Osso de dedo de 88 mil anos desafia a ciência sobre data de migração humana

O achado arqueológico, encontrado em lago pré-histórico na Arábia Saudita, pode ser evidência de que migrações foram geograficamente mais diversas do que estimado anteriormente

Por Sarah Gibbens
Publicado 11 de abr. de 2018, 11:37 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Osso de dedo de Homo sapiens encontrados no nordeste da Arábia Saudita.
Restos fósseis de um osso de dedo de Homo sapiens encontrados no sítio de Al Wusta no nordeste da Arábia Saudita.
Foto de Ian Cartwright

Há cerca de 85 mil anos, a península arábica era bem diferente da vasta extensão de areia que vemos nos dias de hoje. A paisagem da região era composta de uma pastagem que se tornava mais verdejante a cada período chuvoso, além de estar repleta de lagos de água doce.

Na hoje arenosa paisagem, pesquisadores encontraram evidências de que mamíferos aquáticos e semi-aquáticos, como os hipopótamos, estiveram ali. Estes animais são mais comumente associados ao subcontinente africano. Pesquisadores descobriram ainda ferramentas de pedra que sugerem presença humana primitiva na península, mas nenhuma evidência fóssil direta - pelo menos até agora.

Um único osso humano descoberto em 2016 em um antigo local de um lago na Arábia Saudita, chamado Al Wusta, foi datado de aproximadamente 88 mil anos, de acordo com um novo estudo publicado no jornal Nature Ecology and Evolution.

O sedimento branco encontrado em Al Wusta indica que o sítio já foi o local de um lago de água doce.
Foto de Klint Janulis

Os arqueólogos começaram examinando as imagens de satélite da região em busca de evidências de corpos pré-históricos de água doce. “Encontramos 10 mil lagos antigos na Arábia. Nós visitamos cerca de 200 e cerca de 80% têm evidências arqueológicas”, diz Michael Petraglia, do Instituto Max Planck, líder do projeto e autor no novo artigo que detalha a descoberta.

Muitos dos lagos da região teriam sido sazonais, observa Petraglia, encolhendo periodicamente nas estações secas e sendo reabastecidos durante a estação das monções. Al Wusta, no entanto, era provavelmente uma fonte de água doce durante todo o ano. De acordo com o estudo do co-autor Huw Groucutt, arqueólogos também encontraram centenas de fragmentos de ferramentas de pedra no sítio  do lago Al Wusta.

Saída antecipada

Quando exatamente os humanos começaram a deixar a África é uma questão de debate entre arqueólogos e paleoantropólogos. Muitos dizem que não há evidência confiável para a migração em massa do norte e do leste do subcontinente africano até 60 mil anos atrás.

Em 2007, Petraglia argumentou de forma controversa que os humanos modernos estavam presentes até o leste da Índia há 74 mil anos. "Estou envolvido neste debate há mais de 10 anos", diz ele.

“Estávamos argumentando que o Homo sapiens chegou ao sul da Ásia antes dessa data. Isso foi baseado em ferramentas de pedra, mas eu não pude comprovar isso com fósseis”, acrescenta.

Em 2014, ele voltou sua atenção para a Península Arábica. Como uma antiga pastagem que poderia ter apoiado caçadores-coletores, ele teorizou que teria sido um trampolim natural para fora da África.

Fósseis humanos primitivos achados no Marrocos colocam os seres humanos na África ocidental há 300 mil anos, mas poucos fósseis foram encontrados fora do continente antes de 60 mil anos atrás. Então, em janeiro, um osso de mandíbula humana de 180 mil anos foi encontrado em Israel.

Tanto Petraglia quanto Groucutt dizem que o osso humano encontrado na Arábia Saudita sugere uma migração humana geograficamente mais diversa do que a estimada anteriormente.

“Já visitamos uma centena de sítios diferentes na Arábia e quase todos têm ferramentas de pedra”, diz Groucutt. “Você não sai de um carro sem encontrar ferramentas de pedra. O desafio foi encontrar algum lugar com restos humanos".

A equipe de pesquisa sabe pouco sobre o osso de 2,5 centímetros de comprimento. Se pertencia a um homem ou uma mulher e a idade do ser humano em questão são detalhes que não puderam ser determinados ainda.

"Não acho que um osso seja suficiente para afirmar que se trata de um humano moderno", adverte John Hawks, antropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison, que não esteve envolvido no estudo. "Então, é cedo demais para dizer que este é o registro da dispersão humana moderna."

“Eu acho que isso mostra claramente que deveríamos estar explorando muito mais na península arábica, pois haverá mais descobertas lá.”

Mais achados por vir

Petraglia concorda que a Arábia Saudita, que recentemente expandiu o acesso ao reino para equipes científicas estrangeiras, oferece um grande potencial para descobertas mais significativas.

"A cada temporada que temos lá, fazemos uma nova descoberta", diz ele. “Temos planos muito grandes para continuar esse trabalho em lagos antigos e vamos expandir nosso trabalho também para as cavernas. É uma mina de ouro”.

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