A internet está se afogando

Os níveis do mar subindo colocam em risco os delicados cabos IRL e estações de energia que controlam a internet.

Por Alejandra Borunda
Publicado 17 de jul. de 2018, 12:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Six Mile Bridge, uma ponte que vai de Marathon Key para Key West, é como será ...
Six Mile Bridge, uma ponte que vai de Marathon Key para Key West, é como será a costa sul da Flórida em cem anos se os níveis do mar subirem de acordo com os modelos do clima atual.
Foto de George Steinmetz, National Geographic Creative

Quando a internet cair, a vida como nós a conhecemos periga acabar. Será o fim das fotos de gatos bonitinhos e das atualizações de status do Facebook – mas também será o fim dos sinais que mandam os semáforos mudarem de vermelho para verde e dos acessos dos médicos às fichas dos pacientes.

Uma vasta rede de infraestrutura física está por trás das conexões da internet, que toca quase todos os aspectos da vida moderna. Cabos delicados de fibra óptica , enormes estações de transferência de dados e estações de energia criam uma colagem de porcas e parafusos, literalmente, que facilitam o fluxo de zeros e uns.

Contudo, agora, uma pesquisa mostra que boa parte dessa infraestrutura está no caminho da subida do nível do mar. (Veja como seria o planeta se todo o gelo derretesse.)

Cientistas mapearam os fios da estrutura da internet nos Estados Unidos e sobrepuseram com um mapa que mostra o futuro aumento do nível do mar. O que descobriram foi assustador: dentro de 15 anos, milhares de quilômetros de cabos de fibra óptica – e centenas de peças de outras estruturas fundamentais – provavelmente serão engolidas pelo oceano. Apesar de parte dessa estrutura ser resistente à água, apenas uma pequena parte dela foi feita para ficar completamente submersa.

“Grande parte da infraestrutura que já foi criada está perto da costa, então, não é preciso mais do que alguns centímetros ou quase meio metro de aumento do nível do mar para que ela fique submersa”, diz o coautor do estudo Paul Braford, um cientista da computação na University of Wisconsin, Madison. “Foi tudo feito cerca de 20 anos atrás, quando ninguém pensava que os níveis do mar fossem aumentar.” [Esta comunidade costeira está sendo engolida pelo oceano].

“Isso será um grande problema”, diz Rae Zimmerman, uma especialista em adaptação à mudança climática da NYU. Grandes partes da infraestrutura da internet logo “ficarão embaixo d’água, a não ser que sejam movidas rapidamente.”

Rede emaranhada

A estrutura física da internet foi montada de forma aleatória ao longo das últimas décadas com o aumento da demanda pela conectividade, com linhas muitas vezes montadas de forma oportunista perto de linhas de energia, estradas ou outras grandes infraestruturas. Mas as empresas de telecomunicação que são donas dessas linhas, fontes de energia, estações de transferências de dados e outros componentes mantém sua localização exata em segredo.

Barford, um dos autores do estudo, passou os últimos anos pesquisando cuidadosamente na internet qualquer informação que estivesse disponível para o público sobre esses componentes e mapeando seus resultados. Muitas dessas peças importantes, que ele e seu aluno Remakrishnan Durairajan encontraram, estavam perto do litoral.

Quando Carol Barford, cientista climática da University of Wisconsin em Madison, viu os mapas, energou outra coisa: risco. Ela sabia que níveis do mar vinham subindo constantemente nos últimos cem anos em que o clima da Terra esquentou, e isso já afeta muitas áreas litorâneas.

Quando os três pesquisadores sobrepuseram o mapa da infraestrutura física da internet com os mapas de previsão de aumento do nível do mar, eles viram algo impressionante: grandes sessões de infraestrutura importante estavam em lugares que provavelmente estarão submersos em 15 anos.

Cidades como Nova Iorque, Miami e Seattle provavelmente terão um aumento de 30 centímetros no nível do mar até 2030 – menos do que o tempo de pagar a hipoteca de uma casa, ou o horizonte planejado de um grande projeto público de infraestrutura. Uns 30 centímetros a mais de água invadindo essas cidades, dizem os pesquisadores, colocaria cerca de 20% da estrutura fundamental da internet do país debaixo d’água.

“As previsões de 15 anos são bem precisas”, diz Carol Barford. Há tanta inércia no sistema climático que não há nada que humanos possam fazer para impedir que o nível do mar suba dentro dessa previsão.

Tudo está conectado

Cientistas, planejadores e empresários sabem há muito tempo que o aumento do nível do mar ameaça infraestruturas físicas, como estradas, metrôs, redes de esgoto e linhas de energia. Mas, até agora, ninguém tinha olhado especificamente para como o nível do mar afetaria a manifestação física da internet.

“É como achar ouro na estrada para um pesquisador”, diz Carol Barford.

“Considerando como tudo hoje em dia está conectado, proteger a internet é crucial”, diz Mikhail Chester, o diretor do Laboratório de Infraestrutura Resiliente na Universidade do Arizona. Mesmo impactos menores, como quando uma tempestade derruba a internet por alguns dias, afeta as coisas que normalmente não sabemos dar valor, de semáforos a planejamentos de voo.

Esse novo estudo “reforça essa ideia de que precisamos conhecer todos esses sistemas, porque vai demorar muito para eles serem atualizados”, diz ele.

Os pesquisadores não olharam para eventos de curto prazo como tempestades decorrentes de furacões que podem afetar a infraestrutura, mas avisaram aos planejadores para terem as ameaças de curto prazo em mente quando pensarem em soluções.

“Vivemos em um mundo feito para um ambiente que não existe mais”, diz Rich Sorkin, o cofundador da Jupiter Intelligence, empresa que faz modelos de risco decorrentes do clima. Aceitar a realidade de como será nosso futuro, diz ele, é a chave para nos planejarmos para ele – e estudos como esse, diz ele, mostram quão rapidamente teremos que nos adaptar.

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