Apesar do aspecto repugnante, parasitas mantêm os ecossistemas interligados

De vespas a vírus, os parasitas são seres fundamentais em uma cadeia alimentar saudável.

Por Troy Farah
Publicado 14 de out. de 2021, 07:00 BRT, Atualizado 14 de out. de 2021, 12:07 BRT
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Ancilóstomos parasitas se agarram à barbatana caudal de uma tilápia-azul.

Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

Muitas pessoas sentem repulsa e a maioria jamais deixaria um parasita habitar seu corpo intencionalmente. Apenas a palavra “parasita” — que vem do grego “alimentar-se junto a” — é suficiente para causar arrepios.

Mas o parasitismo deve ser respeitado como “uma forma de vida excepcionalmente bem-sucedida”, observa Jimmy Bernot, biólogo evolutivo do Museu Nacional Smithsoniano de História Natural em Washington, D.C., nos Estados Unidos. Animais, plantas, fungos, bactérias e vírus podem ser parasitas, de morcegos-vampiros a peixes Lophiiformes de águas profundas, cujos minúsculos machos mordem as fêmeas e assim se prendem permanentemente a elas.

O parasitismo é uma forma de simbiose — uma relação estreita entre dois organismos. Embora alguns parasitas, chamados de parasitoides, sejam fatais para seus hospedeiros, muitos não causam grandes problemas. Outros até protegem seus hospedeiros de outros parasitas, como vírus que protegem bactérias contra antibióticos. Fator negativo para quem está tomando o medicamento, mas positivo para o pequeno patógeno.

Parasitas coletam nutrientes de seus hospedeiros de diversas maneiras: alguns, denominados ectoparasitas, literalmente bebem o sangue ou se alimentam da pele de seus hospedeiros. Outros, denominados endoparasitas, instalam-se no interior de seus hospedeiros — como tênias ou moscas da família Oestridae.

Não há estimativas sólidas de quantas espécies existem no mundo, mas alguns especialistas acreditam que existam muito mais espécies de parasitas do que animais “independentes” — e a maioria dos parasitoides provavelmente ainda não foi descoberta.

Pessoa removendo sanguessuga da pele na Área de Conservação do Vale de Danum, em Bornéu, na Malásia.

Foto de Mattias Klum, Nat Geo Image Collection

O fato de existirem há muito tempo não surpreende, considerando que a estratégia de sobrevivência dos parasitas é se infiltrar em outras formas de vida. A primeira interação parasita-hospedeiro constatada em registro fóssil foi de um verme que se alojou em um braquiópode semelhante a um molusco, há 515 milhões de anos.

“Quando analisamos cadeias alimentares ou redes ecológicas, descobrimos, em alguns casos, que os parasitas constituem mais da metade das conexões entre as espécies”, conta Mackenzie Kwak, parasitologista da Universidade Nacional de Singapura. “A união entre esses ecossistemas são os parasitas.”

Além de sanguessugas

Sanguessugas são um tipo de verme e possivelmente os parasitas mais conhecidos. Existem 700 espécies, mas apenas cerca de metade delas sugam sangue. Elas vivem em todos os lugares da Terra, exceto na Antártica terrestre — mas nos oceanos ao redor do continente polar existem sanguessugas com tentáculos que lembram dedos sujos.

Parasitas são ainda mais habilidosos. Alguns exemplos são as moscas-sapeiras, que preferem viver nas narinas dos anfíbios, ou os peixes-comedores-de-língua, crustáceos que se agarram à língua de um peixe, um dos poucos exemplos de parasita que literalmente destrói o órgão do hospedeiro e o substitui.

Além de viver de seus hospedeiros, os parasitas adaptaram maneiras de esterilizá-los, invadir o sistema imunológico ou até mesmo influenciar o comportamento desses animais. Alguns fungos Cordyceps, por exemplo, transformam seus insetos hospedeiros, como formigas, em “zumbis”, forçando-os a subir bem acima do solo — um local ideal para dispersar os esporos do fungo — antes de matá-los. Os esporos caem no chão, pousando em um novo inseto e, dessa forma, dando sequência ao ciclo.

Alguns parasitas roubam recursos de outros seres indiretamente. O cuco-canoro, um parasita de ninhada que faz com que outras aves criem sua prole, coloca seus ovos no ninho de outra ave, a qual cria os filhotes sozinha.

Pequeno, mas poderoso

Alguns parasitas, embora pequenos, podem ter efeitos gigantescos nos ecossistemas aos quais pertencem. A simples erva da espécie Rhinanthus minor é uma planta parasita nativa da Europa que finca suas raízes na grama e filtra sua umidade até que seque.

“Essencialmente, onde não existem ervas R. minor, prados de flores silvestres se transformam em pastagens”, explica Kwak. “Quando há a presença de ervas R. minor, as gramíneas hipercompetitivas enfraquecem e, então, brota uma maravilhosa diversidade de flores em um prado de flores silvestres.”

Ao substituir gramíneas por flores silvestres, a R. minor também atrai insetos polinizadores que, por sua vez, atraem aves e anfíbios.

“Na realidade, ervas R. minor constroem a base que sustenta todo o prado de flores silvestres e ajudam essas sensíveis flores silvestres a prevalecerem”, salienta Kwak.

Parasitas de parasitas

Denomina-se hiperparasita o animal parasitário que hospeda outro parasita — fenômeno bastante comum. A vespa parasita Hyposoter horticola é parasitada pela Mesochorus cf. stigmaticus, outra vespa que põe seus ovos na larva da vespa H. horticola.

Em alguns casos raros, pode até haver hiper-hiperparasitas, como um fungo que se hospeda em um parasitário de outro fungo que, por sua vez, parasita uma árvore. Na Nova Zelândia, o fungo Rhinotrichella globulifera se alimenta de partes mortas do fungo Hypomyces c.f. aurantius que, por sua vez, se alimenta de fungos poliporos Fomes hemitephrus, que coloniza faias.

Salve os sugadores de sangue 

Apesar de sua importância, os parasitas são “bastante negligenciados”, afirma Jessica Stephenson, professora assistente da Universidade de Pittsburgh que estuda o parasitismo evolutivo.

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    Um fungo do gênero Ophiocordyceps brota dos restos de sua formiga hospedeira.

    Foto de Anand Varma, Nat Geo Image Collection

    Os programas de conservação, por exemplo, frequentemente negligenciam esses organismos. Os parasitas são mais ameaçados do que outros organismos, de diversas maneiras, principalmente pelas mudanças climáticas. Em primeiro lugar, existem os efeitos diretos do aumento das temperaturas globais, que no passado causaram inúmeras extinções em massa. Mas se um único hospedeiro de diversos parasitas for extinto, ele pode exterminar várias espécies de parasitas de uma só vez.

    “Dada a sua hiperdiversidade, isso pode significar que os parasitas hospedam a maioria das espécies ameaçadas de extinção”, escreveram Kwan e seus coautores em um estudo de 2020 que reitera um “plano global de conservação de parasitas”. O artigo descreve diversas maneiras de proteger os parasitas, como listá-los como espécies protegidas. 

    “Praticamente todo animal ameaçado de extinção acarreta o risco de extinção de parasitas, muitos deles sendo de espécies novas”, afirma Kwak.

    Kwak foi um dos primeiros a documentar o risco de extinção do carrapato da espécie Amblyomma javanense, que se hospeda no pangolim-malaio, criticamente ameaçado de extinção, originário do sudeste da Ásia. Ele também deu o nome comum em inglês a um dos parasitas mais raros da Austrália, a pulga da espécie Stephanocircus domrowi, parasitoide do gambá Gymnobelideus leadbeateri, criticamente ameaçado de extinção.

    É importante observar que essas iniciativas de conservação não se aplicam a parasitas humanos ou de gado, como o verme-da-guiné, que causa uma doença debilitante na qual o verme emerge da pele de uma pessoa, de acordo com o estudo.

    Mas em muitos outros casos, salienta Kwak, “essas espécies não são necessariamente prejudiciais para seus hospedeiros. Os parasitas são apenas passageiros nessa longa jornada evolutiva... e vale a pena protegê-los visando à integridade e estabilidade do ecossistema”.

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