Populações de tubarões e arraias sofreram declínio de 70% nos oceanos em meio século

Segundo os especialistas, existem soluções como a regulamentação do comércio internacional de tubarões e uma pesca mais sustentável.

Por Tim Vernimmen
Publicado 5 de fev. de 2021, 07:00 BRT
O tubarão-martelo-panã (na imagem, um animal nadando nas Bahamas) está criticamente ameaçado de extinção.

O tubarão-martelo-panã (na imagem, um animal nadando nas Bahamas) está criticamente ameaçado de extinção.

Foto de Brian Skerry, Nat Geo Image Collection

Em alto mar, longe de qualquer continente, tubarões e arraias outrora eram abundantes. Anequins, os tubarões mais rápidos do planeta, perseguiam suas presas a velocidades superiores a 30 quilômetros por hora. Tubarões-martelo da espécie Sphyrna lewini cortavam as águas, varrendo a imensidão do oceano em busca de alimento com seus olhos grandes e outros órgãos sensoriais especializados.

Esses animais percorriam distâncias tão vastas e inacessíveis em mar aberto que muitos pescadores, e até mesmo alguns biólogos, tiveram dificuldade para acreditar que a pesca predatória seria uma ameaça a eles.

“Uma década atrás”, recorda Nicholas Dulvy, copresidente do Grupo de Especialistas em Tubarões da União Internacional para a Conservação da Natureza, “a inclusão de um tubarão oceânico na lista de animais ameaçados provocaria discussões extremamente acaloradas.”

Agora, uma análise abrangente das populações atuais e passadas forneceu um retrato mais nítido — e sombrio. Populações de 18 espécies de tubarões e arraias sofreram uma redução de 70% desde 1970, segundo um estudo publicado recentemente na revista científica Nature e como constatado por Dulvy e o coautor do estudo Nathan Pacoureau, ambos da Universidade Simon Fraser, no Canadá. Nesse ritmo, muitas das espécies podem desaparecer completamente em uma ou duas décadas, alertam os autores do estudo.

Quando a equipe de pesquisa analisou os dados populacionais do tubarão-galha-branca-oceânico, espécie comum em 1970, “ficou em um silêncio estarrecedor”, conta Dulvy.

A população do tubarão-galha-branca-oceânico “diminuiu 98% nos últimos 60 anos. O mesmo declínio foi observado em todos os três oceanos. “A União Internacional para a Conservação da Natureza atualmente lista a espécie como criticamente ameaçada de extinção.

Os tubarões-martelo-panã e os tubarões-martelo da espécie Sphyrna lewini tiveram destino semelhante. Embora a pesca raramente tenha como alvo tubarões oceânicos, se capturados, sua carne, barbatanas, placas de guelras e óleo de fígado geralmente são comercializados.

É uma notícia preocupante tanto para os tubarões quanto para a saúde dos oceanos, já que esses predadores no topo da cadeia alimentar desempenham um papel crucial nessa cadeia, em parte por equilibrar a população de predadores menores, segundo especialistas.

Rede de arrasto cerca peixes na Ilha de Iturup, no Extremo Oriente da Rússia. Essa técnica de pesca geralmente captura tubarões também.

Foto de Sergei Krasnoukhov, GETTY IMAGES

Mergulho nos dados

Para o estudo, Dulvy e Pacoureau coletaram todos os dados disponíveis sobre as 18 espécies que puderam encontrar em todo o mundo, muitos deles perdidos em relatórios governamentais ou acumulando poeira em discos rígidos antigos.

Uma conscientização pública cada vez maior sobre a conservação dos tubarões fez com que órgãos de manejo da pesca começassem a coletar dados sobre tubarões, fornecendo à equipe informações totalmente novas.

Os cientistas acabaram com 900 conjuntos de dados datados entre 1905 e 2018, cada um representando as mudanças na população de uma espécie ao longo do tempo em uma determinada região. Com a ajuda de especialistas internacionais e modelos de computador, a equipe extrapolou esses dados para obter as melhores estimativas da mudança global nas populações.

Também foi considerado o desenvolvimento de técnicas de pesca em mar aberto. A pesca de espinhel e a pesca de arrasto geralmente capturam tubarões acidentalmente e seu uso dobrou na última metade do século, ao mesmo tempo em que o número de tubarões oceânicos capturados por essas práticas quase triplicou.

“Esses dados associados com a raridade cada vez maior de tubarões implica que a probabilidade de um tubarão ser capturado atualmente é 18 vezes maior do que em 1970”, afirma Dulvy.

Dulvy acrescenta que a incerteza é inevitável em sua análise e que os autores provavelmente subestimaram os declínios de algumas espécies, sobretudo em áreas onde existe pesca predatória há muitas décadas.

Peixes tropicais são os mais atingidos

A maior redução ocorreu nas populações de tubarões e arraias nos trópicos, onde houve uma expansão da pesca em alto mar nas últimas décadas.

À medida que tubarões e arraias maiores se tornam raros, a pesca se volta a espécies menores, afirma Holly Kindsvater, bióloga populacional do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, coautora que estudou diversas arraias do gênero Mobula, algumas das quais podem ter sofrido uma redução de 85% nos últimos 15 anos.

Embora sua carne de fato sirva para a alimentação humana, suas placas de guelras se popularizaram recentemente na medicina chinesa. Essa mudança mostra como os pescadores podem recorrer a outras espécies quando sua presa original se torna escassa, conta ela.

“Não acredito que haja muitos barcos em alto mar em busca exclusivamente de tubarões e arraias. Mas, após começarem a pescar atum e esgotarem sua população devido à pesca predatória, os pescadores se voltam a outras espécies e encontrarão uma maneira de vendê-las.”

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    Pescando soluções

    O impacto da pesca predatória, acidental ou não, sobre os tubarões deveria motivar os governos a impor mais regulamentações com o objetivo de tornar a pesca sustentável, observa Dulvy. Ele acrescenta que também é importante limitar o comércio internacional de espécies ameaçadas de tubarão e arraia.

    Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Uma proposta de proibição da pesca de anequins ameaçados de extinção no Atlântico Norte foi recentemente bloqueada pela União Europeia e pelos Estados Unidos e um dos motivos é que a maior parte das capturas é feita pela Espanha, segundo Dulvy.

    “Os tubarões são a última fronteira ainda sem regulamentação”, conta ele, “e acredito que essa seja a razão de haver um pouco de resistência a seu manejo”.

    Essa proibição se revelou útil a outras espécies, afirma David Sims, biólogo da Universidade de Southampton, no Reino Unido, que não participou desse estudo. Sims publicou uma pesquisa revelando sinais promissores de recuperação dos grandes-tubarões-brancos e tubarões-sardos no noroeste do Atlântico, ambos protegidos da pesca (Saiba mais sobre seis tubarões dos quais provavelmente nunca ouviu falar).

    Segundo Sims, outras soluções incluem a criação de reservas marinhas ou o estabelecimento de zonas de proibição de pesca em áreas com abundância de tubarões.

    Jessica Cramp, fundadora da organização de pesquisa e conservação marinha Sharks Pacific e Exploradora da National Geographic, concorda. Ela ajudou a instituir diversas reservas de proteção e um santuário de tubarões nas Ilhas Cook para beneficiar espécies migratórias, incluindo tubarões.

    “Essas reservas podem oferecer refúgio a espécies como o tubarão-galha-branca-oceânico e o tubarão-lombo-preto, que esse estudo confirmou estarem em apuros”, observa ela.

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