Como reduzir o risco de contrair covid-19 na viagem de fim de ano para visitar a família

Saiba o que os cientistas recomendam, como fazer testes e ficar de quarentena para viajar com segurança durante a pandemia de covid-19.

Por Nsikan Akpan
Publicado 24 de nov. de 2020, 07:00 BRT, Atualizado 24 de nov. de 2020, 10:48 BRT
Passageiros com roupas de proteção transportam sua bagagem no Aeroporto Internacional de Zaventem em Bruxelas, na ...

Passageiros com roupas de proteção transportam sua bagagem no Aeroporto Internacional de Zaventem em Bruxelas, na Bélgica, em 29 de julho de 2020.

Foto de Francisco Seco, AP Photo

A vontade de passar as festas de fim de ano com a nossa família é intensa, mesmo durante uma pandemia mortal — e em plena expansão. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos estão aconselhando os norte-americanos a ficar em casa. Assim como muitas pessoas, eu e minha mulher gostaríamos de viajar para visitar os pais dela, que já têm mais de 65 anos, mas queríamos fazer isso da forma mais segura possível. Será que testes de covid-19 ou outras medidas conseguiriam aumentar nossa confiança?

Como editor de ciências da National Geographic, venho cobrindo a pandemia de covid-19 desde janeiro, entrevistando diversos cientistas e produzindo uma série de artigos sobre todos os aspectos da doença, incluindo o início do surto do novo coronavírus em Wuhan, na China, e notícias sobre vacinas promissoras, porém ainda imperfeitas.

Mas há algo inquestionável: não há como eliminar todos os riscos de contrair o novo coronavírus SARS-CoV-2, durante viagens, mas certamente é possível minimizá-los. Essa espécie de mantra — e alguns conselhos de epidemiologistas e virologistas — ajudaram-me a criar um plano menos arriscado para viajar e passar algum tempo em ambientes fechados com parentes que são vulneráveis à doença. Veja a seguir meus principais questionamentos.

Máscara facial pendurada no espelho retrovisor de um carro em Santiago, Chile, em meio à pandemia de coronavírus.

Foto de Martin Bernetti, AFP via Getty Images

Precauções para viajar

Eu me senti desconfortável ao sair de casa em Washington, D.C. para viajar de avião à Califórnia no início deste mês. Minha mente estava inquieta repassando o número de casos, número de mortos, os conselhos do CDC para não viajar neste momento e as estatísticas sobre a covid-19 de que soube nos últimos 10 meses.

Apesar disso, havia me planejado como um cientista, analisando cada etapa da viagem e considerando os riscos para mim e qualquer outra pessoa que eu encontraria durante o trajeto. Em primeiro lugar, isso me obrigava a tomar precauções básicas na viagem que faria — usar máscaras, praticar distanciamento social, intensificar as medidas de higienização e participar apenas de eventos sociais ao ar livre.

“Nenhum método de limitar a disseminação do SARS-CoV-2 é perfeito, mas espero que, combinando diferentes métodos, seja possível obter um grau de segurança maior do que uma medida única ofereceria”, afirma Jennifer Nuzzo, epidemiologista que lidera a Iniciativa de Percepções de Testes da Universidade Johns Hopkins no Centro de Segurança de Saúde dos Estados Unidos.

Tudo se torna mais complicado e arriscado se você for dormir em algum local — ou festejar em ambientes fechados — em que amigos e familiares que não convivem com você estarão presentes. “Já sabemos que refeições com familiares foram classificadas entre os eventos supertransmissores mais comuns, nos quais inúmeras pessoas são infectadas com o novo coronavírus simultaneamente”, acrescenta Nuzzo. “O motivo provável é que as pessoas se descuidam mais quando estão em meio à própria família.”

É por isso que eu e minha mulher adotamos uma série de medidas, como testes, isolamento e outras precauções, em nossa viagem. São as recomendações de cientistas a todos que irão viajar, para que seja um pouco mais seguro no momento.

A importância da quarentena

Nada protege mais a nossa saúde e a de nossos parentes do que evitar qualquer interação com pessoas de fora de nossa casa por duas semanas antes de se encontrarem, o que significa não ir ao mercado e a cafeterias e nem mesmo praticar atividades ao ar livre.

Se desejarmos desfrutar de uma ceia com nossos avós ou nos reunirmos ao redor das árvores de Natal com nossos pais mais idosos, também é necessário fazer um período de quarentena, que é especialmente importante se formos ficar em um ambiente fechado por um período prolongado com alguém que tenha um risco maior de sofrer complicações graves em decorrência da covid-19.

Eu e minha mulher decidimos viajar à Califórnia duas semanas antes do Dia de Ação de Graças para que pudéssemos nos hospedar em um Airbnb e ficar de quarentena antes de ir à casa dos pais dela no feriado. Trabalhamos no local alugado, fizemos compras cuja entrega era deixada do lado de fora do mercado e saímos para caminhar separadamente. Os familiares de minha esposa também precisam se comportar da mesma maneira — o isolamento só é eficaz se todos colaborarem.

Se você for dirigir longas distâncias e puder evitar completamente outras pessoas (digamos, em um trailer ou com pernoite em aluguéis de curta duração com check-in sem contato), poderá fazer parte de sua quarentena durante o trajeto.

Por que os testes são essenciais

“Não restam dúvidas quanto a uma questão: um teste negativo não descarta completamente a possibilidade de exposição à covid-19”, esclarece Esther Babady, diretora do Laboratório de Microbiologia Clínica do Centro de Câncer do Memorial Sloan Kettering.

Seu resultado pode ser negativo e, mesmo assim, você pode ter sido contaminado com o SARS-CoV-2 — e transmiti-lo. Após a exposição, uma pessoa sem doenças pré-existentes leva cerca de cinco dias para desenvolver níveis mensuráveis do vírus, o que é denominado como “período de incubação”. Esse período nem sempre coincide com os sintomas, que podem demorar até 14 dias para se manifestar. Durante esse intervalo, o novo coronavírus pode ser transmitido a qualquer pessoa que tenha um contato próximo conosco. Cerca de 50% das transmissões de SARS-CoV-2 são causadas por pessoas assintomáticas.

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    Viajantes são testados para covid-19 no Aeroporto Internacional St. Paul em Mineápolis, em 12 de novembro de 2020.

    Foto de Elizabeth Flores, Star Tribune, via AP Photo

    O protocolo mais seguro para proteger a si mesmo, sua família e estranhos é obter três resultados negativos durante um período de duas semanas. Veja como funciona:

    Faça um teste logo antes de sua partida. Se der positivo, volte para casa e se isole por no mínimo 10 dias para evitar a disseminação do vírus a novos locais e pessoas. Se der negativo, entre em quarentena e mantenha as precauções básicas — máscaras, distanciamento social e lavagem das mãos — consciente de que cada contato próximo com estranhos pode significar uma nova exposição.

    Após o início da quarentena, Saskia Popescu, epidemiologista da Universidade George Mason, sempre faz os testes de covid-19 seis e 11 dias depois. O primeiro teste é para ter paz de espírito — porque é feito depois do período médio de incubação.

    Popescu faz o teste mais uma vez porque “estudos mostram que eventuais resultados positivos são detectados no décimo primeiro dia em 97% a 98% das pessoas contaminadas”.

    A opção mais confiável é um teste de reação em cadeia da polimerase (PCR), que tem precisão de praticamente 100% caso se aguarde tempo suficiente após a exposição ter ocorrido. Mas os resultados podem demorar horas, até mesmo dias, para ficarem prontos. Os testes rápidos fornecem resultados mais instantâneos, às vezes em 15 minutos, mas podem detectar até 16% de casos a menos do que os testes de PCR. “O que se ganha em velocidade se perde em precisão”, explica Popescu. “Não é muita diferença, mas prefiro o de PCR.”

    É necessário mesmo fazer mais de um teste?

    Se você não apresentar sintomas e seguir medidas rígidas de saúde em casa, não é necessário fazer o teste antes de viajar. Faça sua viagem de avião ou dirija até seu destino e faça o teste apenas no décimo primeiro dia de sua quarentena de duas semanas. Dessa forma, apenas cerca de 3% dos casos de covid-19 não serão detectados.

    Alguns lugares, como o estado de Nova York, recomendam que os viajantes façam quarentena por três dias, realizem o teste, viajem e repitam o teste quatro dias depois. É arriscado porque cerca de metade de todos os pacientes com covid-19 apresentam resultados positivos entre o quinto e o décimo primeiro dia após a exposição. “Estatisticamente, não há como saber se um caso não é detectado”, complementa Nuzzo.

    Onde fazer o teste

    Segundo as regras mais rígidas, a contagem da quarentena não começa até que haja o término do contato próximo com estranhos. Por essa razão, utilizamos testes em formato drive-thru em Los Angeles. Para saber onde são realizados testes em seus locais de partida e destino nos Estados Unidos, verifique as secretarias de saúde da respectiva cidade ou condado, que provavelmente têm mais informações do que fontes estaduais, sobretudo no que se refere aos custos. Embora os testes de covid-19 nos Estados Unidos devessem ser gratuitos, algumas pessoas se surpreenderam com contas médicas exorbitantes. Preste atenção nas letras miúdas.

    Se não for possível fazer o teste e entrar em quarentena antes de viajar, organize as festividades ao ar livre, mantenha uma distância de 1,8 metro e utilize sua máscara o tempo todo. “Incentive as pessoas a adotarem o maior grau possível de precauções de segurança, reconhecendo que não estamos em um momento ideal para viajar”, acrescenta Nuzzo.

    Como calcular o risco

    “Compare a quantidade de pessoas encontradas no decorrer de suas viagens com a quantidade que você costuma encontrar no seu cotidiano”, recomenda Nuzzo.

    Esse exercício mental pode dar uma ideia do seu nível de exposição durante uma viagem — e se faz mais sentido para você viajar de carro (minimização de contatos) ou de avião (maior interação com estranhos), ou até mesmo apenas ficar em casa.

    Caso você sinta um nervosismo por medo de contrair ou transmitir SARS-CoV-2, considere dois números simples em vez de calculadoras de risco sofisticadas.

    Os viajantes devem pesquisar o número de casos onde vivem e em seus destinos. Comece pesquisando quantas pessoas contraíram covid-19 recentemente em ambos os locais. “Essa informação indicará a probabilidade de encontrar pessoas contaminadas”, explica Nuzzo.

    Por exemplo, em Washington, D.C., onde eu e minha mulher moramos, havia um surto controlado de 13 casos para cada 100 mil moradores na semana anterior de nossa viagem, o que significa que cerca de 90 pessoas contraíram o novo coronavírus a cada dia. Compare esse número com Milwaukee, onde cerca de 900 novos casos foram registrados diariamente no mesmo período, o que significa uma taxa de casos de 97 para cada 100 mil pessoas. Viagens com origem ou destino à cidade de Wisconsin aumentam ainda mais a chance de contrair — ou transmitir — SARS-CoV-2.

    Considere também a taxa de testes positivos. Se for superior a 5% em um determinado local, governos e hospitais podem estar concentrando todos os seus recursos de testes em pacientes mais doentes, o que significa que casos leves e possíveis transmissores não estão sendo detectados. Um aumento rápido no número de testes positivos também pode sinalizar que o surto não está sob controle.

    Viagens aéreas

    A popularidade das viagens rodoviárias aumentou durante a pandemia, e dirigir até seu destino de férias — evitando o contato com outras pessoas — permite passar menos tempo em ambientes fechados com estranhos se comparado a viagens aéreas. Mas nós escolhemos viajar de avião, visto que uma viagem rodoviária levaria cerca de uma semana, e muitos especialistas afirmam que aviões são mais seguros do que se imagina.

    Lembre-se de que a transmissão de SARS-CoV-2 geralmente ocorre com o contato próximo entre as pessoas, aumentando sua exposição a gotículas respiratórias densas ou partículas menores, denominadas aerossóis, que permanecem suspensas no ar. Os sistemas de ventilação de aviões filtram 99% dessas partículas.

    “Milhares de pessoas estão viajando de avião e pouquíssimas estão contraindo covid-19 devido ao período em que permaneceram dentro do avião”, afirma Joe Allen, diretor do Programa de Edifícios Saudáveis da Faculdade de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade de Harvard.

    O perigo maior é o aeroporto, que Allen e outros especialistas afirmam representar o maior risco de contrair o novo coronavírus durante uma viagem aérea. Superfícies como scanners de identificação ou cestos nas filas de controle de segurança representam uma ameaça muito menor do que outros passageiros contaminados, mas o perigo se intensifica muito quando diversas pessoas tocam as mesmas superfícies.

    O labirinto de pessoas obriga a prática de distanciamento social, o uso de máscaras e a manutenção de uma boa higienização (traga álcool em gel para passar nas mãos!) nas filas de check-in e embarque. Se estiver com fome, coma longe de outras pessoas. “Sempre vejo (viajantes) comprarem comida para viagem e depois se dirigirem ao portão de embarque. Sentam-se sem máscaras, bem mais perto do que estariam em um restaurante”, relata Popescu, que viajou de avião a trabalho oito vezes nos últimos dois meses.

    Durante o voo, abra a saída de ventilação que fica acima de sua cabeça. Ela é filtrada e ainda cria uma camada de proteção invisível entre você e os passageiros vizinhos. “Essa ventilação ajuda a restringir a passagem de ar das outras fileiras”, ressalta Allen. Você pode se alimentar ou beber durante o trajeto desde que não fique sem máscara por mais de 15 minutos.

    Faça algumas verificações antes de reservar seu voo. Confira se sua companhia aérea mantém a ventilação ligada enquanto o avião está parado no portão de embarque, se o embarque é iniciado pelos assentos de trás ou pelos da frente e se a capacidade de voo é mantida abaixo de 60% para assegurarem a prática de distanciamento social. Todas essas práticas podem ajudar a garantir a sua segurança.

    “Não é um ambiente isento de riscos”, relembra Leonard Marcus, codiretor da Iniciativa de Saúde Pública da Universidade de Harvard. Mas “há maneiras de atenuar significativamente os riscos durante a pandemia de covid-19”.

    Máscaras e outras questões

    A fórmula de segurança de todos depende, em última análise, do nível de risco que nos dispomos a correr, ao mesmo tempo em que se considera o fardo colocado sobre os ombros dos outros caso se contaminem com SARS-CoV-2.

    Por exemplo, eu estava usando uma máscara comum de tecido para ir ao mercado ou caminhar por Washington, D.C. Contudo, para viagens prolongadas, escolhi aumentar o nível de segurança com as máscaras KN95 chinesas. São muito semelhantes às máscaras N95 — que filtram 95% das partículas — não recomendadas ao público em geral devido à escassez de estoque a profissionais de saúde.

    “A única diferença entre a KN95 e a N95 é o órgão certificador”, afirma William Ristenpart, engenheiro químico da Universidade da Califórnia, em Davis, cujo laboratório estuda a transmissão de doenças. Para evitar falsificações, verifiquei a lista de máscaras KN95s autênticas nos sites do CDC e da Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos.

    Certifique-se de que sua máscara tenha um bom ajuste. Eugenia Kelly, pesquisadora da Universidade de Cambridge, participou de um estudo sobre a eficácia de máscaras que constatou que um ajuste inadequado pode reduzir sua eficácia em até 40%. Os problemas ocorreram com mais frequência com as KN95s. “Essas máscaras quase caíram do rosto de muitos participantes”, observa Kelly. Sua equipe também pesquisou truques para evitar vazamentos, como colocar uma máscara cirúrgica embaixo de uma máscara apertada de tecido ou fechar as aberturas com fita adesiva e meia-calça.

    E a boa notícia? Até agora, meu plano funcionou. Eu e minha mulher tivemos resultados negativos para covid-19 duas vezes, seguimos nosso sistema de precauções e agora estamos reunidos há duas semanas com meus sogros (que também tomaram medidas de segurança). Sim, como qualquer outra viagem que seja feita no momento, essa viagem colocou a saúde de todos nós em risco. É irracional. É essencial. Mas família é assim mesmo.

    “É um dilema. Todos queremos ver nossa família e estamos cansados do confinamento”, conclui Nuzzo, da Universidade Johns Hopkins, que também viajou recentemente para visitar os sogros, vulneráveis, sem maiores problemas (Nuzzo ficou em quarentena por 14 dias antes de encontrá-los). “É tudo uma questão de tentar atenuar o risco o máximo possível.”

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