Aparência da pequena múmia “alienígena” é finalmente explicada

Pesquisadores esperam que estudo encerre o debate sobre a origem de Ata, uma criança mumificada naturalmente no Deserto do Atacama.

Por Erika Check Hayden
Publicado 22 de mar. de 2018, 19:14 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ata, a múmia de 15 centímetros encontrada no Deserto do Atacama, no Chile
Foto de Emery Smith

Ata tem apenas 15 centímetros de altura, com uma cabeça cônica e ossos estranhamente duros para seu tamanho. Alguns alegaram que ela era uma alienígena. Mas um novo estudo publicado hoje na revista científica Genome Research não apenas continua a refutar a teoria alienígena, mas também revela uma explicação científica para sua aparência extraterrestre.

O debate começou em 2003, quando os restos naturalmente mumificados de Ata foram descobertos perto de uma cidade fantasma no Deserto do Atacama, no Chile. Um empresário espanhol, Ramón Navia-Osorio, comprou a múmia e em 2012 permitiu que um doutor chamado Steven Greer usasse raio X e tomografia computadorizada (TC) para analisar o esqueleto.

Greer é o fundador do The Disclosure Project, que está “trabalhando para revelar fatos sobre óvnis, inteligência extraterrestre e energia avançada secreta e sistemas de propulsão”, de acordo com o website.

Ata tem o tamanho de um feto humano. Mas um radiologista que analisou as imagens disse que os ossos de Ata eram tão desenvolvidos quanto os de uma criança de seis anos.

Na época, Greer também ofereceu amostras da medula óssea de Ata para o imunologista Garry Nolan da Universidade de Stanford em Palo Alto, Califórnia. O time de Nolan sequenciou o DNA de Ata e concluiu que o material genético era de um ser humano, não de um alienígena. Mas ele não conseguiu explicar como uma pessoa tão pequena poderia exibir uma aparência física tão incomum.

Ata tem o tamanho de um feto humano, mas seus ossos têm a maturidade de uma criança de seis anos.
Foto de Emery Smith

“Uma vez que entendemos que era humana, o próximo passo era entender como ela tinha essa aparência”, disse Nolan.

Então, Nolan trabalhou com pesquisadores de genética em Stanford e com o time do biólogo computacional Atul Butte, na Universidade da Califórnia, São Francisco, para analisar o genoma da Ata. De acordo com seu novo estudo, há mutações presentes em sete genes dela, todos ligados ao crescimento. Nolan agora acredita que essa combinação de mutações causou as anormalidades severas no esqueleto de Ata, inclusive seu crescimento ósseo estranhamente rápido. Ele diz que Ata é provavelmente um feto humano que ou nasceu morto ou morreu logo depois do nascimento.

Mas aqueles que acreditam que Ata é uma extraterrestre não querem mudar de ideia, independente do que digam as novas revelações científicas.

[Estas múmias mostram como culturas do mundo inteiro encontram maneiras de preservar seus mortos em quase todo tipo de ambiente]

“Não sabemos o que é, mas certamente não é um humano deformado”, diz Greer, que sabe das novas pesquisas.

Cientistas, no entanto, dizem que frente às novas análises, está na hora de abandonar a controvérsia sobre Ata.

“A história dos alienígenas era uma pseudociência boba promovida para chamar a atenção da mídia”, diz o paleoantropólogo e anatomista William Jungers, um emérito professor no Centro Médico da Universidade Stony Brook. “Este artigo encerra essa discussão sem sentido e dá descanso à pobre Ata.”

Médicos que tratam crianças com doenças ósseas genéticas raras também acham que o debate mostra como arqueólogos e outros cientistas podem ser induzidos ao erro por fenômenos genéticos que causam características físicas incomuns. Por exemplo, o geneticista Fowzan Alkuraya menciona a controvérsia dos “hobbits”, pequenas criaturas que foram descobertas 15 anos atrás na Indonésia. Cientistas ainda estão envolvidos em um debate a respeito dos pequenos seres serem parentes do ser humano atual, ou se são apenas seres humanos muito pequenos.

“Este artigo serve como um lembrete sobre a natureza exótica de muitas doenças genéticas”, diz Alkuraya, que é um geneticista no Hospital e Centro de Pesquisa Especializado King Faisal, na Arábia Saudita.

Todos os seres humanos – inclusive Ata – podem ter várias mutações genéticas diferentes. Mas normalmente, apenas uma dessas mutações causa uma doença nas crianças. É “virtualmente desconhecido” o envolvimento de sete mutações, Alkuraya disse; ele acredita que uma, ou no máximo duas dessas mutações causaram os problemas de crescimento de Ata.

Nolan discorda: “Aquela pobre criança infelizmente apostou e perdeu sete vezes”, diz ele.

Mas seria difícil, se não impossível, decidir qual dos defeitos genéticos de Ata causaram seus sintomas. Isso porque os cientistas não têm informações sobre a família de Ata. Se tivessem acesso ao DNA dos pais de Ata, por exemplo, eles poderiam verificar quais mutações também estavam presentes em sua mãe e seu pai. Quaisquer mutações de Ata que também estivessem presentes nos DNAs de seus pais poderiam ser inofensivas, porque, diferente de Ata, seus pais viveram tempo o suficiente para gerar um bebê.

Apesar de ninguém saber nada sobre seus pais, Nolan acha que alguém cuidou de Ata quando ela morreu, cerca de 40 anos atrás. Ele aponta a maneira como ela foi colocada cuidadosamente no chão, envolvida em uma bolsa de couro.

“Ela não foi jogada fora; alguém achou que ela era importante. Era a filha dessa pessoa”, diz Nolan.

Como Jungers, Nolan agora quer que Ata volte para o Chile e possa descansar.

“Não acho que as pessoas devam traficar corpos humanos, dizendo que são alienígenas em nome de benefícios monetários”, diz Nolan.

Erika Check Hayden é diretora do Programa de Comunicação Científica da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. Siga ela no Twitter.

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