Estudo genético sugere que tiranossauro tinha olfato poderoso

Análise recente de genes modernos e cérebros pré-históricos corrobora a ideia de que o olfato do dinossauro carnívoro era invejável.

Por Michael Greshko
Publicado 20 de jun. de 2019, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O Tyrannosaurus rex, apresentado em uma ilustração, provavelmente tinha o olfato apenas um pouco menos intenso ...
O Tyrannosaurus rex, apresentado em uma ilustração, provavelmente tinha o olfato apenas um pouco menos intenso do que o de um gato doméstico moderno.
Foto de Illustration by Roger Hall, Alamy

Imagine inalar sua própria comida: o icônico predador Tyrannosaurus rex e seus parentes possuíam um dos mais aguçados olfatos dentre todos os dinossauros extintos, revela novo estudo. O artigo, publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society Bfoi uma tentativa de quantificar aproximadamente quantos genes estavam envolvidos nas habilidades de farejamento do T. rex, dezenas de milhões de anos após quaisquer traços de seu DNA terem entrado em decomposição.

A ideia de que os tiranossauros tinham um ótimo olfato não é nova. Já em 2008, por exemplo, pesquisadores mostraram que o T. rex e seus irmãos dedicavam grande parte do cérebro ao processamento de odores. Mas o novo estudo é o mais recente de um movimento crescente que correlaciona o DNA de animais vivos com seus corpos e habilidades sensoriais, com o objetivo de melhor compreender as habilidades e os comportamentos de seus parentes há muito extintos.

“Não é como o Jurassic Park”, diz o autor principal do estudo Graham Hughes, biólogo computacional da University College Dublin, referindo-se à famosa tentativa fictícia de reconstrução do DNA de dinossauros. “É tentar entender como a evolução sensorial é, na verdade, um componente importante para que se torne ou não um superpredador”.

“Recebo bem esse trabalho — parece que essa é mais uma contribuição para todos os trabalhos já realizados sobre esse assunto, nos quais usam-se pistas de genes e da morfologia para deduzir a função sensorial e ecológica de espécies extintas” diz Deborah Bird, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade de Califórnia, Los Angeles, que utilizou técnicas semelhantes para reconstruir o repertório de odores do extinto tigre-dentes-de-sabre, o Smilodon.

Farejando pistas

Hughes e seu colega, John Finarelli, paleontólogo-biólogo da University College Dublin, flertavam há muito tempo com a ideia de analisar os sentidos dos dinossauros — e focaram a pesquisa no olfato.

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“Qual era o odor do ambiente no período Cretáceo? Todo mundo fala sobre como seria o seu aspecto— mas qual seria o cheiro?”, questiona Hughes.

Para esse artigo, o par focou no formato geral dos cérebros dos dinossauros, que podem ficar parcialmente preservados como impressões nas superfícies internas de alguns crânios bem preservados. Determinar os detalhes pode ser pedir um pouco demais, mas felizmente os pesquisadores tinham referências vivas: as aves, os últimos dinossauros vivos.

Falando de forma geral, aves vivas com mais receptores olfatórios — proteínas que se ligam a moléculas específicas de odor — tendem a apresentar bulbos olfatórios, as regiões do cérebro que processam cheiros, desproporcionalmente grandes. Então, Hughes e Finarelli analisaram a literatura científica à procura de registros de tamanhos de bulbos olfatórios e mediram as proporções do tamanho do cérebro de 42 aves vivas, duas aves extintas, do jacaré-norte-americano e de 28 dinossauros não aviários extintos. Eles também rastrearam o DNA de diversas aves vivas, e então associaram todos esses dados com um estudo publicado anteriormente para criar um novo banco de dados de genes do receptor olfatório de animais vivos.

Quando os pesquisadores projetaram o modelo resultante de criaturas vivas em relação aos dinossauros, descobriram que o Tyrannosaurus rex provavelmente tinha entre 620 e 645 genes que codificavam seus receptores olfatórios, uma contagem de genes ligeiramente menor do que aquelas em galinhas e gatos domésticos de hoje. Outros grandes dinossauros carnívoros, como o Albertosaurus, também tinham um número alto de genes de receptores olfatórios.

Mas o cheiro não serve apenas para encontrar alimento. Os animais utilizam odores para reconhecer seus parentes, marcar territórios, atrair parceiros, detectar predadores e mais. Entre todos os vertebrados vivos, o recorde de maior número de genes receptores olfatórios fica com o elefante moderno, um herbívoro com cerca de 2,5 mil desses genes. Com um olfato tão requintado, os elefantes conseguem “contabilizar” a quantidade de alimento disponível apenas pelo cheiro.

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    Como era de se esperar, alguns dinossauros herbívoros mostravam evidência de maior dependência de cheiros do que alguns carnívoros. Um dos herbívoros que Hughes e Finarelli analisaram, o terópode Erlikosaurus, tinha genes de receptores olfatórios mais projetados do que o Velociraptor e muitos dos parentes do raptor. Mesmo assim, o T. rex e o Albertosaurus ainda tinham a melhor capacidade olfativa estimada entre todos eles.

    O cheiro do desconhecido

    Pesquisas futuras poderão analisar exatamente o que o T. rex e seus parentes cheiravam durante a era dos dinossauros. Os dados existentes permitem que Hughes e Finarelli deduzam determinados odores no repertório dos dinossauros, como sangue e vegetação genérica. Mas grupos inteiros de genes do receptor olfatório ainda não indicaram odores específicos.

    “É muito estranho o fato de termos tanta informação sobre como o cheiro funciona e tão pouca informação sobre qual cheiro se liga a qual receptor olfatório”, diz Hughes. “Talvez existam algumas empresas de perfumes que tenham essas informações confidenciais, mas, em termos de ciência, simplesmente não sabemos — é um dos grandes desafios da ciência”.

    Os pesquisadores dizem que estudos futuros também poderão detectar as perdas e ganhos inerentes da evolução sensorial ao longo do tempo, como o enfraquecimento do olfato em alguns mamíferos aquáticos à medida que seus ancestrais passavam a viver na água. Hughes diz que uma pesquisa semelhante poderia ser feita em dinossauros não aviários — uma pesquisa que cativou sua imaginação.

    “Eu adoro dinossauros desde que era criança”, conta, “então foi muito bom contribuir para a base de conhecimento geral sobre os dinossauros, mesmo que seja com algo pequeno”.

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