O oceano está cada vez mais ácido – O que isso realmente significa?

Devido às emissões de carbono, os mares estão mudando e isso está colocando em risco uma grande parcela da vida marinha.

Por Eric Niiler
Publicado 20 de jun. de 2018, 12:10 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um planador autônomo flutua a duas milhas de Atlantic City, depois de ser liberado por uma ...
Um planador autônomo flutua a duas milhas de Atlantic City, depois de ser liberado por uma equipe da Rugers University. Pesquisadores estão usando o planador para amostrar pH oceânico para ajudá-los a entender como o aumento de dióxido de carbono na atmosfera está aumentando a acidez da água.
Foto de Eric Niiler

Grace Saba se equilibra na parte de trás de um barco enquanto ela e sua equipe lançam um torpedo amarelo de 1,80 m no mar. Há uma comemoração quando o dispositivo aparece, liga seu sinal eletrônico e começa sua jornada de três semanas na costa de Nova Jersey.

“Levou sete anos para fazer isso”, diz Saba, que está trabalhando nesse experimento desde 2011. “Estou tão feliz que acho que vou chorar!”.

Saba é professora assistente de ecologia marinha na Rutgers University, onde ela estuda como os peixes, mariscos e outras criaturas estão reagindo aos níveis crescentes de acidez no oceano. A acidificação é uma consequência da mudança climática: um experimento da vida real lento, mas exorável, onde emissões industriais de dióxido de carbono na atmosfera são absorvidas e depois passam por reações químicas no mar. O aumento da acidez do oceano já branqueou os corais da Flórida e matou ostras valiosas no noroeste do Pacífico.

Agora, cientistas como Saba querem saber o que pode acontecer com animais que vivem no nordeste, uma região que tem peixes de valor comercial, mariscos quahog selvagens, vieiras e mariscos conhecidos como “surf clams”, que não podem nadar para fugir de águas ácidas.

“Eles estão presos lá”, explica Saba.

O instrumento de Saba, parecido com um torpedo, é na verdade um drone submarino, conhecido como planador Slocum, que carrega um sensor de acidez do oceano. Essa é a primeira vez que oceanógrafos uniram duas tecnologias – planadores e sensores de pH – para ter uma visão mais ampla das mudanças que estão ocorrendo na área importante para a pesca comercial no nordeste dos Estados Unidos.

O planador vai viajar 209 quilômetros de Atlantic City até a extremidade da plataforma continental, ida e volta. Ele vai realizar uma série de mergulhos ao fundo do mar, medindo a temperatura da água, salinidade e pH. O planador vai passar para Saba e seus colegas dados sobre a mudança química da água mais rápido do que os testes que são conduzidos a cada quatro horas pelas embarcações oceanográficas de alto mar.

Ácido crescente

Saba e a aluna de Rutgers Liza Wright-Fairbanks têm a esperança de comparar as medições de pH do oceano às áreas de desova dos peixes costeiros. Larvas de peixes e moluscos em desenvolvimento são mais vulneráveis ao aumento da acidez.

“Não sabemos muito sobre o pH em toda a coluna de água, especialmente aqui na Costa Leste, onde ocorre a pesca comercial”, comenta Wright-Fairbanks. “Eles trazem tanto dinheiro ao país, mas se os animais não sobreviverem, os pescadores também não sobrevivem”.

Cientistas dizem que os níveis de pH dos mares do mundo já caíram – em média de 8.2 para 8.1 na escala de pH (números mais baixos são mais ácidos). É uma queda de 26% no último século (porque a escala de pH é logarítmica). Mas, conforme o oceano absorve mais emissões industriais de dióxido de carbono, o pH deve chegar a 7.7 até o final do século, de acordo com Aleck Wang, professor de química marinha na Woods Hole Oceanographic Institution.

O resultado é que, até 2100, “vocês começarão a ver conchas de carbonato de cálcio se dissolverem”, observa Wang. “Não vai demorar tanto assim”. Matando organismos tão importantes quanto corais, ostras e muitos plânctons, águas ácidas podem desequilibrar a cadeia alimentar do oceano.

Pescadores do Golfo do Maine já estão vendo mudanças sazonais na acidez do oceano, que podem um dia ameaçar a colheita de frutos do mar que vale mais de US$600 milhões para a economia do Maine. Mais ao sul, na região do Atlântico, pescadores também se preocupam com o futuro.

“Estamos todos tentando descobrir qual será o melhor caminho daqui para frente”, conta A.J. Erskine, dono de uma incubadora comercial de ostras no Rio Potomac na Virginia. “Não sei se há uma solução, mas quanto mais dados tivermos, mais conhecimento teremos. Se não tivermos informações sobre o pH, como trataremos dele?”.

Erskine faz parte de um grupo de pescadores, cientistas e gestores estaduais de pesca chamado Mid-Atlantic Coastal Acidification Network que pede mais pesquisas e atenção ao problema. Cientistas da University of Delaware e NOAA lançaram a primeira boia permanente para medir os níveis de dióxido de carbono em Chesapeke Bay, o maior estuário do leste dos Estados Unidos. A boia ancorada vai ajudar os pesquisadores a descobrir se a baía suporta mais CO2 da atmosfera ao mesmo tempo que lida com a poluição gerada por fazendas e fábricas em seu entorno.

Em outra tentativa de estudar a acidificação, pesquisadores da National Oceanic and Atmospheric Administration lançaram drones de superfície de sete metros alimentados por velas nos oceanos Pacífico e Ártico para colher dados de vento, temperatura e acidez. Eles esperam usar os drones móveis para substituir boias de superfície que ficam ancoradas no fundo do oceano.

Enquanto alguns cientistas tentam desenvolver corais que sejam mais resistentes a águas ácidas, Eskine diz que uma solução pode ser encontrar ostras, mariscos e outros peixes que também sejam resilientes.

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    Grace Saba, de Rutgers, colhe amostras de água para entender melhor a mudança no oceano.
    Grace Saba, de Rutgers, colhe amostras de água para entender melhor a mudança no oceano.
    Foto de Eric Niiler

    “Podemos fazer isso manipulando os tanques na incubadora”, diz Erskine. É claro que isso só funciona para fazendas ou espécies criadas em incubadoras. “É mais difícil quando falamos de Chesapeke Bay ou do Golfo do Maine.”

    Apostando no futuro

    De volta ao barco, Saba, Wright-Fairbanks e o professor de pesquisa de Rutgers, Travis Miles, passam a manhã no mar testando o planador Slocum. Eles querem garantir que os instrumentos estejam funcionando perfeitamente antes de colocá-lo no piloto automático e manda-lo em sua missão ambiental. A cada curva, eles lançam no mar uma pequena garrafa cinza de plástico presa por uma corda para colher amostras de água, conhecidas como CTD. Essas medições antigas de qualidade da água são comparadas às do planador.

    Depois que a equipe de Rutgers solta o planador, o barco de 14 metros volta ao porto perto do Casino Golden Nugget em Atlantic City. Wright-Fairbanks está apenas começando seu PhD em Rutgers, e esse experimento de acidez do oceano vai compor os estudos para sua tese ao longo dos próximos anos.

    Ela lembra de ser mordida pelo bichinho da ciência quando estava no segundo grau. Durante um acampamento de ciências nas Bahamas, Wright-Fairbanks conduziu um experimento onde os peixes podiam escolher entre nadar em um tanque com água ácida ou em um tanque adjacente com um tubarão faminto.

    “A maioria escolheu o tubarão”, diz Wright-Fairbanks.

    Para esses cientistas, está claro que o oceano está mudando mundialmente com aumento de temperaturas e acidez. Seu trabalho pode ajudar a responder perguntas sobre quais espécies vão sobreviver, quais vão migrar para habitats mais amenos e quais passarão a existir apenas em nossas memórias.

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