia.

Transmitidos pelo ar, por terra e até pela água, esses chamados químicos da natureza enviam mensagens sobre a disposição sexual, o território e os melhores locais para encontrar alimento.

“Um feromônio é um sinal que evoluiu do ponto de vista do remetente”, afirma Tristram Wyatt, zoólogo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que estuda a evolução dos feromônios.

Por exemplo, um composto nos feromônios das abelhas impede as abelhas operárias de coroar outra rainha, garantindo, assim, o domínio da monarca.

Isso é diferente de, por exemplo, um mosquito que rastreia um animal pelo odor, já que o animal não está emitindo o odor em benefício próprio, observa Wyatt.

Mamíferos complexos

Apesar do grande avanço do conhecimento sobre feromônios nas últimas décadas, o primeiro deles a ser identificado pelos cientistas (o bombykol, odor produzido pelo bicho-da-seda fêmea) não ocorreu antes de 1959.

O “perfume” de um bicho-da-seda fêmea pode ser transportado por quilômetros até finalmente chegar aos receptores de feromônios localizados nas antenas de um macho. Quando atinge um bolsão de ar que contém o produto químico, o macho voa para cima e em zigue-zague até encontrar outro, seguindo a trilha química de volta até a fêmea.

Os receptores localizados nas antenas de um bicho-da-seda macho captam os feromônios da fêmea.

Foto de Fabio Pupin, Minden Pictures

Sinais olfativos também funcionam bem debaixo d’água, e peixes e crustáceos possuem o olfato bastante aguçado para detectá-los.

As lagostas-americanas acasalam em refúgios isolados e os machos dominantes comunicam sua hierarquia por meio de feromônios na urina, o que atrai as fêmeas à toca deles.

Os mamíferos, por outro lado, possuem uma dinâmica química corporal mais complicada e um conjunto complexo de comportamentos, o que torna mais difícil prever suas reações a sinais olfativos, como feromônios.

Os cientistas descobriram que algumas espécies domesticadas, como porcos, cães, cavalos, ratos e camundongos, reagem a sinais olfativos e a feromôniosNeurônios sensoriais na parte interna de seus focinhos enviam sinais ao sistema límbico do cérebro (uma parte primitiva do cérebro que regula as emoções e a memória) para que entrem em ação.

Ratos de laboratório, por exemplo, são criaturas sociais, e empregam feromônios para expressar uma série de informações, como a dominância, por meio de produtos químicos em sua urina. À medida que os machos se tornam mais influentes em seu grupo, excretam mais proteínas urinárias para sinalizar seu status e, dessa maneira, sua atratividade às fêmeas.

“Flerte fedorento”

Alguns cientistas observaram feromônios e sinais olfativos em animais silvestres, como os lêmures-de cauda-anelada de Madagascar.

Os machos desses primatas arborícolas esfregam secreções excretadas de seus pulsos e glândulas dos ombros em suas caudas, produzindo e lançando na direção das fêmeas em um processo conhecido como “flerte fedorento”. Christine Drea e colegas da Universidade Duke encontraram 122 compostos distintos em secreções de lêmures machos.

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Tóquio fizeram acréscimos a esse perfil de odores, encontrando três compostos químicos adicionais chamados aldeídos, que fazem com que as fêmeas permaneçam mais tempo próximas a odores de machos.

“Nossa surpresa foi que os odores identificados nesse estudo são  relativamente agradáveis aos humanos — frutados e florais”, afirma Kazushige Touhara, coautor do estudo, bioquímico da Universidade de Tóquio.

Para serem considerados feromônios sexuais, é preciso demonstrar que esses odores afetam apenas lêmures e que aumentam suas chances de copular, afirma Touhara. Se confirmado, seriam os primeiros feromônios sexuais já encontrados em primatas.

Os humanos possuem um bom olfato, mas não há consenso científico de que possuímos feromônios sexuais, afirma Wyatt. Como somos mamíferos, é provável que utilizemos outras formas de comunicações químicas, como detectar e evitar pessoas com infecções ou doenças.

Comportamento hormonal

Os hormônios também atuam como sinais olfativos.

Em um estudo, publicado na revista científica Hormones and Behavior, os cientistas descobriram que homens consideram o cheiro de uma mulher mais atraente quando ela está ovulando, e, portanto, mais fértil. É provável que isso ocorra porque os homens sejam capazes de detectar alterações cíclicas nos hormônios das mulheres, como uma elevação no estrogênio.

A testosterona, hormônio bastante conhecido, também provoca mudanças de comportamento em diversos animais machos. Elefantes-africanos machos passam por um período anual de aumento de testosterona, com duração de um mês, denominado “período de apetite sexual” (musth, em inglês), que indica sua disposição de lutar contra outros machos pelo domínio da manada.

Durante o “período de apetite sexual”, o macho fica mais agressivo e interessado no acasalamento, assim como um cervo no cio. Elefantes machos jovens, por outro lado, soltam um odor durante o “período de apetite sexual” semelhante ao aroma do mel, sinalizando aos outros machos que não são uma ameaça.

Aromas tranquilizadores

Alguns outros usos dos feromônios incluem a navegação, amamentação e até a tranquilização.

Enquanto procuram alimento, várias espécies de formigas emitem “trilhas de feromônios”, uma espécie de trilha química de migalhas de pão para guiar a si mesmas e umas às outras até as melhores fontes de alimento.

Filhotes de coelho-doméstico recém-nascidos respondem a um feromônio mamário liberado pelas glândulas ao redor dos mamilos da mãe que lhes permite encontrar rapidamente os mamilos e mamar. O feromônio também está presente no leite materno.

E talvez você nem perceba alguns odores secretos circulando em sua própria casa.

Gatos domésticos possuem glândulas olfativas no rosto e esfregam o focinho com esse cheiro em objetos, em outros animais e em pessoas. Chamado de “bunting” em inglês, esse comportamento produz um efeito calmante em seu amigo felino.

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