"Vírus zumbis" podem surgir por conta do aquecimento global

Pesquisadores europeus analisaram matéria orgânica de camadas de permafrost derretidas pelo aquecimento global. À medida que as temperaturas globais sobem, vírus antigos podem reaparecer e representar riscos à saúde humana.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 14 de mar. de 2023, 14:46 BRT
Vista aérea do permafrost 'megaslump' em Duvanny Yar. Sibéria, Rússia.

Vista aérea do permafrost 'megaslump' em Duvanny Yar. Sibéria, Rússia.

Foto de Katie Orlinsky

O degelo das camadas de permafrost – solo permanentemente congelado o qual cobre um quarto do hemisfério norte – e que é consequência das mudanças climáticas, poderia reviver vírus antigos, como adverte uma nova pesquisa publicada em fevereiro de 2023 na revista científica Viruses.

No artigo intitulado “Uma atualização sobre vírus eucarióticos revividos do permafrost antigo”, pesquisadores de França, Rússia e Alemanha observam que o descongelamento das camadas de permafrost está liberando matéria orgânica congelada de até um milhão de anos atrás. Ainda que a maioria desse material descongelado se decomponha em dióxido de carbono e metano – o também acaba contribuindo para o efeito estufa – parte dele é reanimado, como se fossem microorganismos “zumbis” que voltam à vida. 

"Parte desta matéria orgânica também consiste de micróbios unicelulares revividos (procariontes e eucariontes), bem como vírus que se encontram adormecidos desde os tempos pré-históricos", afirma o estudo. A publicação estima que esses microrganismos estão aprisionados em um profundo permafrost isolado da superfície da Terra por cerca de dois milhões de anos. 

Neste sentido, os autores destacam que a liberação física e reativação de bactérias que permaneceram em criptobiose (estado temporário de hibernação de um organismo no qual a atividade metabólica está ausente ou indetectável) representa uma preocupação de saúde pública para o possível surgimento de "vírus zumbis". 

Neste estudo, os pesquisadores analisaram antigas cepas de vírus de DNA (cujo material genético é de duas hélices) a partir de sete amostras diferentes coletadas do permafrost siberiano. Em conclusão, o estudo identificou que esses vírus eram capazes de infectar e tornar hospedeira a ameba Acanthamoeba spp (selecionada para evitar riscos às culturas, animais ou humanos), mesmo depois de mais de 48 mil e 500 anos em permafrost profundo.

"Portanto, é legítimo refletir sobre o risco de que as antigas partículas virais permaneçam infecciosas e circulem novamente devido ao descongelamento das velhas camadas de permafrost", observa o papel.

Finalmente, de acordo com o artigo, os pesquisadores acreditam que os resultados podem ser extrapolados para muitos outros vírus de DNA capazes de infectar humanos ou animais. "É provável que o permafrost antigo (com mais de 50 mil anos) libere esses vírus desconhecidos quando descongelar". 

Eles também reconhecem que, por enquanto, é impossível estimar por quanto tempo esses vírus podem permanecer infecciosos uma vez expostos a condições externas, como luz ultravioleta, oxigênio e calor. Também não é possível estimar ainda o quão provável seria do vírus encontrar e infectar um hospedeiro adequado no tempo entre descongelar e perder a capacidade de infecção.  

Mas, “o risco está fadado a aumentar no contexto do aquecimento global, no qual o degelo do permafrost continuará a se acelerar e mais pessoas povoarão o Ártico como resultado de empreitadas industriais", conclui o documento.

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