Bilhões de tiranossauros possivelmente andaram pela Terra, segundo paleontólogos

A estimada abundância do icônico predador significa que os fósseis de T. rex que existem hoje são extremamente raros.

Por Michael Greshko
Publicado 27 de abr. de 2021, 17:00 BRT
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Paleontólogos descobriram quantos T. rex viveram na Terra — e estimaram que a população viva chegou a cerca de 20 mil em qualquer momento durante um período de dois a três milhões de anos.

Foto de Illustration by STOCKTREK IMAGES, Nat Geo Image Collection

Se alguém voltasse no tempo 67 milhões de anos, para o antigo estado de Montana, estaria entrando nos domínios de um tirano: o icônico predador Tyrannosaurus rex. Entretanto, antes de se aventurar nesse mundo perdido, talvez seja bom saber: em média, a que distância estaria o T. rex mais próximo?

Isso pode parecer algo impossível de saber, mas após analisar duas décadas de pesquisas sobre o T. rex, um novo estudo fornece estimativas da densidade populacional do animal. A probabilidade é de que haveria um T. rex a cada 24 quilômetros, ou até mesmo mais próximo.

O novo estudo, publicado recentemente na revista científica Science, também utiliza essas densidades populacionais para estimar quantos T. rex já viveram. Em média, os pesquisadores calculam que houve cerca de 20 mil T. rex vivos ao mesmo tempo e que aproximadamente 127 mil gerações desses dinossauros viveram e morreram. Isso significa que um total de 2,5 bilhões de T. rex viveram na América do Norte, região nativa da espécie, possivelmente ao norte até o Alasca e ao sul até o México, em um período de dois a três milhões de anos.

Esse estudo não é o primeiro em que cientistas tentam estimar a população de T. rex. Na verdade, a densidade populacional média do novo artigo — cerca de um T. rex a cada 108 quilômetros quadrados — se aproxima de uma estimativa anterior publicada em 1993. Mas o novo estudo utiliza as mais recentes pesquisas sobre a biologia do T. rex para tentar definir limites superiores e inferiores altamente precisos da população total.

Depois de executar milhões de simulações de computador, cada uma com uma combinação ligeiramente diferente dos valores possíveis, o estudo descobriu que a contagem total de T. rex poderia ser tão baixa quanto 140 milhões e tão alta quanto 42 bilhões, com a média girando em torno de 2,5 bilhões. Da mesma forma, qualquer quantidade entre 1,3 mil e 328 mil T. rex poderiam ter vivido em um mesmo período, com uma média de 20 mil.

“É realmente empolgante que alguém esteja tentando usar tudo o que sabemos sobre o T. rex para descobrir a dinâmica populacional”, declarou Holly Woodward, paleontóloga do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Oklahoma, que não participou do novo estudo. “É interessante e curioso que isso nunca tenha sido feito nessa escala.”

Contagem populacional de T. rex

Nos últimos 20 anos, pesquisadores fizeram inúmeras descobertas sobre o T. rex, incluindo sua estimativa de vida (cerca de 28 anos), quando atingia a maturidade sexual (com cerca de 15,5 anos) e quanto pesava na idade adulta (6,8 toneladas, em média). Esses dados permitiram que os cientistas calculassem o tempo aproximado de uma geração de T. rex — 19 anos, mais ou menos — e a massa corporal média do animal em um determinado momento.

Para chegar aos números da população de T. rex, os pesquisadores utilizaram a relação entre a massa corporal e a densidade populacional encontrada em animais vivos. Em média, conforme a massa corporal aumenta em um fator de 10, a densidade populacional diminui em mais de quatro quintos — um padrão conhecido como Lei de Damuth.

Damuth, um ecologista da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, descobriu esse padrão compilando dados ecológicos de 30 anos sobre mamíferos vivos. No entanto, a Lei de Damuth não é imutável, uma vez que os animais possuem habitats e estilos de vida específicos altamente variados. Por exemplo, hienas-malhadas e onças possuem massas corporais semelhantes e ambas são predadoras, mas a densidade populacional das hienas é cerca de 50 vezes maior.

Quando aplicada ao T. rex (após ser ajustada para o fato de que T. rex não são mamíferos), a Lei de Damuth indicou que a população total do dinossauro provavelmente estava entre 140 milhões e 42 bilhões de indivíduos.

“Na paleontologia, é muito difícil fazer estimativas, então eu comecei a pensar mais em agrupar as informações em vez de estimá-las. Posso colocar um limite sólido nisso, superior e inferior?”, explica o principal autor do estudo, Charles Marshall, paleontólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Da vida à rocha

Além de obter uma noção melhor da quantidade desses predadores do tamanho de elefantes, Marshall e sua equipe foram capazes de utilizar os números para estimar melhor a frequência com que os fósseis se formam. É possível calcular a probabilidade de um T. rex se fossilizar, da mesma forma que calculamos a probabilidade de ser atingido por um raio?

Há cerca de uma centena de espécimes conhecidos de T. rex, mas cerca de dois quintos deles estão em coleções particulares ou comerciais e não podem ser estudados de forma eficaz. Portanto, para definir um total mínimo de fósseis para os objetivos do estudo, a equipe de Marshall limitou sua contagem a 32 fósseis de T. rex adultos mantidos em instituições públicas.

Se todos os T. rex que já viveram — os 2,5 bilhões estimados — produziram somente esses 32 fósseis, então apenas cerca de um em cada 80 milhões de T. rex fossilizou depois de morrer. Mesmo que uma porcentagem maior dos animais tenha sido fossilizada e nós ainda precisemos encontrar seus restos mortais, a pouca probabilidade indica o quão raro é uma carcaça ser enterrada com rapidez suficiente e em condições químicas adequadas para mineralizar e formar um fóssil. “Se o T. rex fosse milhares de vezes menos abundante — se o total não fosse 2,5 bilhões, mas 2,5 milhões — talvez nunca tivéssemos encontrado um”, afirma Marshall.

O método descrito pela equipe de Marshall também pode ser utilizado para outras criaturas extintas. Entre os dinossauros, os pesquisadores enfatizam que um dos melhores candidatos é o herbívoro Maiassauro, do período Cretáceo, que é conhecido por centenas de espécimes, de recém-nascidos até adultos.

Para Woodward, uma das implicações mais interessantes do estudo é o quanto os fósseis de dinossauros realmente são raros. Se essas taxas se mantiverem para outras espécies além do T. rex, os pesquisadores podem até ser capazes de estimar quantas espécies de dinossauros simplesmente não fossilizaram — e agora estão irrevogavelmente perdidas no tempo. “Ser capaz de descobrir o quanto estamos perdendo de material fóssil pode ser tão importante quanto saber a quantidade que temos”, conclui ela.

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