Descoberto gigantesco complexo cerimonial maia de três mil anos

Enorme plataforma conta com uma pirâmide e passou despercebida até ser detectada com a ajuda de lasers. Estrutura é a maior e mais antiga já descoberta na região maia.

Por Tim Vernimmen
Publicado 10 de jun. de 2020, 07:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Imagem em 3D da plataforma monumental da Aguada Fénix. A estrutura, construída 3 mil anos atrás, foi ...

Imagem em 3D da plataforma monumental da Aguada Fénix. A estrutura, construída 3 mil anos atrás, foi detectada por uma ferramenta de laser no ar conhecida como LiDAR.

Foto de Takeshi Inomata

Uma enorme plataforma de terra de três mil anos, coberta por uma série de estruturas, incluindo uma pirâmide de quase quatro metros de altura, foi identificada como a maior e mais antiga construção monumental descoberta na região maia, segundo artigo publicado no periódico Nature. É a mais nova descoberta que confirma a hipótese recente de que algumas das estruturas mais antigas construídas na região maia eram significativamente maiores do que aquelas construídas mais de um milênio depois, durante o Período Clássico dos maias (entre 250 e 900 d.C.), quando o império estava em seu auge.

A descoberta aconteceu no estado de Tabasco, no México, no sítio arqueológico de Aguada Fénix, a cerca de 1,3 mil quilômetros a leste da Cidade do México. Está localizada em uma região conhecida como planície maia, local do início da civilização maia.

Em 2017, pesquisadores realizaram um levantamento com o laser LiDAR que detectou a plataforma e ao menos nove vias ligadas a ela. A inovadora tecnologia a laser normalmente é utilizada em aeronaves para “visualizar” estruturas localizadas abaixo das densas copas das árvores, mas, nesse caso, revelou uma descoberta impressionante que passou despercebida e estava evidente nas propriedades rurais desmatadas de Tabasco durante séculos, se não milênios.

E por que um monumento tão descomunal em Aguada Fénix não foi encontrado antes?

“É bastante difícil explicar, mas, ao se entrar no sítio arqueológico, não se percebe a grandiosidade da estrutura”, afirma Takeshi Inomata, arqueólogo da Universidade do Arizona, autor principal do artigo. “Possui mais de nove metros de altura, mas as dimensões horizontais são tão grandes que não se percebe a altura”.

'RITUAIS QUE SÓ PODEMOS IMAGINAR'

Acredita-se que as primeiras construções da plataforma tenham começado por volta de 1.000 a.C., com base na datação por radiocarbono do carvão no interior do complexo.

Mas a ausência de prédios anteriores conhecidos em Aguada Fénix sugere que, ao menos até aquela época, as pessoas que viviam na região — provavelmente os precursores dos maias clássicos — se deslocavam entre assentamentos temporários para caçar e buscar alimentos, o que fez os pesquisadores especularem como e por que decidiram construir subitamente uma estrutura tão maciça e permanente.

Inomata estima que o volume total da plataforma e dos prédios em seu topo seja no mínimo de 3,6 milhões de quilômetros cúbicos, um tamanho ainda maior do que a maior pirâmide egípcia. Ele também calculou que seriam necessárias cinco mil pessoas trabalhando em período integral na construção durante mais de seis anos.

“Acreditamos que tenha sido um centro cerimonial”, conta Inomata. “Trata-se de um local de encontro, possivelmente utilizado para procissões e outros rituais que podemos apenas imaginar.”

Nenhuma construção residencial foi encontrada na estrutura ou ao seu redor; assim, não se sabe ao certo quantas pessoas podem ter morado nas proximidades. Contudo a grande dimensão da plataforma leva Inomata a concluir que os construtores de Aguada Fénix estavam abandonando aos poucos seu estilo de vida de caçadores-coletores, provavelmente em razão do cultivo de milho — evidências dessa transição também foram encontradas no local.

Vista aérea de Aguada Fénix sem o LiDAR mostra como o monumento "se esconde" em terras ...

Vista aérea de Aguada Fénix sem o LiDAR mostra como o monumento "se esconde" em terras de fazenda semi-florestada.

Foto de Takeshi Inomata

“O tamanho é impressionante”, afirma Jon Lohse, arqueólogo da Terracon Consultants Inc., que estuda os primórdios da história da região e não participou do artigo. Ele não acredita, no entanto, que a estrutura em si seja evidência de um estilo de vida de assentamentos fixos. “Construções monumentais feitas por povos nômades são comuns em todo o mundo.”

Lohse acrescenta que ficou demonstrada inquestionavelmente a avançada habilidade de cooperação entre pessoas, provavelmente de maneira fortemente igualitária que ele acredita ser normal nas sociedades primitivas da região maia. Inomata concorda e acredita que a plataforma foi construída por uma comunidade que não tinha forte hierarquia social.

Como um possível indício disso, Inomata aponta para o centro cerimonial ainda mais antigo de San Lorenzo, quase 400 quilômetros a oeste em uma região colonizada na época pelo povo olmeca. Construído pelo menos 400 anos antes de Aguada Fénix, San Lorenzo possui uma colina artificial em terraços que pode ter tido uma função semelhante, mas possui estátuas humanas colossais que podem indicar que alguns dispunham de um status na sociedade mais elevado do que outros.

Pode parecer provável que as pessoas que construíram Aguada Fénix tenham se inspirado em San Lorenzo, porém Ann Cyphers, arqueóloga da Universidade Nacional Autônoma do México, que trabalhou em San Lorenzo, considera os locais “bastante distintos”, acrescentando que a cerâmica encontrada também é muito diferente da encontrada na Aguada Fénix.

UM TABULEIRO DE TERRA COLORIDA

Então, qual poderia ter sido o propósito de empreender um projeto de construção comunitário tão amplo? Verónica Vázquez López, coautora do estudo, da Universidade de Calgary, acredita que pode ter sido uma declaração de intenções: uma cooperação formal para reunir diferentes grupos de pessoas ao longo de várias gerações.

Algumas características de Aguada Fénix parecem sugerir essa cooperação, como um depósito de preciosos machados de jade que podem ter simbolizado a finalização do projeto de construção em conjunto. Os arqueólogos também notaram que algumas das camadas de terra empregadas para construir a plataforma foram depositadas em um padrão quadriculado de diferentes cores de terra, o que pode ter simbolizado a contribuição de diferentes grupos.

“Aqueles que moram em bairros diferentes de algumas cidades mexicanas limpam sua parte da praça central da igreja até os dias de hoje”, observa Vázquez López.

Em 750 a.C., a estrutura monumental de Aguada Fénix foi abandonada e, no Período Clássico dos maias, mais de mil anos depois, os moradores da região construíram pirâmides mais altas que se tornaram acessíveis apenas à elite sobre plataformas muito menores, com espaço reduzido para comunidades maiores se reunirem.

“Nos primórdios, as pessoas ficaram muito empolgadas”, afirma Inomata. “Mais tarde, já estavam um pouco menos entusiasmadas.”

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