Exclusivo: reconstituído crânio escandinavo encontrado em local de rituais enigmáticos na Suécia

O homem teve uma vida longa há oito mil anos, antes de seu crânio ser utilizado em uma cerimônia ainda desconhecida.

Por Kristin Romey
Publicado 22 de jun. de 2020, 17:09 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT

O crânio parcial utilizado para reconstituir o rosto deste homem foi descoberto com outros crânios humanos e ossos maxilares de animais que haviam sido depositados em um lago sueco por volta de 6 mil a.C. O artista que fez a reconstituição escolheu retratar o homem vestido com um manto com pele de javali: uma das espécies de animais também encontradas no lago.

Foto de Oscar Nilsson

FISICAMENTE IMPONENTE, um homem de aproximadamente 50 anos é retratado com a barba grisalha crespa e coberto de um manto de javali. Seu peito largo é representado pintado de giz e seus olhos azuis claros se estreitavam, como se visse algo à distância. Apelidado de Ludvig, ele viveu no norte da Europa há cerca de oito mil anos.

É uma pena, no entanto, que Ludvig não possa falar, pois os pesquisadores teriam muito a lhe perguntar.

Essa é a primeira reconstituição facial criada a partir de restos mortais humanos descobertos em escavações há cerca de uma década no centro-sul da Suécia em Kanaljorden, um curioso sítio arqueológico onde, por volta de 6 mil a.C., ossos de animais e humanos foram deliberadamente dispostos em uma plataforma de pedra submersa no meio de um pequeno lago. Kanaljorden ganhou as manchetes internacionais em 2018, quando pesquisadores publicaram um artigo sobre a escavação, observando que a madeira preservada inserida em dois crânios indicava que ao menos alguns crânios haviam sido montados sobre estacas. Era diferente de tudo que os cientistas já haviam visto.

“É um sítio arqueológico fascinante para se trabalhar e bastante complexo”, afirma Fredrik Hallgren, diretor do projeto Kanaljorden da Fundação do Ambiente Cultural KM da Suécia.

A reconstituição facial foi encomendada pelo Charlottenborgs slott, um museu na cidade vizinha de Motala, que sediará a exposição a partir de amanhã. O museu está localizado em uma mansão do século 17, construída pelo conde Ludvig Wierich Lewenhaup —homônimo do Ludvig primitivo.

Hannah Graffman, chefe de cultura e lazer de Motala, afirmou que a reconstituição ofereceria aos moradores da cidade a oportunidade de ver como era um de seus primeiros moradores. Seu apelido, admite ela, “realmente não é um nome da Idade da Pedra”.

Kanaljorden, onde as escavações ocorreram entre 2009 e 2014, é um local especialmente fascinante para arqueólogos que estudam o Mesolítico Escandinavo, um período posterior ao recuo das últimas geleiras da região e durante o qual grupos de caçadores-coletores do oeste da Europa continental e do nordeste da Europa como um todo começaram a se deslocar há cerca de 11 mil anos.

Os restos mortais encontrados em Kanaljorden são diferentes da maioria dos demais sepultamentos do Mesolítico Escandinavo, que geralmente eram feitos em terra. Nesse local, por volta de 6 mil a.C., crânios de nove homens e mulheres foram deliberadamente depositados no lago — talvez até montados todos sobre estacas — e intercalados com ossos maxilares (mas não crânios) de várias espécies de animais locais, como javalis, ursos, veados e texugos.

“É como se humanos e animais se complementassem de maneira simbólica”, conta Hallgren.

A natureza peculiar de Kanaljorden despertou o interesse de Oscar Nilsson, arqueólogo e escultor que estudou fotografias do local, para tentar entender o que teria motivado as pessoas da época a organizar cuidadosamente e submergir os ossos.

“Analisar os crânios e a forma como foram dispostos é como um vislumbre do mundo da imaginação e da religião dessas pessoas”, afirma ele.

Os pesquisadores conseguiram extrair dados de DNA a partir de seis dos nove crânios, o que lhes permitiu determinar a cor da pele, dos cabelos e dos olhos dos indivíduos. Alguns europeus do Mesolítico provavelmente possuíam um tom de pele mais escuro do que os atuais habitantes, um fato retratado nas recentes reconstituições de duas mulheres que viveram na Escandinávia na época da Ludwig ou posteriormente. Embora Ludvig tenha a pele e os olhos claros, o DNA de um crânio feminino que será reconstituído ano que vem indica que a mulher era loira, mas tinha um tom de pele mais escuro, confirmando a complexidade genética da Escandinávia nessa época.

Graffman está ansioso para saber como será a recepção de Ludvig pelos moradores de Motala do século 21 e considera a reconstituição uma forma de integrar os povos através do espaço e do tempo.

“É o que buscamos em todas as diferentes áreas, seja por meio dessa reconstituição, da leitura sobre outros povos ou da arte que nos conecta”, diz ela. “É importante encontrar elos entre pessoas.”

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