Por que algumas pessoas enjoam durante as viagens?
Viajar de barco, carro ou mesmo através da realidade virtual pode provocar enjoo em algumas pessoas. Especialistas avaliam o que fazer a respeito.
Vistas trêmulas como esta imagem durante um passeio de carro em Londres, Inglaterra, são conhecidas por causar enjoo, mal comum para muitos viajantes.
Para alguns viajantes, um passeio de catamarã em Oahu, no Havaí, ou andar de camelo pelo deserto no Marrocos não é uma experiência de férias invejável. É um encontro com náuseas, tontura e suor frio.
Este tipo de desconforto pode acontecer com quase qualquer um, incluindo crianças e cães. Estudos sugerem que mais da metade das pessoas que andam de automóvel experimentam enjoo. Pesquisas recentes com membros da Marinha Indiana, pescadores islandeses e biólogos marinhos da Carolina do Sul (Estados Unidos) indicam que até 80% dos indivíduos que trabalham em barcos às vezes ficam enjoados.
“Atualmente estamos vendo até enjoo cibernético, em pessoas que olham para seus telefones enquanto estão no carro ou quando usam óculos para um filme em 3D”, diz Andrea Bubka, professora de psicologia na Universidade de Saint Peter em Nova Jersey (EUA), que estudou extensivamente o enjoo.
A seguir, explicações de por que acontece o enjoo e o que podem fazer os viajantes para evitá-lo.
Causas do enjoo em viagens
Os cientistas não sabem com certeza por que algumas pessoas sentem náuseas assim que pisam em um barco, enquanto outras podem alegremente ler novelas longas enquanto viajam no banco de trás de um carro. Mas eles têm algumas teorias.
Muitos estudiosos acreditam que o enjoo é causado por um conflito sensorial, uma discrepância entre o que as pessoas veem e o que seus corpos estão experimentando. “Os seres humanos não evoluíram para viajar em ônibus espaciais e usar videogames de realidade virtual”, diz Marcello Cherchi, neurologista da Faculdade de Medicina Feinberg, da Universidade de Northwestern (EUA).
O conflito sensorial acontece quando seu corpo sente a ondulação do mar numa balsa oceânica ou o movimento brusco de um ônibus serpenteando pelas montanhas e seus olhos, ouvidos e outros sentidos não conseguem alcançá-lo. Isso resulta em sintomas como boca seca, tontura, dor de estômago ou dor de cabeça latejante.
No entanto, outros cientistas acreditam que as pessoas ficam enjoadas porque não mudam instintivamente a posição, seja sentadas, de pé, ou andando num meio de transporte em movimento. Essa desconexão faz com que você se sinta mal.
Patricia Cowings (em pé), uma psicofisiologista norte-americana que estudou extensivamente o enjoo, trabalha com um voluntário para testes.
Um dos maiores defensores da “teoria da estabilidade postural” é Tom Stoffregen, professor de cinesiologia da Universidade de Minnesota. “Em um barco ou avião, você precisa aprender a se mover de maneira diferente – como os marinheiros que conseguem suas ‘pernas do mar’ depois de alguns dias”, diz ele. “O segredo é o controle físico de seu corpo, e alguns indivíduos se adaptam mais rapidamente do que outros.”
A genética também pode influir. Um estudo de 2015 com 480 mil clientes da empresa de testes de DNA 23andme identificou 413 marcadores genéticos – muitos relacionados ao equilíbrio ou ao desenvolvimento ocular, auditivo e craniano – que podem predispor um indivíduo ao enjoo.
Prevenção do enjoo
A maneira mais fácil de combater o enjoo é primeiramente impedi-lo que aconteça. Hidrate-se e mantenha o ar fresco fluindo durante a viagem, seja abrindo uma janela no carro, ligando a saída de ar acima de você no avião ou indo para o convés em um navio de cruzeiro.
“E tenha cuidado com o que você come quando viaja”, diz Bubka. Qualquer coisa que provoque dor de estômago em terra firme – comer demais (ou de menos), beber quantidades excessivas de álcool ou cafeína – pode ser amplificada pelo movimento.
“Faça tudo o que puder para garantir que sua visão não seja obstruída”, aconselha Natascha Tuznik, médica especializada em medicina de viagem na Universidade de Califórnia, Davis, EUA. “Olhe para o horizonte se estiver no mar e sente-se no banco da frente do carro, onde possa ver a estrada e o que se aproxima. ”Observar de perto o que vem à frente ajuda seus olhos e ouvidos internos a se sincronizarem mais rapidamente com outras funções corporais.”
Realize treinamento contra as náuseas
Algumas pesquisas sugerem que fazer exercícios físicos ou mentais pode ajudar os humanos a se treinarem para ficarem menos enjoados. O Método Puma, desenvolvido por um médico de voo para atender pilotos enjoados, usa alongamentos de ioga e movimentos angulares para desenvolver um condicionamento contra as náuseas.
Um estudo de 2020 da Universidade de Warwick, na Inglaterra, descobriu que, depois de fazer exercícios de treinamento visuoespacial de 15 minutos (encontrar objetos escondidos em quebra-cabeças, dobrar papel), muitos indivíduos não ficavam enjoados quando passeavam de carro.
Passageiros caminham por uma estação de metrô da cidade de Nova York em 2017. Qualquer forma de transporte – de trens a aviões e barcos – pode causar enjoo em humanos.
“A vantagem é que essas abordagens não requerem medicação”, diz Cherchi. “A desvantagem é que podem acarretar um desconforto considerável, pelo menos no início. ”
As pessoas propensas ao enjoo também podem “evitar os desencadeantes”, ficando longe atividades que as tornam nauseosas. Se você fica enjoado com longas viagens de ônibus, alugue um carro e sente-se na frente ou dirija você mesmo. Aqueles propensos a enjoos na água deveriam fazer cruzeiros fluviais em águas calmas ou escolher navios oceânicos maiores, com passeios mais suaves.
Medicação ou dispositivos podem ajudar a combater o enjoo
Outra maneira de combater a náusea relacionada à viagem? Use um medicamento para enjoo de venda livre (como Dramamine) ou um adesivo de escopolamina prescrito por um médico (geralmente usado atrás da orelha). Ambos são anticolinérgicos, que bloqueiam e inibem o sistema nervoso central para criar um efeito calmante nos músculos do estômago e intestinos.
No entanto, esses medicamentos só funcionam se usados pouco tempo antes de você embarcar. Essas drogas também podem deixá-lo grogue, e muitas pessoas têm problemas de saúde que impedem seu uso. Para os viajantes que preferem não tomar pílulas, Stoffregen aconselha que experimentem mastigar gengibre ou comer balas de gengibre. “Há evidências bem documentadas de que um pouco de gengibre pode reduzir significativamente a náusea”, diz ele.
Também existem vários dispositivos que prometem ajudar com o enjoo, como as pulseiras de ponto de pressão, que se baseiam nos princípios da acupressão. Há muitos modelos de pulseira, de econômicos e básicos a tecnológicos e caros. Aproximadamente dois anos atrás, chegaram ao mercado óculos contra as náuseas, de aparência extravagante, com armações cheias de líquido e quatro lentes redondas sem vidro. A ideia é que o líquido dos óculos se deslize conforme você se movimenta, criando um horizonte artificial.
Embora muitos usuários relatem que se sentem melhor ao usar esses dispositivos em aviões, trens e automóveis, os estudos ainda não comprovaram sua eficácia. “Ainda assim, se houver um efeito placebo e você não ficar enjoado, não me importo com a ciência”, diz Stoffregen. “É dinheiro bem gasto. ”
Jennifer Barger é editora de viagens sênior da National Geographic. Siga-a no Instagram.