O que virá depois da Ômicron? Novas variantes estão surgindo

Embora ainda não tenham seus próprios nomes, muitas variantes do Sars-CoV-2 continuam evoluindo e se propagando.

Por Sanjay Mishra
Publicado 29 de set. de 2022, 13:27 BRT

Homem recebe quinta dose da vacina Pfizer-BioNTech contra a covid-19 em Tel Aviv, Israel, em 22 de setembro de 2022. Especialistas recomendam que pessoas de grupos de risco e com mais de 65 anos recebam a dose adicional contra a Covid-19, desenvolvida especificamente para a cepa Ômicron do novo coronavírus, responsável pela maioria dos casos da doença nesse país.

Foto de Oded Balilty AP

Nos primeiros dois anos da pandemia, a cada intervalo de poucos meses, a população tomava conhecimento de uma nova variante do coronavírus que causava uma intensificação nos contágios ou um aumento nos casos graves. Dez variantes com nomes gregos — de Alfa a Mu — mataram milhões de pessoas. 

Contudo, em novembro de 2021, surgiu a Ômicron, uma mutação muito diferente do vírus. Nos últimos 10 meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não informou novas variantes, o que levanta a questão: o vírus parou de evoluir?

Nos últimos três meses, ao menos 300 norte-americanos morreram diariamente em decorrência da Covid-19 e, desde o início de setembro, cerca de 50 mil novos casos de Covid estão sendo registrados diariamente nos Estados Unidos – todos causados pelas novas sublinhagens da Ômicron: BA.2, BA.2.12.1, BA.4. e BA.5. As taxas de infecção entre residentes de casas de repouso nos EUA aumentaram nove vezes desde o fim de abril, sendo que, em agosto, as taxas de mortalidade quase quadruplicaram nesse grupo, segundo dados compilados pelo Instituto de Políticas Públicas, da organização sem fins lucrativos AARP, e o Centro Scripps de Gerontologia da Universidade de Miami em Ohio. 

No Reino Unido, geralmente considerado um indicativo prévio de tendências de Covid-19 nos Estados Unidos, os casos sintomáticos estão aumentando continuamente desde 27 de agosto – dia em que atingiram o menor nível neste ano – de acordo com o estudo sobre a Covid-19 do Zoe, um projeto oferecido por aplicativo de celular no qual pacientes relatam seus sintomas. Embora a OMS não tenha atribuído uma letra grega própria a nenhuma dessas últimas derivadas da Ômicron, especialistas temem que essas variantes possam se esquivar das novas doses de reforço e tratamentos, provocando uma nova onda de contágios e mortes.

O novo coronavírus evolui e passa por novas mutações de maneira incessante; até o momento, surgiram mais de 200 novas sublinhagens da Ômicron e derivadas delas. “A evolução do Sars-CoV-2 não acabou”, afirma Olivier Schwartz, chefe da Unidade de Vírus e Imunidade do Instituto Pasteur, em Paris, na França.

Marion Koopmans, diretora do Centro de Colaboração da OMS para novas doenças infecciosas e membro da missão da OMS para investigar as origens da pandemia da Covid-19, acrescenta: “mas a situação está muito melhor do que antes”. No entanto, ela adverte que, com a aproximação do outono e inverno no Hemisfério Norte, é preciso se preparar para outra onda substancial. “Não se pode relaxar as medidas, pois a pandemia ainda não acabou.”

As variantes da Covid-19 ainda estão em evolução

Cada replicação que o Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid-19, realiza durante uma infecção está sujeita a erros que causam pequenas alterações. Essas mutações são aleatórias e geralmente têm pouca ou nenhuma consequência para o vírus. 

Se a mesma mutação surgir e se proliferar em populações sem nenhuma relação entre si, é possível que essa alteração ofereça uma vantagem ao vírus. Tais mutações criam uma nova ramificação na árvore filogenética do Sars-CoV-2. Os vírus que compõem essa ramificação são denominados “variantes”.

“Quanto maior a circulação do Sars-CoV-2, maior a probabilidade de ocorrerem mutações”, explica Maria Van Kerkhove, epidemiologista líder da resposta à Covid-19 da OMS. Os cientistas também acreditam que variantes do tipo Ômicron podem evoluir em imunodeprimidos, onde o vírus pode persistir por mais tempo enquanto adquire dezenas de novas mutações.

Algumas mutações podem facilitar a transmissão de uma variante ou podem aumentar a gravidade de casos da doença. Outras podem alterar o aspecto do vírus, permitindo que se esquive da imunidade proporcionada por vacinas ou infecções anteriores e dificultando sua detecção. Essas mutações também podem tornar ineficazes as terapias aprovadas. Nessas circunstâncias, a OMS rotula a variante como de interesse ou preocupação.

Em maio de 2021, a OMS começou a atribuir letras do alfabeto grego a variantes de interesse e a variantes de preocupação. “Mas a OMS não atribui nomes a todas as variantes”, observa Anurag Agrawal, presidente do Grupo Técnico Consultivo de Evolução de Vírus da OMS, que faz recomendações sobre como nomear variantes. “A OMS só nomeia uma variante quando está preocupada com o surgimento de riscos adicionais que requeiram novas medidas de saúde pública”, explica Agrawal.

Atualmente, todas as sublinhagens da Ômicron são consideradas variantes de preocupação porque compartilham características semelhantes: são transmitidas mais facilmente do que as variantes anteriores e podem evadir a imunidade anterior. Contudo, felizmente, contrair uma subvariante da Ômicron ainda reduz suficientemente o risco de reinfecção com outra. As subvariantes também não parecem representar riscos maiores do que a cepa original da Ômicron, comenta Van Kerkhove.

As variantes da Ômicron demonstram saltos evolutivos

Há menos de um ano, o surgimento da Ômicron representou uma grande mudança na evolução do Sars-CoV-2. A partir de novembro de 2021, mais da metade das infecções por Covid-19 em todo o mundo provavelmente foram causadas por uma das cinco subvariantes da Ômicron: BA.1, BA.2, BA.3, BA.4 e BA.5. 

A capacidade da Ômicron de evadir a imunidade decorrente de variantes anteriores fez com que cientistas, incluindo Schwartz, sugerissem que a Ômicron poderia até mesmo ser considerada um sorotipo distinto de Sars-CoV-2 – um vírus tão diferente de variantes anteriores que os anticorpos gerados contra uma não protegem suficientemente contra a outra. Por exemplo, o vírus da gripe possui três sorotipos: influenza A, B e C.

Nos últimos meses, a BA.2 da Ômicron originou uma série de variantes, incluindo BA.2.75, BA.2.10.4, BJ.1 e BS.1. Essas variantes, algumas com dezenas de novas mutações, são tão diferentes da variante parental BA.2 que os cientistas as denominam variantes de “segunda geração”. Uma variante de segunda geração representa um grande salto evolutivo de linhagens variantes anteriores sem etapas intermediárias menores.

Na escala evolutiva, as variantes recém-transmitidas, como a BA.2.75, são mais diferentes da Ômicron original do que a Alfa, Beta, Gama e Delta eram das cepas ancestrais, afirma Thomas Peacock, virologista do Imperial College de Londres. Todas as mutações dessas variantes iniciais parecem pequenas em comparação com a Ômicron e suas subvariantes, observa Peacock.

“Uma subvariante possivelmente de preocupação é a BA.2.75.2, que possui mutações adicionais em comparação com a BA.2.75 e parece ser bastante resistente a anticorpos”, destaca Schwartz.

Embora a OMS possa não ter atribuído uma letra grega como nome a essas novas variantes, Yunlong (Richard) Cao, imunologista da Universidade de Pequim, na China, afirma: “definitivamente é incorreto afirmar que não houve novas variantes desde novembro de 2021”.

A BA.5 predomina atualmente em muitos países, ao passo que a BA.2.75 predomina em outros. Ambas conseguem driblar o sistema imune de pessoas que foram vacinadas e/ou contraíram a doença, embora as vacinas atuais ainda mantenham sua eficácia.

“O que se comprovou é a continuidade da evolução”, observa Koopmans, o que é esperado quando há uma combinação de circulação substancial e maior imunidade adquirida. “Por isso, são esperadas mais variantes com capacidade de evasão”, acrescenta ela.

Há uma discussão em andamento sobre a utilidade de agrupar todas as subvariantes da Ômicron. Embora as linhagens da Ômicron BA.1, BA.2 e BA.5 fossem próximas o suficiente para serem denominadas Ômicron, alguns cientistas acreditam que as novas variantes são distintas o suficiente para merecer uma nova letra grega como nome.

“Alguns desses novos vírus são tão distintos geneticamente quanto as variantes originais, então, não se sabe ao certo a utilidade de considerá-los como sendo ainda a Ômicron”, afirma Peacock.

A força-tarefa da OMS discorda. “Se qualquer variante ou subvariante for significativamente diferente de outras variantes ou subvariantes da Ômicron, receberão um novo nome”, reitera Van Kerkhove. “Contudo, no momento, todas essas subvariantes são consideradas Ômicron, todas são variantes de preocupação e todas requerem medidas aprimoradas dos países.”

Como não há dados humanos confiáveis que indiquem que as novas subvariantes da Ômicron sejam mais graves do que outras, observa Agrawal, a recomendação de saúde pública permanece inalterada.

Por ora, o diagnóstico e atendimento clínico precoces, o uso adequado de terapias disponíveis e a vacinação são necessários para reduzir a propagação do vírus, e a chance de surgimento de novas variantes, prossegue Van Kerkhove. “Podemos conviver com a Covid-19 com responsabilidade e tomar medidas simples para reduzir a propagação, como distanciamento, uso de máscaras, ventilação, higienização das mãos e ficar em casa se apresentar qualquer sintoma.”

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