Extinção em massa de tubarões foi impulsionada por mesmo asteroide que dizimou dinossauros

Ao estudar os dentes fossilizados de tubarões, pesquisadores descobriram que o mesmo asteroide que matou os dinossauros não aviários preparou o terreno para as espécies de tubarões existentes hoje.

Por John Pickrell
Publicado 8 de ago. de 2018, 11:53 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um dente fossilizado do Squalicorax, um tubarão assustador que podia chegar a quase cinco metros de comprimento e que foi extinto no fim do Período Cretáceo.
Foto de David Ward, The Natural History Museum

DINOSSAUROS, PÁSSAROS E pterossauros não foram as únicas espécies a sofrerem extinções em massa nas mãos de um asteroide que atingiu a Terra 66 milhões de anos atrás. Pesquisadores descobriram que uma extinção em massa de tubarões aconteceu em seguida, dizimando boa parte do que havia sido o grupo dominante desses predadores marítimos durante o período Cretáceo.

Enquanto os dinossauros aterrorizavam a terra, gigantes répteis marinhos e uma grande diversidade de tubarões patrulhavam os mares. Alguns desses tubarões, de um grupo conhecido como Anacoracidae, alimentavam-se de moluscos e répteis marinhos e, conforme relataram pesquisadores no periódico Current Biology, a perda dessas presas em consequência do asteroide pode ter sido um fator contribuinte para sua extinção.

Tubarões pré-históricos que se alimentavam de répteis marinhos foram extintos há 66 milhões de anos, quando sua fonte de alimentos, como o Mosasaurus, de 17 metros de comprimento exibido ao fundo, também desapareceu.
Foto de Illustration by Julius Csotonyi

“Mudanças sutis, mas importantes, podem ter preparado o terreno para o que veio a ser a propagação dos tubarões Carcharhiniformes, a ordem mais diversa de tubarões hoje”, disse o coautor do estudo, Nicolás Campione, paleontólogo da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale, Austrália. “Após o evento de extinção, os Carcharhiniformes se proliferaram, e acreditamos que mudanças na disponibilidade de alimentos tenham representado um papel importante em sua propagação”.

Esqueletos de tubarões são constituídos em grande parte por cartilagem, material que não fossiliza bem, tornando difícil o estudo de tubarões pré-históricos. Em vez disso, o grupo internacional de autores por trás do estudo se voltou para algo mais durável. Eles analisaram centenas de dentes de tubarões em depósitos fósseis deixados antes e depois do evento de extinção para determinar como a quantidade e formato dos dentes mudaram com o tempo. De maneira geral, dentes largos e triangulares indicam uma função cortante, útil para o consumo de presas grandes, enquanto dentes mais finos e alongados sugerem uma função de garra, importante para o consumo de peixes.

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    “Este estudo apresenta um argumento convincente para o estudo de tubarões e fósseis de tubarão como parte do evento de extinção no fim do Período Cretáceo”, diz William E. Bemis, curador de ictiologia do Museu de Vertebrados da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque, que não participou do estudo.

    “Os tubarões oferecem uma amostra das mudanças ocorridas nos sistemas marinhos. Com a extinção de grupos de répteis marinhos, alguns foram substituídos por mamíferos marinhos, enquanto peixes ósseos se propagaram explosivamente”, ele disse.

    Há dois grandes grupos de tubarões predadores hoje. Os Carcharhiniformes, que incluem o tubarão-cabeça-chata, o tubarão-tigre e o tubarão-martelo, são os mais numerosos, representados por mais de 250 espécies. E os Lamniformes, como o tubarão-branco, o tubarão-mako e o tubarão-mangona, que contam com apenas 15 espécies nos dias de hoje.

    Mas, durante o Período Cretáceo, essa predominância era contrária, com o grupo dos Lamniformes, especialmente um grupo diverso de espécies parecidas com o tubarão-branco chamadas de Anacoracidae, sendo mais numerosos que os Carcharhiniformes. Uma espécie em específico, assustadora e robusta, chamada Squalicorax, que podia chegar a quase cinco metros de comprimento, pode ter dependido de répteis marinhos gigantes para se sustentar.

    Pesquisadores analisam os dentes de tubarões pré-históricos, uma fonte mais confiável de informação do que o esqueleto dos tubarões, que são constituídos de cartilagem e não fossilizam bem.
    Foto de Mohamad Bazzi

    Espécies relativamente menores de plesiossauros e mosassauros, incluindo o Plioplatecarpus e o Prognathodon, eram presas fáceis para tubarões como o Squalicorax. Mas um dos répteis marinhos mais comuns ainda presentes no fim do Período Cretáceo era o Mosasaurus. Com 17 metros de comprimento, um Mosasaurus adulto provavelmente seria grande demais para se sentir ameaçado pelo Squalicorax. Na verdade, este superpredador pode ter sido ele mesmo o caçador de tubarões. Mas Campione diz ser provável que o Squalicorax tenha buscado mosassauros mortos ou caçado espécimes jovens de tamanho menor ou ao menos equivalente ao seu. Sua dieta também pode ter incluído muitas espécies grandes de lulas em conchas espiraladas, conhecidas como amonóides.

    Mas quando as grandes presas das quais dependiam os Lamniformes desapareceram subitamente após o impacto, elas levaram consigo os tubarões que delas se alimentavam. Acredita-se que aproximadamente 34% de todas as espécies de tubarões existentes na época tenham sido extintas. Muitos dos tubarões que, por fim, os substituíram eram espécies que se alimentavam de peixes, e que vieram a se tornar os ancestrais da maioria dos tubarões em nossos oceanos hoje.

    “A extinção no fim do Cretáceo foi o fim de muitos répteis marinhos e cefalópodes que teriam sido uma importante fonte de alimento para espécies da família dos Anacoracidae, como o Squalicorax” diz Camipone. “No entanto, o mundo pós-extinção viu a propagação dos peixes ósseos”. Assim, os Anacoracidae, que dependiam de grandes organismos marinhos para sobreviverem, não se saíram bem após a extinção, enquanto espécies que se alimentavam de peixes, como tubarões menores da família Triakidae, tiveram maior sucesso”.

    É interessante que a variedade em geral de formatos de dentes seja similar nas épocas antes e depois do evento de extinção no fim do Cretáceo, comenta Michael Coates, especialista em evolução de peixes da Universidade de Chicago. “Podemos dizer metaforicamente que o show teve de continuar, mas com elenco remodelado, com os substitutos pós-extinção ocupando os mesmos lugares antes ocupados pelas vítimas da extinção”.

    “É um bom estudo que acrescenta detalhes à imagem que fala sobre como grandes grupos de vertebrados sofreram e se recuperaram da extinção em massa no fim do Período Cretáceo” ele adiciona. “Inevitavelmente, o estudo está limitado aos registros dos dentes, uma vez que fósseis dos corpos dos tubarões são extremamente raros. Mas os dentes oferecem um útil indicador sobre quais espécies estavam presentes e perseveraram”.

    Por meio do estudo dos dentes, os pesquisadores “puderam observar uma amostra das vidas dos tubarões extintos”, diz Campione. Ao menos 50% das espécies de tubarões vivas hoje estão ameaçadas de extinção ou em declínio, então compreender o que levou às extinções de tubarões no passado pode oferecer uma maior clareza para prevenir que os de hoje tenham o mesmo destino, ele diz.

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