Festival de Pipas: cor e magia enfeitam o céu de Bali
Um homem observa o voo das tradicionais pipas bebean durante o Festival de Pipas de Bali, em Sanur, uma região de praia da ilha indonésia. Bebean, uma pipa em forma de peixe, é uma das mais populares. Todos os anos, o festival que celebra a tradição de pipas de Bali atrai equipes da ilha e do mundo inteiro.
No final de maio, os ventos começam a aumentar sobre a ilha de Bali, na Indonésia, e o céu se enfeita com cores vibrantes, que anunciam a chegada da temporada de pipas. É um passatempo de verão que evoca lembranças alegres da infância do fotógrafo balinês Putu Sayoga.
Quando criança, ele observava os meninos mais velhos puxando pipas pelos campos de arroz perto de sua aldeia, Tunjuk, após a época da colheita. Às vezes, eles deixavam Sayoga empinar uma pipa, e ele olhava com inveja enquanto ela dançava no céu. Ele tentou fazer sua própria pipa, mas penava para moldar as varas de bambu para segurar o papel colorido. Um menino mais velho que tinha aprendido a fazer pipas com seu pai e seu tio ajudou Sayoga e seus amigos, e criou para eles uma pipa em forma de peixe, chamada de Babean, considerada a mais fácil de voar.
Made Dwi Sastrawan corre com uma pipa no campo de arroz em Tunjuk, uma vila na ilha de Bali, na Indonésia. Os papagaios de papel estão ligados à religião hindu e têm sido parte integrante da cultura balinesa.
Made Agus Ariandika posa para uma foto com suas pipas em um campo de arroz fora da vila de Tunjuk.
Komang Windu posa para um retrato com uma pipa no campo de arroz em Tunjuk, Tabanan, Bali, Indonésia.
Quando não havia vento – que raramente soprava pelos campos com tanta força quanto nas praias – os meninos assobiavam alto para Rare Angon, o deus hindu reverenciado pelos empinadores de pipas. De acordo com a lenda, sua flauta mágica atrai o vento. Diz-se que as pipas que dançam nessas rajadas ajudam os agricultores a manter as pragas longe de suas colheitas.
No início dos anos 1990, quando Sayoga era criança, não havia muito mais o que fazer nas longas tardes de verão. “Não tinha telefones celulares naquela época”, lembra ele, rindo.
Um grupo de músicos toca em uma orquestra tradicional de gamelão durante o Festival de Pipas em Bali, que acontece quase todos, desde 1978. O gamelão é frequentemente tocado durante a competição para motivar os empinadores de pipa.
Diferentes aldeias de Bali enviam equipes para competir no Festival de Pipas da ilha. Aqui, membros de uma aldeia chamada Dangin Peken carregam sua pipa janggan para participar do festival na praia de Mertasari.
Na década de 1970, os visitantes estrangeiros começaram a chegar em massa às praias de areia branca de Bali, e em 1978, a ilha lançou um festival anual de pipas nas populares praias de Padang Galak e Mertasari, que rapidamente se transformou em uma grande competição. Dezenas de equipes de vilarejos próximos e visitantes que aprendem a construir e empinar pipas no estilo balinês se esforçam para ser os melhores da ilha.
Há quatro estilos de pipa que voam no festival: o pássaro ornamentado de cauda longa ou dragão; o peixe, talvez o mais popular; e a folha, considerada a mais difícil de voar devido ao seu formato curvo. O quarto tipo de pipa fica aberto à interpretação, e os participantes podem adaptar a cultura e a história balinesa para o céu. Os juízes avaliam cada equipe pela estética da pipa, seu ngonyah – a suavidade com que ela se move com o vento – e sua sutileza para pousar.
Made Semara Putra (esquerda) e Putu Agus Adi Setiawan montam uma pipa bebean em um campo de arroz fora da vila de Tunjuk. Bebean, a pipa tradicional em forma de peixe, é popular em Bali e é considerada a mais fácil de voar.
Made Dwi Sastrawan desenrola a corda no carretel antes de empinar sua pipa.
Dois membros do júri, Made Suparta Mogeh (esquerda) e Sudana Koki, avaliam o voo de uma pipa na competição internacional. A maneira como a pipa dança no céu, seu desenho e como ela pousa estão sob escrutínio durante o concurso.
De moto, Agus Susandi Partayana leva sua pipa bebean da vila de Tunjuk.
Com a pandemia da Covid-19, o festival foi interrompido. Os seis milhões de estrangeiros que visitavam Bali anualmente desapareceram, e a economia entrou em colapso. Mas na ausência de turistas, Sayoga redescobriu a beleza de empinar a pipa improvisadamente. É uma atividade barata ao ar livre e, no ano passado, ele começou a fotografar seu passatempo.
Um dia, Sayoga viu uma festa colorida no alto. Descendo uma pequena estrada lateral, ele encontrou um festival clandestino. A polícia tinha expulsado os empinadores da praia, então, eles se mudaram para um arrozal discreto. Sayoga perguntou se ele podia documentar e eles concordaram – desde que ele apontasse sua lente para as pipas, e não para seus rostos.
Nyoman Padmi Triyanti posa para uma foto com uma pipa em Renon. Ela é membro da Srikandi, única equipe feminina de pipas em Bali.
Wayan Sunariasia empina pipa com seu irmão na aldeia de Padang Sambian. Ela também é membro do Srikandi, o coletivo feminino de pipas.
Neste ano, o festival oficial de pipas voltou às praias de Bali, mas também continuaram os festivais informais, como o que Sayoga fotografou. Para ele, que há muito evitava os festivais superlotados ainda antes da pandemia, esses encontros íntimos o ajudaram a redescobrir o entretenimento que adorava quando criança: ver seus amigos e vizinhos aproveitando os ventos. Agora, quando ele assiste as pipas voando, ele deixa sua câmera em casa.
“Na semana passada, visitei um pequeno festival”, diz ele. “E eu fui só por diversão.”
Turistas observam pipas subindo ao céu durante o Festival de Pipas de Bali, que foi retomado neste ano após uma interrupção devido à pandemia da Covid-19. Locais e estrangeiros participam e competem no concurso.
Putu Sayoga é um fotógrafo documental baseado na ilha de Bali, na Indonésia. Ele explora temas de história, cultura, política e meio ambiente em seu trabalho. Siga-o no Instagram.