Estas gêmeas – uma negra, outra branca – provam que cor não é raça

Para as gêmeas Marcia e Millie, de 11 anos, as diferenças entre elas nunca foram um problema.

Por Patricia Edmonds
Publicado 2 de abr. de 2018, 17:20 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Capa da edição de abril de 2018 da revista National Geographic Brasil.
Foto de Reprodução

Esta reportagem é parte da edição especial da revista National Geographic que investiga como o conceito de raça nos define, nos separa e nos une.

Apaixonados, Amanda Wanklin e Michael Biggs “não deram a mínima” para as dificuldades que enfrentariam por serem um casal birracial, lembra Amanda. “O mais importante era o que queríamos fazer juntos.”

Em Birmingham, na Inglaterra, eles se estabeleceram para começar uma família. Em 3 de julho de 2006, Amanda deu à luz gêmeas, a quem os pais, encantados, conferiram nomes quase idênticos: uma é Millie Marcia Madge Biggs; a outra, Marcia Millie Madge Biggs.

Desde pequenas as duas irmãs eram muito parecidas, mas com combinações de cores bem distintas. Marcia tem o cabelo castanho-claro e a pele também clara de sua mãe inglesa. Já Millie tem o cabelo preto e a pele morena do pai, cujos antepassados são jamaicanos. “Nunca nos preocupamos com isso; simplesmente aceitamos”, conta Michael.

“Quando eram bebês”, diz Amanda, “sempre que saía com elas no carrinho, as pessoas olhavam para mim e depois para elas. Aí vinha a pergunta: ‘São gêmeas?’”

“São.”

“Mas uma é clara e a outra é morena...”

“Pois é, são os genes...”

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    Não era uma reação hostil ou crítica – as pessoas ficavam tão curiosas que não se continham, diz Amanda. Mas, “à medida que cresciam, o que se tornou mais chamativo era a beleza das meninas”.

    As gêmeas sabem o que é racismo. “Racismo é quando alguém julga você pela cor da sua pele, e não pelo que você é de verdade”, diz Millie. Marcia descreve o racismo como “uma coisa ruim, pois pode ferir o sentimento das pessoas”.

    Amanda, que trabalha como cuidadora de idosos e incapacitados, considera que Millie e Marcia são, para ela, um milagre, algo que só acontece “uma vez em 1 milhão”. Na realidade, porém, a chance de que um casal birracial tenha gêmeos fraternos, cada qual parecido com um dos pais, não é tão pequena assim, explica a geneticista Alicia Martin. Essa probabilidade varia conforme o casal, dependendo das suas características genéticas, explica Martin.

    Os gêmeos fraternos ocorrem cerca de uma vez a cada 100 nascimentos. Quando isso se dá com um casal birracial, os traços que surgem em cada criança dependem de numerosas variáveis, entre as quais “o local de origem dos antepassados dos pais, assim como complexas características genéticas associadas à pigmentação”, explica Martin. Além disso, a pesquisa sobre a cor da pele é ainda mais complicada devido a uma história de “estudos tendenciosos, em decorrência dos quais sabemos mais sobre o que torna a pele mais clara do que sobre o que torna a pele mais escura”.

    A cor da pele, diz a pesquisadora, “não é um elemento binário”, com apenas duas possibilidades. “É, antes, algo quantitativo, e todos nós podemos ser situados em algum ponto desse espectro.”

    Dono de uma oficina mecânica, o pai, Michael, conta que já sofreu hostilidades por causa da cor da sua pele. “Agora as coisas são diferentes”, diz Michael. Nem ele nem Amanda testemunharam atitudes racistas em relação às meninas.

    “Na primeira vez em que nos veem, as pessoas imaginam que somos apenas amigas”, comenta Marcia. “Quando sabem que somos gêmeas, elas ficam um pouco chocadas.” No entanto, quando se pergunta às gêmeas sobre o que as distingue, elas sempre mencionam algo completamente distinto. “Millie gosta de coisas de menina. Adora cor-de-rosa e coisas assim”, diz Marcia. “Eu não gosto nada de rosa; tenho mais a ver com os meninos. As pessoas são como são.”

    Esta reportagem é parte da edição especial da revista National Geographic que investiga como o conceito de raça nos define, nos separa e nos une.

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