Confira estes extraordinários “animais professores”

Segundo os biólogos, o que eles definem como professores se encontra em poucos animais, como orcas e suricatos. Eis aqui alguns dos mais destacados.

Por Brian Handwerk
Publicado 9 de set. de 2022, 15:39 BRT
Os suricatos adultos passam muito tempo ensinando seus filhotes a lidar com escorpiões perigosos, suas presas ...

Os suricatos adultos passam muito tempo ensinando seus filhotes a lidar com escorpiões perigosos, suas presas favoritas.

Os animais fazem todo tipo de coisas incríveis – e a forma em que eles aprendem tem intrigado os cientistas há muito tempo.

Alguns conhecimentos são herdados: as borboletas-monarca, por exemplo, migram do México para o Canadá usando um roteiro em seus genes. Outras espécies imitam habilidades e comportamentos, como um filhote de lobo cinza observando seu bando durante a caça de um alce. E outros ainda aprendem a sobreviver por tentativa e erro, como os corvos da Nova Caledônia, que descobriram que jogar pedrinhas em um jarro aumenta o nível da água.

Mas entre os não-humanos, o verdadeiro professor é uma raça rara, que inclui apenas um punhado de espécies, como alguns pássaros, primatas e insetos.

Por muito tempo, “houve uma importante resistência em acreditar que os animais ensinam, porque realmente é uma das características da humanidade que nos torna especiais”, diz Lisa Rapaport, ecologista comportamental da Universidade de Clemson, nos Estados Unidos.

Os biólogos também criaram uma definição específica do que constitui um animal professor: eles devem mudar seu comportamento na frente de um aluno, sem nenhum benefício imediato para si mesmos, e o aluno deve mostrar que adquiriu o conhecimento ou as habilidades, explica Rapaport.

Estes são os professores do mundo animal mais notáveis​​ que garantem que a escola esteja sempre em funcionamento.

Quando a comida ataca de volta

Os suricatos da África subsaariana vivem em “bandos” sociais de até 30 animais, nos quais a instrução prática faz parte do trabalho dos pais e outros ajudantes adultos que ensinam colaborativamente aos mais jovens.

Várias espécies de escorpiões são proeminentes no menu dos suricatos, mas sua picada mortal requer um manuseio cuidadoso. É por isso que, a princípio, os pais entregam para os recém-nascidos os aracnídeos mortos. À medida que os filhotes crescem, os professores suricatos tornam suas aulas de almoço gradualmente mais difíceis, como remover os ferrões de escorpiões vivos para torná-los inofensivos e deixar seus jovens praticarem a despachá-los.

À medida que os filhotes ganham habilidades e confiança ao lidar com os escorpiões, seus professores os trazem gradualmente mais escorpiões vivos ​​até que os alunos aprendem a remover com segurança o ferrão e matam a presa por si mesmos. 

Os suricatos adultos dedicam um tempo ao ensino que poderia ser gasto em outras atividades, mas isso funciona a seu favor. Dentro do bando, eles estão intimamente relacionados, por tanto, manter o grupo seguro e vivo perpetua os genes da família.

Aulas de música

Levando o aprendizado precoce ao extremo, esses pássaros australianos começam a ensinar seus filhotes antes do nascimento. A carriça (Malurus cyaneus) canta para seus ovos pelo menos 30 vezes por hora, expondo os embriões a um código musical que é único para cada fêmea. Uma vez no mundo, os filhotes usarão o som para pedir comida à mamãe e ao papai, que também aprende a melodia.

Em um estudo, Sonia Kleindorfer, bióloga da Universidade Flinders, em Adelaide, e colegas trocaram ovos entre ninhos de pássaros selvagens e descobriram que os filhotes produziam o chamado da mãe adotiva que cantava para eles, mostrando que não existe uma compreensão genética das chamadas. 

Há uma boa razão para essas aulas de canto: os cucos geralmente põem ovos nos ninhos das carriças para que possam evitar o fardo de incubar e criar seus próprios filhotes, um fenômeno chamado parasitismo de ninho. Mas os pais cucos fazem isso tarde demais para que seus embriões aprendam o som, então, cuidar apenas dos filhotes que conhecem o código garante que as carriças não percam tempo e comida valiosos alimentando impostores.

Mostrando o caminho a um amigo

Quando uma formiga-da-roça encontra uma nova fonte de alimento ou ninho, ela leva outra formiga até lá com uma técnica chamada corrida em tandem. A formiga conhecedora da rota guia o novato, fazendo pausas ao longo do caminho para que o aluno possa memorizar cada ponto de referência. O professor conta com o feedback do aluno, que afirma quando cada lição é aprendida; e com um toque de antena permite que o professor saiba que é hora de seguir em frente.

“A formiga professora coloca outro indivíduo na procura de um melhor local de ninho. Isso beneficiará todas as formigas da colônia e as ajudará a passar seus genes mais abundantemente para a próxima geração”, explica Nigel Franks, professor emérito de biologia da Universidade de Bristol, no Reino Unido, coautor de um estudo realizado em 2006 que documenta este comportamento – a primeira evidência publicada de um animal não humano ensinando outro.

Atualmente, Franks realiza experimentos com professores robôs para aprender quais aspectos da educação das formigas são os mais cruciais para o sucesso.

Manobras aquáticas arriscadas

As orcas comem presas muito diferentes, dependendo do lugar onde vivem. Na Noruega, elas trabalham juntas para reunir cardumes de arenque em aglomerados densos e, em seguida, atordoam os peixes com suas caudas antes do banquete. Na Antártida, elas se unem para tirar do gelo as focas-de-Weddell e comê-las. Os cientistas acreditam que, em algumas dessas situações únicas, os pais ensinam seus filhotes a capturar presas.

Na Patagônia, por exemplo, algumas orcas caçam filhotes de leões-marinhos na costa, encalhando-se intencionalmente. Os adultos mostram aos jovens como realizar essa manobra perigosa antes de começarem a caçar, ajudando seus alunos de volta para a água quando necessário. 

Nas águas do Alasca, as orcas foram observadas treinando seus filhotes para capturar presas em etapas, primeiro atordoando as aves marinhas com seus golpes para que os jovens possam pegar o jeito e praticar sua própria técnica de tapa.

Essas lições não são apenas exemplos de ensino, mas também de cultura, que ocorre quando um grupo acumula conhecimento social e o passa para a próxima geração, disse o explorador da National Geographic e fotógrafo da vida selvagem Brian Skerry.

“Eles não estão apenas ensinando a seus filhos as habilidades necessárias para sobreviver, mas também estão ensinando a eles suas tradições ancestrais, o que é importante para eles.”

Mestres em forragem

Os micos-leões-dourados da Mata Atlântica do Brasil são mestres em forragem, que apresenta mais de 150 tipos diferentes de frutas, insetos, pererecas, lagartos e outras presas.

“Se você é um garoto na floresta, onde diabos você enfia a mão para realmente encontrar algo sem ser mordido ou picado?” diz Rapaport, que estudou ensino e aprendizagem entre micos.

É por isso que os adultos usam um chamado “venha e pegue”, que inicialmente atrai os jovens para distribuição de comida, depois os apresenta a situações de forragem progressivamente mais difíceis, desde reconhecer um tipo de fruta até cavar um buraco de árvore em busca de presas.

“Durante o período em que os adultos estavam fazendo esse comportamento, o sucesso de busca de presas para crianças disparou, então, há evidências circunstanciais de que estava funcionando”, ressalta Rapaport.

Os adultos também eram mais propensos a oferecer novos alimentos aos seus jovens, diz ela. “Isso me indicou que os adultos estavam prestando atenção no que as crianças ainda não sabiam.”

Rapaport também observou os adultos realizando o que ela acredita ser uma característica incrível em professores não humanos: focar sua energia naqueles que mais precisavam.

“Não tínhamos a metodologia para dizer inequivocamente que eles reservavam o ensino para crianças que aprendiam devagar, mas essa foi a minha impressão”, observa ela. “Eu adoraria que alguém realmente pesquisasse isso cuidadosamente.”

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