Fóssil de ‘ monstro marinho’ gigante é um dos maiores do tipo

O fóssil de cerca nove metros de comprimento foi descoberto na Inglaterra e oferece novas pistas de como os ictiossauros ficaram tão grandes.

O esqueleto fóssil recém-encontrado de um réptil marinho chamado ictiossauro ajuda a revelar a história evolutiva de um dos maiores predadores do oceano pré-histórico.

Foto de Bob Nicholls
Por Riley Black
Publicado 11 de jan. de 2022, 10:54 BRT

No inverno frio de janeiro de 2021, Joe Davis encontrou algo surpreendente na Reserva Natural Rutland Water, na Inglaterra. Ele tinha saído para drenar uma lagoa no terreno, parte de sua função como líder da equipe de conservação na reserva, quando percebeu alguns ossos grandes e fossilizados projetando-se do solo.

Inicialmente, pareciam ser partes de um enorme dinossauro. Mas quando o paleontólogo Dean Lomax, da Universidade de Manchester, recebeu um e-mail com fotos da descoberta, ele imediatamente soube que Davis havia encontrado um enorme réptil marinho chamado ictiossauro. Desde o início, diz Lomax, era evidente que a descoberta em Rutland era algo muito especial.

Os restos fossilizados de um grande ictiossauro encontrado na Inglaterra.

Foto de Anglian Water

Os ictiossauros coexistiram com os dinossauros, mas esses répteis marinhos eram criaturas totalmente diferentes. Eles evoluíram dos répteis terrestres durante o período Triássico, há mais de 246 milhões de anos. Com o tempo, os ictiossauros tornaram-se mais aerodinâmicos e semelhantes aos peixes, e diversas espécies habitaram os mares até cerca de 95 milhões de anos atrás.

Muitos ictiossauros podem ser comparados em tamanho aos tubarões de hoje, e comiam peixes, lulas e outras pequenas presas. Alguns eram predadores de topo de cadeia capazes de devorar outros grandes répteis marinhos. Até agora, os maiores ictiossauros já registrados são do Triássico, entre 250 e 201 milhões de anos atrás.

O fóssil de Rutland, no entanto, é geologicamente mais jovem, datado de cerca de 180 milhões de anos atrás, mas não há dúvida de que era um gigante. “Encontrar um espécime com essa integridade e desse tamanho é impressionante”, diz a paleontóloga Rebecca Bennion, da Universidade de Liége, na Bélgica, que não esteve envolvida na escavação. O crânio sozinho tem quase 2,1 m de comprimento e todo o corpo se estende por mais de 9 m – comparável ao tamanho de uma baleia-de-minke moderna. O esqueleto quase completo levou um pouco mais de duas semanas para ser totalmente escavado, mesmo com equipes trabalhando de sol a sol.

Por fim, diz Lomax, ele e seus colegas “desenterraram o esqueleto mais completo de um grande réptil pré-histórico já descoberto na Grã-Bretanha”.

Embora a descoberta ainda não tenha sido descrita formalmente, Jorge Velez-Juarbe, paleontólogo do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles, que não esteve envolvido na escavação, considera o feito uma "descoberta surpreendente", que oferece uma nova janela para a história evolutiva desses répteis aquáticos. “Como nas baleias”, diz ele, “os ictiossauros alcançaram tamanhos gigantescos mais de uma vez em diferentes linhagens ao longo de sua história.”

A evolução de um monstro marinho

O ictiossauro Rutland ainda está em processo de remoção da rocha onde está enclausurado. No entanto, diz Lomax, “tiramos todas as medições possíveis e milhares de fotografias”, que formaram a base para um modelo tridimensional dos ossos.

No momento, há a hipótese do esqueleto de Rutland representar o ictiossauro Temnodontosaurus trigonodon, uma espécie conhecida principalmente a partir de ossos isolados encontrados nas rochas jurássicas da Alemanha. No início do Jurássico, cerca de 180 milhões de anos atrás, esses répteis eram os maiores predadores marinhos do planeta, segundo Lomax.

Embora esses animais sejam popularmente retratados como um tipo de golfinho comedor de lula, o papel dos ictiossauros como enormes carnívoros marinhos está apenas começando a ser compreendido. Outros fósseis de ictiossauro indicam que as maiores espécies poderiam se alimentar de seus outros répteis marinhos, como plesiossauros de pescoço longo e talvez até outros ictiossauros.

É possível, aliás, que o esqueleto de Rutland quase tenha virado refeição de outros ictiossauros. Os escavadores encontraram vários dentes de Temnodontosaurus ao redor do esqueleto, geralmente um sinal de mordidas.

“Um grande dente foi encontrado perto de onde parte da cauda parece ter sido puxada”, diz Lomax, sugerindo que outro ictiossauro apareceu antes do enterro para limpar a carcaça.

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    O enorme fóssil de réptil desenterrado na Inglaterra é um dos maiores e mais completos ictiossauros já encontrados.

    Foto de Anglian Water

    Um gigante repetido

    Em um estudo recente da revista Science, Velez-Juarbe descreveu outro ictiossauro gigante de Nevada, nos EUA, muito mais antigo, chamado Cymbospondylus youngorum. Esse animal evoluiu cerca de três milhões de anos após os primeiros ictiossauros, que tinham apenas cerca de 1,8 m de comprimento. Cymbospondylus youngorum, em contraste, está entre os maiores ictiossauros já encontrados – apenas o crânio mede mais de um 1,8 m.

    Embora três milhões de anos possa parecer muito tempo, é absolutamente rápido em comparação com o crescimento evolutivo das baleias, que leveram cerca de 50 milhões de anos para ir de ancestrais menores que viviam em terra aos gigantes do oceano.

    O que pode ter permitido aos ictiossauros evoluir repetida e rapidamente para tamanhos enormes ainda é uma questão em aberto. No início do Triássico, segundo Velez-Juarbe, as antigas cadeias alimentares parecem ter sido ricas e relativamente estáveis – um cardápio completo de invertebrados marinhos para sustentar uma flotilha de répteis predadores. Os cefalópodes de casca espiral, chamados amonóides, eram tão abundantes que constituíam uma parte estável da dieta do ictiossauro.

    “Havia muita comida no Triássico Inferior e Médio, e essa foi provavelmente a razão pela qual eles foram capazes de atingir tamanhos corporais tão grandes em taxas de evolução surpreendentemente rápidas”, diz Velez-Juarbe.

    Várias espécies de ictiossauros do tamanho de baleias evoluíram durante esse período, mas desapareceram quando uma extinção em massa ocorreu há 201 milhões de anos, marcando o fim do período Triássico. Os ictiossauros sobreviventes eram menores, mas alguns logo aumentaram de tamanho novamente.

    “No Jurássico Inferior, os primeiros vertebrados marinhos a atingir tamanhos gigantescos foram, mais uma vez, os ictiossauros”, diz Lomax, com o espécime de Rutland sendo o maior e mais completo esqueleto dessa segunda onda. Embora os ictiossauros do Triássico ainda sejam os maiores animais desse tipo conhecidos, “o Temnodontosaurus não era um peixinho”, diz Bennion.

    Ao observar os dentes do novo espécime, Velez-Juarbe diz, os paleontólogos podem ter uma ideia melhor do que o ictiossauro de Rutland estava comendo e que papel ele desempenhou em seu ecossistema jurássico posterior.

    O súbito influxo dessas descobertas de ictiossauros gigantes certamente indica que há mais a ser encontrado, mesmo em um lugar bem pesquisado como a Inglaterra. Alguns desses lagartos que se parecem peixes foram os primeiros animais gigantes do planeta, e aprender mais sobre eles pode ajudar os cientistas a entender melhor o papel dos leviatãs oceânicos ao longo da história.

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