Como os sonhos podem prever o futuro

Segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro, os sonhos evoluíram nos mamíferos há 200 milhões de anos como um oráculo biológico probabilístico – uma ferramenta poderosa, mas subestimada pelos humanos modernos.

Por João Paulo Vicente
Publicado 24 de mar. de 2021, 12:05 BRT
“O sonho é uma tentativa de simular o amanhã com base no ontem; a recombinação disso ...

“O sonho é uma tentativa de simular o amanhã com base no ontem; a recombinação disso abre espaço para novas ideias e criatividade", argumenta Sidarta Ribeiro.

Foto de Ilustração de Keryma Lourenço

Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, os sonhos podem sim prever o futuro. Mas calma, não é como se, ao dormir, uma Mãe Dináh despertasse no nosso subconsciente.

“Tenho defendido que os sonhos evoluíram nos mamíferos 200 milhões de anos atrás como um oráculo biológico probabilístico”, diz Sidarta, chefe do laboratório do Sono, Sonho e Memória do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e autor do livro O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho. “O sonho é uma tentativa de simular o amanhã com base no ontem; a recombinação disso abre espaço para novas ideias e criatividade.”

Dito de outra forma, o sonho funciona como um espaço livre para testar possibilidades a partir das experiências vividas por uma pessoa. Dessas possibilidades, surgiram caminhos que a humanidade de fato seguiu para chegar até aqui. E não bastava sonhar, parte importante do processo era contar os sonhos para a comunidade.

Sidarta usa um ótimo exemplo: “Alguém diz que sonhou em matar um mamute, a galera acreditava e aí o clã inteiro estava imbuído desse sonho”, diz o neurocientista. “É uma construção do futuro feita desde o paleolítico até um tempo muito recente, principalmente com base nesses sonhos compartilhados.”

Recente, no caso, é o fim da Idade Média. Nessa época, a ciência ganhou campo e ao longo de anos, décadas e séculos, o sonho perdeu seu lugar. Para alguns, virou algo inútil. E, até por ver os sonhos dessa forma, tornou-se mais difícil lembrar do que o oráculo da noite nos sugeriu. O resultado desse cenário, argumenta Sidarta, é um mundo com recursos abundantes, mas com extrema desigualdade social e em colapso sob diversas óticas – climática, ambiental, sanitária, alimentar e de paz.

Sem sonhos, o futuro não parece animador. E para voltar a sonhar, a receita é bem básica. Em primeiro lugar, dormir bem. “A gente tem primeiro que resgatar a higiene do sono. Dormir relativamente cedo, se proteger das telas nesse horário, evitar alimentação pesada e álcool, por exemplo”, diz Sidarta.

Em segundo, retornar o sonho para um lugar central, importante, na vida de todos nós. Esforçar-se para lembrar, registrar em texto, reler esses textos, meditar sobre eles e conversar sobre os sonhos. Foi assim, afinal, que os nossos ancestrais se deram bem. E, quem sabe, como nós encontraremos o caminho para um amanhã melhor.

#PossoExplicar, o primeiro talk show de ciência do Brasil, apresentado por Miá Mello, estreia 24 de março, às 21h, no National Geographic.

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