Quem eram as mulheres mais poderosas da História Antiga?

Enquanto o movimento #MeToo ganha cada vez mais força, pedimos a historiadoras que olhem para o passado para encontrar as lições de grandes personalidades políticas femininas.

Por Rachel Brown
Publicado 8 de mar. de 2018, 15:28 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Imagem de Cleópatra
Uma visitante do Centro de Ciência da Califórnia observa artefatos na exposição "Cleopatra, The Search for the Last Queen of Egypt". Famosa por sua influência sobre os homens mais poderosos de seu tempo, a rainha é uma das várias mulheres antigas que encontraram seus próprios caminhos para o poder.
Foto de Brian van der Brug, Los Angeles Times/Getty Images

Da política ao Oscar, o movimento #MeToo ("eu também", em inglês) joga luz à natureza do relacionamento das mulheres com o poder. Por que as posições tradicionais de poder ainda estão fechadas para muitas? Como as mulheres trabalham dentro desses sistemas (ou contra eles) para alcançar sua própria conquista?

Não é nenhum desafio encontrar mulheres inspiradoras fazendo um trabalho poderoso em algum lugar do mundo. Mas também vale explorar grandes nomes do passado da história humana que podem ter algo a ensinar mesmo hoje.

Embora os registros que nos chegam não sejam necessariamente uma imagem precisa de como era a vida há milhares de anos - em uma narrativa dominada por homens que escrevem sobre homens, as mulheres geralmente só aparecem quando foram difamadas - mas é certo que a história está repleta de mulheres poderosas .

Pedimos então a três historiadoras a opinião de como o poder das mulheres funcionou no mundo antigo, e quem era a melhor o exercendo.

Poder suave

"Muitas vezes, o poder é atribuído erroneamente apenas ao público, à esfera política", comenta Aneilya Barnes, professora de clássicos da Coastal Carolina University.

"Porque esse espaço é particularmente dominado pelos homens, o poder e os homens se equiparam. Eu estenderia isso para dizer que o poder é também influência ".

Cleópatra (69 a.C. – 30 a.C.), até como resultado de escritos antigos e filmes de Hollywood não tão antigos, exerce uma reputação de sedução por excelência. Última descendente da dinastia ptolemaica, que governou o Egito por quase 300 anos, Cleópatra assegurou sua posição - e a independência de seu reino - por sua influência sobre os líderes romanos Júlio César e Marco Antônio, alguns dos homens ocidentais mais poderosos da época ".

Segundo Barnes, o status de Cleópatra é atribuído de forma injusta e imprecisa apenas à sua sexualidade. Chamando essa ideia "absurda", a historiadora observa que "o acesso de César aos corpos femininos era infinito". Barnes sugere que o imperador ficou ao lado de Cleópatra contra o seu irmão/marido meio a uma quase guerra civil não porque ela era a mais sexy, mas porque "ele sabia que ela tinha o poder de tomar e segurar o trono".

Independentemente da sua sensualidade, sua estratégia de influência como força manteve o Egito inteiro em um tempo tumultuado - e garantiu sua reputação há milhares de anos.

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    Rainhas guerreiras

    Yurie Hong, professora associada de clássicos e estudos de gênero, mulheres e sexualidade na Universidade Gustavus Adolphus, adota uma perspectiva diferente.

    "O poder é mais frequentemente considerado como controle e autoridade", explica. "Embora a influência seja uma forma de poder, não é o mesmo que controle direto e autoridade sobre outros".

    Hong entende a rainha grega Artemísia I de Cária como um exemplo de poder do o século 5 a.C. Uma respeitada comandante naval, aliada dos persas contra os gregos, Artemísia aparentemente traiu seus próprios parceiros persas quando a derrota parecia iminente durante a Batalha de Salaminaem 480 a.C. No entanto, ela manteve a admiração tanto dos gregos quanto dos persas - especialmente o rei persa Xerxes, que elogiou sua astúcia e seguiu seu conselho, de acordo com o historiador Heródoto.

    Embora Artemisia possa ser mais famosa, Hong também aponta outras rainhas guerreiras, como o líder celta Boadiceia, que se rebelou contra a colonização romana da Grã-Bretanha em torno de 60 a.C, ou Tômiris, líder da tribo nômade Massagetas, da Ásia Central do leste do Mar Cáspio, que derrotou o rei persa  Ciro, o Grande em 530 a.C.

    Sobre Tômiris: “ela é minha favorita”, Hong reflete.

    O melhor dos mundos

    "O que faz sentido para nós como o poder não é sempre o que é o poder para as pessoas de outros tempos e lugares", alerta Amy Gansell, professora de história da arte na Universidade de St. John's.

    Na antiga cidade mesopotâmica de Suméria, por exemplo, existiam governantes semelhantes a rainhas e reis - embora o poder não estivesse apenas em suas mãos, mas espalhado sobre uma estrutura mais complexa de formas diretas e indiretas.

    "A relação entre o templo e o palácio poderia se sobrepor ao reinado, com figuras políticas e membros da família real de alto nível cultural", diz Gansell.

    Uma delas foi Enheduanna (2285 - 2250 a.C), uma princesa que se tornou a alta sacerdotisa de Ur, uma das cidades mais poderosas da Suméria. Seus poemas e orações sobreviventes fazem dela a primeira poeta conhecida com um nome gravado e cimentam sua influência como uma figura religiosa e literária - até mesmo política, pois seu trabalho se destinava especificamente a unificar as várias cidades-estados da Suméria.

    "Ela chama a atenção para o fato de que, no início, as mulheres seguramente tinham papéis fora da casa", explica Gansell. Respeitada e altamente pública, Enheduanna era "realmente poderosa, e não apenas em um domínio político: o ritual apoia a política e vice-versa".

    Um lugar à mesa

    Há muito o que aprender com essas mulheres antigas, este é apenas o começo da história.

    "Uma das questões ao olhar para mulheres poderosas na história", aclara Barnes, "é que ignoramos a importância das mulheres comuns e os papéis que desempenhavam diariamente em suas comunidades e famílias".

    E Hong aponta que, embora as mulheres individualmente possam ter ganhado prestígio, isso não necessariamente se traduz no empoderamento de outras mulheres. "Você poderia ganhar algum poder dentro da estrutura e optar por explorar, defender ou desafiá-lo. Mas desafiar esse status quo poderia fazer você perder o poder", lamenta ela.

    "Nós temos de mudar a maneira como pensamos para entender", acrescenta Gansell. "Quando as coisas começam a fazer sentido é quando temos que fazer mais pesquisas".

    Em última análise, continuar a questionar e aprender é a única forma de elevar as vozes tradicionalmente excluídas da história - todas aquelas cujos nomes podem não ter sido gravados, mas conduziram o mundo para o que é hoje.

    "Até que possamos preencher esses buracos maciços na história", diz Barnes, "essa narrativa nunca mudará".

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