Na guerra do Iêmen, uma fotógrafa encontra pontos de luz na escuridão

Amira Al-Sharif ajusta sua lente para capturar a esperança que teima em persistir em sua terra natal, em meio às trevas do conflito.

Por Erin Blakemore
fotos de Amira Al-Sharif
Publicado 27 de mai. de 2019, 11:17 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Jovem mulher iemenita visita um aterro controlado pela coalizão liderada pelos sauditas para garantir o alimento ...
Jovem mulher iemenita visita um aterro controlado pela coalizão liderada pelos sauditas para garantir o alimento das suas cabras em Buraiqeh, Província de Aden.
Foto de Amira Al-Sharif

AMIRA AL-SHARIF encontra-se refugiada em função da guerra civil no Iêmen. Embora a fotojornalista esteja ávida por voltar para casa, o conflito, a doença e a constante ameaça de prisão por seu trabalho a afastaram de seu país, por ora.

Desde a infância, Al-Sharif treina suas lentes para capturar o mundo à sua volta. No Iêmen, esse mundo se estilhaçou em 2014, quando uma guerra civil brutal levou a vida normal à beira do impossível. O conflito começou quando o presidente do Iêmen, governante por 33 anos, foi forçado a deixar o cargo após uma revolta durante a Primavera Árabe. Os hutis, grupo de rebeldes xiitas, tomaram o controle de diversas cidades iemenitas, forçando o novo presidente a fugir e mergulhando o país em uma guerra civil.

Em 2015, a Arábia Saudita, apoiada pelos Estados Unidos e outros países, iniciou ataques aéreos contra os hutis. Deu-se início a uma crise humanitária. De acordo com a Organização das Nações Unidas, foram mortos até agora cerca de 18 mil civis, e 3,3 milhões estão refugiados atualmente.

Al-Sharif também não tem interesse nas estatísticas. Ela fica espantada com o apetite ocidental por fotografias dos iemenitas que, privados de alimentos durante a crise atual, reduziram-se a esqueletos desesperados. Ela me fala da história de gente que não recebe salário há cinco anos, cujas vidas estão agora consumidas pelas necessidades básicas. Encontrar alimento. Revirar o lixo. Evitar a doença.

A cólera está se disseminando entre os iemenitas, impulsionada pela proximidade física das condições de vida, pelo enfraquecimento dos sistemas imunológicas em função da fome e pela falta de informação sobre prevenção e tratamento. Em 2017, mais de um milhão de iemenitas contraíram cólera, e a doença está se alastrando novamente. Quase metade dos casos acomete crianças de 14 anos ou menos.

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    Foto de Amira Al-Sharif

    Mas Al-Sharif não tem interesse em destacar essas facetas da vida iemenita. Ela prefere que suas fotografias capturem os iemenitas cuidando da própria vida, as crianças na escola e brincando, as mulheres vivendo e amando, as flores desabrochando. Ela captura no Iêmen a luz que teima em persistir entre as trevas da guerra.

    “Me sinto tão feliz no Iêmen”, diz Al-Sharif. “Me sinto livre no Iêmen”. Ela me fala das comemorações constantes da família dela, dos amigos, da beleza de Jabal Haraz, região montanhosa onde vilas se aninham nas alturas das névoas.

    A opção de Al-Sharif de se concentrar na esperança em meio ao desespero é estratégica. “Todo mundo tem as próprias tristezas”, diz ela. “Ninguém quer ver outras tristezas”. Ela espera que as fotos possam dar um curto-circuito no impulso que as pessoas têm de desviar o olhar. Mesmo assim, teme não estar fazendo o bastante.

    Crianças brincam logo após um bombardeio ocorrido no bairro, na capital iemenita de Sanaa.
    Crianças brincam logo após um bombardeio ocorrido no bairro, na capital iemenita de Sanaa.
    Foto de Amira Al-Sharif

    “As pessoas se conectam com a força”, afirma. “Com a esperança. Com a vida. Com o florescer. Com a resiliência. As pessoas querem a luz”.

    Mulher acalma cavalo, com o Mar Vermelho ao fundo, em Hodeida.
    Mulher acalma cavalo, com o Mar Vermelho ao fundo, em Hodeida.
    Foto de Amira Al-Sharif

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