O que diz a ciência sobre os superalimentos?

Apesar de sua baixa sustentabilidade, os chamados superalimentos inundaram nosso conceito de alimentação saudável nos últimos anos. Saiba mais sobre o tema.

Por Cristina Crespo Garay
Publicado 3 de set. de 2022, 16:00 BRT
Foto de Pixabay

Abacate, sementes de chia, espirulina, couve, bimi, bagas de goji ou cúrcuma. Nos últimos anos, os chamados superalimentos inundaram nosso conceito de alimentação saudável a ponto de acreditarmos que uma tigela de açaí pela manhã terá um poder quase milagroso em nosso corpo e compensará os maus hábitos alimentares.

Quando tentamos levar alimentos saudáveis ​​ao estômago, facilmente aparece a seguinte palavra em nosso cardápio: superalimentos. E se tentarmos inovar nosso repertório culinário, começam a aparecer todos os tipos de ingredientes exóticos que, em muitos casos, são trazidos do outro lado do planeta.

No entanto, "foi comprovado que ou não há evidências científicas sobre essas propriedades especiais, ou foi demonstrado que elas são equivalentes às dos alimentos mais comuns, o que importa é a base da dieta em geral e que essa base seja de origem vegetal", explica Jara Pérez Jiménez, nutricionista do Conselho Superior de Pesquisa Científica (Csic). "O nome superalimento como tal é uma denominação deste século, tem cerca de 10 ou 15 anos, mas na realidade usamos o conceito de superalimento há décadas."

“Podemos obter os mesmos nutrientes dos superalimentos com uma dieta saudável tipicamente mediterrânea.”

por JARA PEREZ
Nutricionista CSIC

Embora o termo superalimento tenha se popularizado recentemente na linguagem cotidiana, se voltamos no tempo encontramos muitos alimentos aos quais foi atribuído um efeito benéfico para a saúde, independentemente de como era a dieta como um todo.

“Podemos pensar em superalimentos que estiveram na moda em outros tempos, como pólen, geleia real, lecitina de soja, vinagre de maçã, ou o que para mim é o exemplo clássico de superalimento, o mel”, explica a nutricionista.

Para divulgar os usos destes alimentos, compará-los com a dieta mediterrânica e comunicar as suas propriedades, a investigadora do Csic lançou o livro Los Superalimentos, (Os superalimentos, em português), que faz parte da coleção O que sabemos de? do Csic.

Além das qualidades naturais, as pesquisas sobre o uso das propriedades dos alimentos estão em auge. Agora, um grupo de pesquisadores do Instituto de Biologia Molecular e Celular das Plantas (IBMCP)-Csic criou uma nova planta que, usando genes do açafrão, produz um tomate com alta capacidade antioxidante que ajuda a prevenir ou controlar doenças como o Alzheimer. O estudo, realizado pelo grupo de Biologia Molecular e Fisiologia Vegetal do Instituto de Botânica da Universidade de Castilla-La Mancha (UCLM), foi publicado na prestigiosa revista Horticulture Research.

Superalimentos versus dieta mediterrânea

A lista de alimentos comuns com propriedades igualmente benéficas, atribuídas aos superalimentos, pode ser tão longa quanto quisermos. Basta rastrear os nutrientes dos alimentos para encontrar contrapartes igualmente saudáveis, locais e sustentáveis. 

As bagas de goji, por exemplo, são conhecidas por conter antioxidantes como os polifenóis, porém, não se sabe que outras frutas, como as ameixas, têm o mesmo composto, assim como o cambón, uma planta semelhante que é cultivada em Almería, na Espanha. Seu conteúdo de betacaroteno também pode ser fornecido com 50 gramas de cenoura a um preço muito mais baixo e de forma muito mais sustentável.

Mas os nutrientes das bagas de goji não são os únicos que podem ser facilmente obtidos. “A quinoa é um alimento que podemos incluir em nossa dieta, rica em proteínas e fibras, algo que podemos obter do grão de bico”, explica Pérez Jiménez. "Também em relação ao sal do Himalaia, que basicamente nos fornece cloreto de sódio, ou seja, o que encontramos no sal comum. De qualquer forma, é importante restringir seu consumo, tanto o sal comum quanto o do Himalaia".

Portanto, dos nutrientes atribuídos aos superalimentos, temos a versão tradicional e a versão superalimento, tanto em alimentos benéficos, como a quinoa, quanto não saudáveis, como o sal do Himalaia. “Realmente, podemos obter os mesmos nutrientes dos superalimentos com uma dieta saudável tipicamente mediterrânea”, destaca a especialista, e enfatiza que o requisito importante é que seja uma dieta saudável.

"Nós tendemos a viver de renda e achamos que qualquer coisa que comemos aqui consiste em uma dieta mediterrânea". Portanto, são alimentos que podem ser incorporados à dieta habitual, mas "não devemos pensar que terão um efeito específico independente da alimentação como um todo".

 

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    O nutricionista Aitor Sánchez concorda: "O problema é que as pessoas podem interpretar erroneamente que os superalimentos que estão ingerindo compensam uma dieta ruim". A falta de controle rígido sobre os argumentos que circulam nas publicações gera um caos informativo, e isso é o terreno fértil para atribuir propriedades excepcionais aos superalimentos, segundo o especialista.

    No entanto, tomar um punhado de couve ou um chá de matcha todos os dias não terá impacto em nossa dieta se não for acompanhado por um padrão geral de alimentação saudável. “Num oceano de hábitos insalubres, se adicionarmos uma gota de algo benéfico, não afetará nossa saúde”, ressalta Pérez.

    Superalimentos: impacto na sustentabilidade ambiental

    Além do alto custo desses alimentos, inacessíveis a grande parte dos consumidores, comer o que vem da terra do outro lado do planeta tem um alto custo ambiental. “Alguns desses superalimentos têm origens exóticas e nos deparamos com situações como o que está acontecendo, por exemplo, com o azeite de coco, o que é uma verdadeira bobagem”, diz Pérez.

    “Estamos falando de uma gordura que nutricionalmente é pouco interessante, e mesmo assim ela está sendo exportada de latitudes remotas, com o que isso implica em termos de transporte, para finalmente ter um produto menos importante do que o azeite de oliva que temos aqui".

    Talvez do ponto de vista culinário, esses ingredientes possam ser de alguma maneira interessantes, mas do ponto de vista alimentar, não faz sentido substituir nossa dieta. “Kiwi, coco ou quinoa podem ser saudáveis, mas se os trouxermos da Nova Zelândia, Indonésia ou Peru, eles têm um grande impacto ambiental”, aponta Sánchez.

    A prevenção de doenças e a saúde em geral se baseiam na alimentação como um todo. "Mesmo que não digamos que uma salada é um superalimento, um prato de legumes todos os dias, uma fruta de sobremesa, nozes de lanche, terá muito mais impacto do que comer um superalimento esporadicamente."

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